Caso grampesco. Numa análise minimamente sensata, jornalista, em outras palavras, desconfia
Tem horas, assim, como diria um amigo, que falta talento. Menos mal que há quem o tenha de sobra para explicar algumas coisas que acontecem no Brasil, e especialmente com a mídia grandona. Inclusive de dentro dela. Confira, por exemplo, o que um sensato (e arguto) articulista da Folha de São Paulo (não é do jornal de Cacimbinhas, por certo), escreve. É o que gostaria, se pudesse, ter publicado. No caso, Fernando Barros da Silva, na edição desta segunda-feira. Confira:
Muito além dos grampos
SÃO PAULO – Eu desconfio muito dos veementes, dizia Nelson Rodrigues, ele próprio o mais hiperbólico dos nossos escritores, a quem nunca faltou, como tempero da vocação trágica, o veneno da ironia. E como toda unanimidade não é apenas burra mas sobretudo perigosa, desconfiemos dos veementes.
No caso, dos que estufam o peito para nos alertar que o Estado de Direito está sob ameaça, o que tem ocorrido sempre que alguém da turma da cobertura vai preso.
Quantos condenados existem hoje no país que já cumpriram sentença, mas seguem em cana? Alguns milhares. E quantos mofam no xilindró à espera de julgamento, em prisão temporária ou preventiva? Estima-se que 30% da população carcerária, algo como 150 mil pessoas. Quem se escandaliza?
Nem todos têm a mesma opportunity (*) perante o STF. Foi preciso que os arbítrios da polícia chegassem ao topo do edifício social para que os arautos da legalidade começassem a se movimentar, veementes, indignados. Em pulso de preto, algema nunca foi abuso, mas pulseira de luxo. Está certo Joaquim Barbosa quando diz que certa elite monopoliza a agenda do Supremo.
Sim, é grave, é gravíssimo o grampo contra Gilmar Mendes. E também muito estranho: é a primeira vez que a revelação do conteúdo de uma escuta telefônica ilegal é boa para os dois grampeados.
Muito se falará ainda desse caso. Por ora, há coisas nebulosas e muitos interesses em jogo a serem esclarecidos. A Abin terá de se explicar. É provável que rolem cabeças.
Sobre o delegado Protógenes e seus métodos, vale repetir: o inquérito que comandou é obtuso, leviano e flerta com a delinqüência em várias das suas conclusões.
Tenhamos isso sempre em mente. Mas sem permitir que, em nome da boa causa contra as ilegalidades da polícia, os veementes invoquem uma hipotética ameaça institucional para preservar privilégios e perpetuar a impunidade de uma casta que vive zombeteira acima da lei, como é óbvio ululante há 500 anos.
ADENDO CLAUDEMIRIANO: (*) O grifo claudemiriano é para chamar a atenção para algo que, talvez, não tenha sido notado pelo leitor. A palavra em inglês opportunity é também o nome do grupo que tem como principal controlador o grã-fino Daniel Dantas, que por obra e graça de um hábeas-corpus concedido por Gilmar Mendes, ficou menos de 48 horas na cadeia, naquilo que tenho chamado de caso dantesco
SUGESTÃO DE LEITURA – confira aqui, se desejar, também outras notas, análises e reportagens do sítio editado por Luis Nassif.
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