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CRÍTICA. FeridaCalo: produto e processo. Espetáculo empolgante, que faz justiça à inspiradora, Frida Khalo

“FeridaCalo”, que emocionou o público, semana passada, no Campus da UFSM, tem apresentação especial hoje, no Museu de Artes de Santa Maria, na Avenida Presidente Vargas. E é gratuito para a população (foto Dartanhan Baldez Figueiredo)
“FeridaCalo”, que emocionou o público, semana passada, no Campus da UFSM, tem apresentação especial hoje, no Museu de Artes de Santa Maria, na Avenida Presidente Vargas. E é gratuito para a população (foto Dartanhan Baldez Figueiredo)

FeridaCalo: produto e processo

Por FLAVI FERREIRA LISBOA FILHO, professor da UFSM, especial para o Site

Ferido. Curado. Calado. Falante. Masculino. Feminino. Parado. Andante. Meus sentidos ficaram embriagados com cada movimento, cada detalhe, cada cor, cada gesto, cada som. Difícil traduzir em palavras a complexidade do momento vivido dada sua condição de abstração – envolta do processo ao produto. Os sentimentos misturaram o real e a fantasia e me levaram para a Casa Azul, universo íntimo da protagonista ausente-presente, Frida Kahlo.

A casa de Coyoacán foi o seu lugar de nascimento, recuperação, criação e morte. Ali viveu, amou, sofreu e lutou com maestria ao longo de seus 47 anos. Mesmo assim, seu legado permanece cada vez mais vivo, rompendo as fronteiras de tempo e espaço, ensinando com o seu exemplo e o seu modo peculiar de viver a vida, mesmo transcorridos 62 anos de sua morte.

Aí repousa a competência dos artistas deste espetáculo, em sua capacidade de ressignificar as alegrias e os dramas vividos por outrem, por meio de um processo de criação único, porque baseado nas suas experiências e percepções pessoais.

A casa em tons de azul, externa e internamente, remete ao céu. Neste sentido, não havia lugar melhor para a estreia da intervenção de dança “FeridaCalo” do que a esplanada da Biblioteca Central da UFSM ao anoitecer. Evento aberto, público, gratuito e de muita qualidade artística e sensibilidade estética. Um presente, um prelúdio de fé numa época tão especial do ano, que, contrariamente, nos fere, nos marca com tantas mesquinharias políticas, jogadas partidárias de interesse próprio e intolerância.

Frida, que apesar de todas as dificuldades enfrentadas, traz neste espetáculo um exemplo de resistência e esperança, encontrando forças num corpo debilitado e mutilado, mas de uma mente brilhante, vanguardista. Capaz de trazer benesses para o seu tempo e para o daqueles(as) que a sucederam.

É indispensável congratular ao prof. Odailso Berté, que na condução do Laboratório Investigativo de Criações Contemporâneas em Dança (UFSM) dirigiu e interpretou a obra, incorporando ao processo criativo o que se sente diante de imagens produzidas por Frida, retratando na composição estética desta intervenção arrojada “[…] reflexões sobre corpo, gênero e relações entre arte e política”, segundo suas palavras, que puderam ser aferidas ao longo da apresentação. Cumprimentos aos intérpretes-criadores Ana Caroline Maivald, Crystian Castro, Djenifer Nascimento, Helder Machado, Jaqueline Molossi, Juliane Costa e Naylana Ferreira. À equipe de figurino João Dalla Rosa Júnior e Cleuza Fillipetto, que trouxeram ao palco a organicidade de materiais com estampas e cores, além de incríveis corsets, que aludiam à luta diária de Frida. A voz da intérprete Deborah Rosa, rompe o silêncio com Sangue Latino. Às produtoras Ariadne Paz, Julia Biazzi e Vanessa Fredrich e aos efeitos de iluminação de Djefri Ramon, obrigado.

A arte contribui para a mediação do nosso processo existencial. Um espetáculo com tamanha vibração e intensidade, que, aliás, era traço marcante da personalidade de Frida, é resultado de muito trabalho, de muita dedicação e de muitas pessoas envolvidas. A arte nos permite exercer a cidadania, nos aguça os sentidos, nos torna mais críticos e reflexivos. Talvez, por isso, a arte incomode a outros, que negligenciam o investimento em políticas públicas culturais. Talvez, porque nos tornamos mais cônscios, menos subjugados e mais fortes para lutar. Obrigado Ferida-Frida Kahlo!

OBSERVAÇÃO DO EDITOR: mais informações sobre o espetáculo de hoje você encontra AQUI

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