Ética pela vida – por Orlando Fonseca

No Reino Unido – poderia ser no reino ideal – o ministro da saúde cai do posto porque foi pego em flagrante, contrariando os protocolos sanitários, em face da pandemia do coronavírus, estabelecidos por sua pasta. No Reino Unido – e poderia ser no reino-modelo – a simples foto do administrador beijando uma colega de trabalho, publicada por um tabloide, foi capaz de produzir a mudança radical no governo do Primeiro-Ministro, do partido conservador, diga-se de passagem. E mais, não foi nem preciso que Boris Johnson mandasse o amante pego, digamos, com a mão boba na massa; ele mesmo pediu para sair.
Esse é o diferencial importante de um país em que a ética está na frente dos interesses ideológicos ou partidários. Essa é a diferença entre um país em que a vida está em primeiro lugar, e outro em que os interesses econômicos são a prioridade. Aconteceu na Inglaterra, mas poderia ser uma fábula exemplar de como se administra a decência, como se preserva a dignidade da cidadania. E olha que estou falando de um país em que o liberalismo ganhou status de cartilha para o progresso das nações. Também não estou tocando no direito de o ministro da saúde dar vazão à sua libido, porque, no fundo, ninguém teria nada com isso, a não ser a sua esposa – inocente (?) no caso. Mas foi por lá que se difundiu o neoliberalismo, conduzido por Margareth Thatcher, e por outro lado, é lá também que algumas das maiores Universidades do mundo produzem robustas razões para se crer na ciência. Lugar onde as pessoas jamais teriam vergonha de se confrontar com o pensamento socialista, por exemplo, de Stephen Hawking, Eric Hobsbawn ou Zigmunt Bauman. Então, o contraste com o que vivemos no Brasil é tão flagrante que é preciso dar a devida ênfase. Só não vê quem prefere adorar mitos.
Nas últimas semanas, em que a CPI Covid faz revelações tão bombásticas que fazem o beijo do ministro britânico parecer coisa de adolescente, tivemos duas imagens estarrecedoras do presidente do Brasil – democraticamente eleito. Não fosse o nosso país o segundo no tenebroso ranking de mortes pela Covid, e o fato poderia ser considerado de menor importância. Em uma delas, pede para uma menina, que lhe faz uma homenagem, para que tire a máscara. Em outra ocasião, puxa a máscara de uma criança que está em seu colo. Fico imaginando o que não fariam os tabloides ingleses com o conteúdo gerado pela administração federal. A verdade é que a imprensa brasileira pega muito leve com as barbaridades todas que estamos vendo, pelo menos os mais atentos, que aprenderam a ler nas universidades.
E aí temos uma situação inquietante, ao ouvirmos a manifestação de um senador da República de que sente vergonha de haver estudado na UFSM, por causa das ideias esquerdistas que observou na instituição, nos anos 70. Salvo o fato de que, naquela ocasião se vivia uma ditadura promovida pelo exército e pela direita (só para afirmar que o conflito com a oposição seria inevitável), ouso dizer que as universidades têm produzido mais pensamento conservador do que progressista. E falo com a experiência de ter vivido quatro décadas dentro de uma, e pelo ambiente do ensino superior no país, como sindicalista e como gestor. A questão principal, o que aumenta o contraste com o Reino Unido do defenestrado ministro beijoqueiro, é que em nosso Brasil o conservadorismo só pode estar se confundindo com burrice. Por isso o ataque às universidades, não por razões ideológicas, mas porque estas instituições têm uma virtude: ensinam a pensar. E pensar significa colocar as opiniões e argumentos em bases racionais. Com a banalização do debate através de mitificações e do senso comum, tudo o que parece ser fundamentação científica, filosófica ou histórica recebe o rótulo de esquerdismo. Os estragos da falta de estudos – não apenas a de verbas para a ciência e a tecnologia – vão deixar uma longa convalescença para o Brasil pós-pandemia. Porque as sequelas, como se vê, são grandes, uma vez que o genocídio não decorre apenas da eliminação por armas, senão também, silenciosamente, por omissão ou incúria. Os entendedores entenderão.
(*)Orlando Fonseca é professor titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura e Mestre em Literatura Brasileira. Foi Secretário de Cultura na Prefeitura de Santa Maria e Pró-Reitor de Graduação da UFSM. Escritor, tem vários livros publicados e prêmios literários, entre eles o Adolfo Aizen, da União Brasileira de Escritores, pela novela Da noite para o dia.
