Lavar, passar, cozinhar e gargalhar – por Bianca Zasso
Esta colunista é daquelas que alivia o stress na beira do tanque ou munida de uma boa vassoura. Faxinar a casa é um santo remédio que eu recomendo para todos. Mas como nem todos os dias são de Maria, tem horas que uma doméstica de mão cheia é a salvação da bagunça da casa. Só que mesmo com suas mãos de fada para a limpeza e a organização, muitas dessas moças que fazem do rodo e do pano de chão seus instrumentos de trabalho passam despercebidas ao olhar de muitos que desfrutam do piso limpinho e do banheiro cheiroso.
Empregada doméstica é um ofício necessário mas é o sonho de poucas. Ou será que estamos enganados? O que sonham as domésticas? Quais suas preocupações para além das casas das patroas? Os talentosos Fernando Meirelles e Nando Olival resolveram arregaçar as mangas e colocar como protagonistas as meninas da limpeza e responder algumas dessas dúvidas. O resultado é uma graça, em todos os sentidos.
Domésticas – O filme, lançado em 2001, é inspirado na peça teatral homônima que narra a trajetória de cinco brasileiras que têm em comum a profissão de garantir a ordem da casa. Cida, Roxane, Quitéria, Raimunda e Créo vieram de diferentes lugares do Brasil, pensam de maneira distintas e encaram a profissão das mais variadas formas. Tem a que acha que ser doméstica é destino e a que só pensa em mudar de vida e virar estrela de TV.
Seria mais um filme sobre uma profissão menosprezada, não fosse o cuidado dos diretores e da equipe de montagem, que criou um quebra-cabeça cheio de ritmo e bons diálogos, embalado por clássicos do cancioneiro das rádios AM do país. Afinal, faxina sem radinho ligado não é a mesma coisa. As músicas de Lindomar Castilho, Sidney Magal e Odair José garante uma dose extra de emoção e alegria às cenas.
Ao invés de cair no clichê sociológico de tentar traçar um panorama de quem são as domésticas, o filme segue à risca o gênero que se propôs a fazer parte, a comédia. O objetivo principal da produção é divertir, fazer o público gargalhar e se identificar em alguns momentos com as histórias, os sotaques e as durezas de cada uma das personagens. Domésticas – O filme, não se leva a sério, não quer ser uma película de denúncia. Seu objetivo é colocar como protagonistas quem sempre esteve como coadjuvante, provando que nem só as patroas rendem uma produção.
Meirelles e Olival deram um zoom naquela que passava lá no fundo da cena, tirando o pó dos móveis. Vamos lá, conte quem você é, o que você quer, o que gosta e o que deseja. Algo simples, nada pejorativo ou caricato. Esqueça aquela doméstica de novela, uniformizada e que só aparece para servir café às visitas. As domésticas deste filme dão duro, arrastando o chinelinho atrás das crianças e escovando limo de azulejo. Nada charmoso. Um teste de vaidade para as atrizes que aparecem em cena pintando o cabelo de um modo bem caseiro, lixando as unhas e usando penteados e figurinos dignos de um domingo solitário em casa.
Não há espaço para Cinderelas. Aliás, elas não existem e o filme deixa isso bem claro. Talvez esse seja o grande mérito do filme, não esconder o que estas mulheres fazem, não maquiar o leão que elas matam todo dia. Isso as torna ainda mais heroínas, já que todos sabemos que não precisa capa e coroa para ser uma mulher maravilha. Elas também não se fazem de coitadas. As patroas chatas são comentadas sem piedade e a sujeira exagerada vira conversa na mesa do bar, nos poucos mas muito bem aproveitados momentos de lazer das meninas.
Os coadjuvantes, neste caso, foram as vassouras, baldes, pano de chão, de prato, rodo e espanador. O espectador mal percebe a presença deles, de tão interessantes que são as mulheres que os seguram, com força, na busca de uma casa em ordem. Uma casa que não é a sua e, quando é, seu canto é menor que o menor dos quartos dos filhos do patrão. Mas pouco importa. Os sonhos e os amores que acontecem lá nos fundos é que interessam.
Domésticas- O filme
Direção: Fernando Meirelles e Nando Olival
Ano: 2001
Disponível em DVD
ATENÇÃO
1) Sua opinião é importante. Opine! Mas, atenção: respeite as opiniões dos outros, quaisquer que sejam.
2) Fique no tema proposto pelo post, e argumente em torno dele.
3) Ofensas são terminantemente proibidas. Inclusive em relação aos autores do texto comentado, o que inclui o editor.
4) Não se utilize de letras maiúsculas (CAIXA ALTA). No mundo virtual, isso é grito. E grito não é argumento. Nunca.
5) Não esqueça: você tem responsabilidade legal pelo que escrever. Mesmo anônimo (o que o editor aceita), seu IP é identificado. E, portanto, uma ordem JUDICIAL pode obrigar o editor a divulgá-lo. Assim, comentários considerados inadequados serão vetados.
OBSERVAÇÃO FINAL:
A CP & S Comunicações Ltda é a proprietária do site. É uma empresa privada. Não é, portanto, concessão pública e, assim, tem direito legal e absoluto para aceitar ou rejeitar comentários.