“Em off: em Novo Hamburgo elegeram um traficante para a Câmara de Vereadores e também conheço outras cidades que elegeram. Lá é dos Manos, mas deve ter alguém dos Bala na Cara em alguma cidade.”
Essa é apenas uma das bombásticas revelações feitas na noite de segunda-feira, dia 12, em Carlos Barbosa, na serra gaúcha, pelo secretário da Fazenda do Estado, Giovani Feltes. Ele pediu o “off”, mas tudo, muito jornalisticamente, foi devidamente registrado pelo jornal Contexto, semanário daquela cidade. A reportagem, que, curiosamente, ninguém da mídia grandona registrou, é de Priscila Boeira, também autora das fotos. Creia, vale conferir:
““Não sou anjo e anjo não se elege”, diz secretário Giovani Feltes a empresários
O secretário Estadual da Fazenda, Giovani Feltes (PMDB), fez revelações importantes a empresários e políticos barbosenses, durante a palestra realizada na noite de segunda-feira, 12, na sede da Associação do Comércio, Indústria e Serviços (ACI).
Durante seu discurso, expôs o histórico da dívida do Rio Grande do Sul e apresentou a proposta de repactuação junto à União, que está em votação no Senado. Segundo o governo estadual, os ajustes e cortes representarão um alívio de 4 bilhões de reais até 2018. Durante toda palestra, o secretário solicitou que a imprensa não tomasse nota quando fizesse revelações ou emitisse opiniões comprometedoras.
Nos últimos minutos da palestra e pedindo que a imprensa mantivesse sigilo, disse: “Em off, pessoal: anjo não se elege nem vereador em Carlos Barbosa. A gente tem que tirar e afastar essa hipocrisia. Eu tenho dez eleições nas costas, 12 anos de vereador, 12 anos prefeito, 12 anos deputado estadual. Desde os 18 anos e não perdi uma eleição. Em off: [o beneficiário dizia] ‘me dá uma mão para a campanha? Eu tenho R$ 5 mil, R$ 10 mil, R$ 50 mil, mas não coloca meu nome na tua prestação de conta’. Quem dizia que não? Precisa. Tinha que acabar um pouco com essa hipocrisia. Essa [última] campanha foi melhor, sim, mas ela beneficia quem é mais conhecido, já tem um certo desequilíbrio”.
Na sequência fez uma forte revelação: “Quem tem dinheiro de caixa dois que não contabiliza nunca? Jogou no bicho. Então eles podem eleger vocês; igrejas, de qualquer credo; tráfico, já pensaram nisso? Em off: em Novo Hamburgo elegeram um traficante para a Câmara de Vereadores e também conheço outras cidades que elegeram. Lá é dos Manos, mas deve ter alguém dos Bala na Cara em alguma cidade. E a gente não quer saber de política. Desculpa a provocação, mas todos temos um pouco de culpa”.
Feltes lembrou os presentes de que a culpa do endividamento recai sobre o ombro de muitos gestores. Nos últimos 45 anos, os estado ficou positivo por somente sete anos. “Isso é um problema que não vem de hoje. Há 30 anos, nossos jornais davam conta dessa realidade, portanto não estamos distantes daquilo que vivenciamos ao longo das últimas décadas. Nós encontramos, em uma história de 45 anos, desde 1971, um Rio Grande que gasta mais que arrecada, e fomos seguindo, governo após governo, e em alguns deles, gastando muito mais do que se arrecada”, disse.
A proposta de renegociação da dívida do Rio Grande do Sul prevê a redução de 20 secretarias para 17; extinção de nove fundações das atuais 19; diminuir de sete para cinco as Autarquias e de 11 para seis o número de Companhias Estaduais. Segundo Feltes, seriam economizados 130 milhões e geraria um ganho real, em 4 anos, de R$ 6,7 bilhões. O valor da dívida do Estado é de R$ 51,8 bilhões. “Hoje, não tem a menor chance de passar o conjunto das medidas, que não resolve o nosso problema, mas nos dá uma sobrevida. Nessa quarta-feira vamos novamente ter uma audiência com o Temer. Precisamos desesperadamente de uma ponte”, disse.
O que causou os picos positivos, livres da dívida, também foi um ponto explorado pelo secretário. “O que causou? Brito: não esqueçamos, nesses dois anos houve a venda da Companhia Rio-grandense de Telecomunicações (CRT) e da Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE). Yeda: uma parte do mérito foi pela gestão, não posso negar, mas foram vendidas as ações de 49% do Banrisul. O que empiricamente se pode observar é que quem passa em 45 anos, 38 gastando mais do que arrecada, chega um dia, cai a casa e estoura o fole da gaita”, salientou.
Feltes citou situações cumulativas e causadoras da dívida. Falou sobre a inflação que era ruim para o povo, mas não para o governo. Citou as Letras do Tesouro, uma modalidade de empréstimos em que os estados captavam dinheiro do governo federal para pagar em até 35 anos e que foi extinta em 1988. Outro fenômeno diz respeito ao chamado Caixa Único das Contas do Estado, que reunia todas as dívidas em uma. O endividamento também se deu em função de financiamentos, empréstimos e uso de depósitos judiciais não tributários. “Muitos não acreditavam no Estado do Rio Grande do Sul. Muitos ainda não acreditam. Temos que vender até o futuro para pagar o passado”, comentou.
Posteriormente disse: “Sartori está quase pegando uma faca, indo para a praça da Matriz e se imolando, política e eleitoralmente. Alguém vai imaginar, com essa contrariedade toda, que o Sartori vá se eleger a síndico? E alguém irá duvidar da honorabilidade do José Ivo Sartori que vocês conhecem melhor do que eu? Da boa intenção, da simplicidade e do trabalho?”.
Ao final da explanação e aberto espaço para perguntas, Feltes foi questionado pelo carteiro Pércio Rogério da Silva, que se candidatou a vereador na última eleição pelo Partido dos Trabalhadores (PT). “Por que depender sempre do capital externo? Cadê a política do governo de criar projetos? Eu defendo uma política séria onde as empresas não participem, não só pagando a campanha do político”, disse. Feltes respondeu: “Sempre vai haver um contraponto. Eu tenho dez mandados, eu disse aqui em off que não sou anjo e que anjo não se elege. Não ser anjo não significa ser honesto e nem corrupto. Assim como existe quem só trabalha e paga as contas em dia, aqui em Barbosa também deve ter o dono do bar que acalca a caneta no caderno. Como eu posso ser melhor que o povo que me elege? Aí vão lá para cima e se lambuzam? Também é verdade. Retirando esses [políticos] será que o povo ficaria imune que esses fatos não mais aconteceriam?”.
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Não dá nada, não é dos vermelhinhos.
Redução de danos. É melhor o político reconhecer uma contribuição “não oficial” ou até mesmo uma contribuição de caixa 2 de uma empresa (diferente de um caixa 2 eleitoral) do que entrar no mesmo barco que um Sérgio Cabral Filho (o pai não tem nada a ver com a história).
Giovani Batista Feltes, eleito deputado federal com 151406 votos em 2014. Pelo que consta nenhum dos eleitores é santo. Mas ao votarem, na sua grande maioria, pensaram que o secretário era um cara trabalhador e honesto? Ou pensaram “este é um picareta igual a nós, vamos votar nele para que quebre nosso galho”?