Universidades ‘ensinando a pensar’ é um chavã, muito longe da realidade. Parece que os alunos entram de quatro pés pastando e saem em dois pés escrevendo teses. Sem mencionar os ‘doutores’ de diversas instituições que aparentemente encontraram a laurea num pacote de sucrilhos.
‘tudo o que parece ser fundamentação científica, filosófica ou histórica recebe o rótulo de esquerdismo’: obvio que não. A raiz da doutrinação (que não acontece em todo curso) é tentar vender o esquerdismo, doença infantil segundo Lenin, como unica fundamentação historica, filosofica ou cientifica possivel. Basta ver as bibliografias nos programas de disciplinas de certos cursos.
Tem mais. Bolsa de doutorado da CAPES no Brasil é R$2200 reais mensais pelo prazo maximo de 48 meses. Mais que uma casa simples do programa ‘Minha Casa Minha Vida’. Uma bolsa de doutorado da CAPES no exterior tem valor de 1400 dolares. Mais taxas academicas, seguro saúde, passagens aereas e outros penduricalhos. Pais vai gastar este tipo de recursos em teses sobre feminismo, direito, estudos de midia? Cursos cujo unico retorno para a sociedade é a formação de gente com função de produzir mais teses sobre os mesmos assuntos? Resumo da ópera é simples: existe produção academica seria no pais, mas existe muito parasitismo e masturbação mental. Para felicidade de uns e infelicidade de outros é problema que se resolve sozinho com a decadencia.
Ditadura militar da decada de 70 evitou uma ditadura de esquerda. Obvio.
Conservadorismo confundido com burrice? Aposto 500 mil Bolivares Soberanos Venezuelanos que não. Afinal, são os regimes de esquerda que sempre dão com os burros na parede. Alás, os fundadores da UFSM não eram de esquerda, muito pelo contrário. Alás, Doutor Mariano ajudou a criar a primeira universidade federal no interior. Tudo leva a crer que tentou trazer o mundo para a aldeia. Devia saber que o isolamento geografico poderia ter efeitos deletérios. Hoje o que se ve é uma mentalidade de auto-suficiencia, de confiança extremada (descolada da realidade) nas proprias qualidades. Uma procura de qualquer noticia que possa ser interpretada como ‘boa’ para mostrar o ‘valor’. Só esquecem que a comparação com outras instituições está na ponta dos dedos, já não é como era antes.
Senador criticou a ideologia de esquerda que atualmente existe. Obvio que pouco tem a ver com a produção academica. Onde tentaram fazer uma lista com pesquisadores de Israel com ‘finalidades de boicote’ para apoiar a causa palestina? Onde o então candidato Molusco com L. foi recebido pelo Reitor com segurança feita por uma SA de gorro vermelho? Onde um professor de odontologia foi agredido?
Daí cabe uma fábula. Meados da década de 90. Na Universidade Federal de Brandolandia um professor dá aula para 40 alunos,digamos, de ‘biologia’. Por ‘motivos imponderáveis’ (não era doutrinação, óbvio) o assunto descamba para politica. Um aluno contraria o docente. Discutem. No final do semestre uma única pessoa pega exame. Uma única pessoa reprova. Quem? Quem? Quem? Décadas depois o docente vira juiz do caráter alheio. Moral da fabula: um filme de meados da decada de 90 ‘Eu sei o que voces fizeram nos verões passados’.
Ministro não caiu por conta de protocolos sanitários. Obvio. Basta ler os jornais britanicos e agencias de noticias (Reuters por exemplo). Ele estava sendo investigado por utilizar o email oficial para assuntos particulares. Também não era uma ‘colega de trabalho’, era uma mulher que ele nomeou para cargo de confiança. Os protocolos estão mais frouxos no Reino Unido e, até por isto, Portugal não admite entrada de britanicos que não comprovem duas doses de vacina.
Socialismo não funcionou em lugar algum, o ‘pensamento’ é livre, na prática não funciona. Simples.
CPI do Senado tem como relator Renan Calhordas. O mesmo teve que renunciar a Presidencia do Senado pela acusação de receber dinheiro da Mendes Junior para sustentar a pensão da amante e da filha. Amante que é (ou era) jornalista. Exemplo do que ocorre entre politicos e a imprensa em BSB.