Dez anos sem Dom Ivo Lorscheiter – por Daniel Arruda Coronel
No dia 5 de março, completaram-se dez anos do falecimento do ex-bispo diocesano, ex-secretário geral e ex-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom José Ivo Lorscheiter, o qual foi indubitavelmente um dos maiores religiosos que este país já teve, do mesmo patamar dos saudosos Dom Paulo Evaristo Arns, Dom Aloísio Lorscheider, Dom Helder Câmara e Dom Luciano Mendes de Almeida, os quais juntos escreveram uma bonita história em defesa da liberdade, do diálogo ecumênico e principalmente em defesa dos mais pobres.
Dom Ivo foi firme em relação aos dogmas da fé – que devem ser irretocáveis e jamais devem ser contaminados pelo relativismo -, mas foi progressista em questões sociais, políticas e, principalmente, favorável ao ecumenismo cristão.
Os exemplos desse grande pastor ficaram com certeza registrados na sua luta incansável luta em defesa dos oprimidos, marginalizados e excluídos. Dom Ivo foi a voz dos excluídos na ditadura militar ao questionar, não temer e não se curvar diante dos generais de plantão que governaram com autoritarismo este país.
O exemplo mais notório da coragem de Dom Ivo, inclusive relatado por ele próprio, em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, em 2002, foi quando ele e Dom Vicente Scherer, cardeal arcebispo de Porto Alegre, até 1981, fizeram uma visita ao famigerado presidente Emílio Garrastazu Médici (1969-1974), e este se dirigindo ao Cardeal Scherer disse o seguinte: “Escuta, me dá licença, já que o senhor trouxe Dom Ivo, secretário da CNBB, eu vou fazer agora uma reclamação: eu vou pedir a vocês da CNBB que moderem as críticas ao governo. Porque se vocês não moderarem, nós vamos ter de mudar de posição. Eu, presidente, vou começar a dar catequese até que vocês mudem de posição e nos deixem fazer a nossa parte”.
E o nosso grande bispo respondeu: “Senhor presidente, nós não vamos mudar a nossa posição. Nós não criticamos vocês por aspectos técnicos, mas por aspectos éticos. Vocês fazem coisas moralmente injustas. Agora, se por isso o senhor começar a dar catequese, nós vamos ficar muito contentes, porque este não é um trabalho só dos bispos, é dos leigos. O senhor tem uma família, tem netos, será uma coisa boa começar a dar catequese. Nós não vamos ficar bravos, vamos até lhe aplaudir”.
Ou seja, nesse exemplo percebe-se a indignação e o respeito de Dom Ivo por milhares de pessoas que foram cruelmente torturadas e assassinadas pelo regime ditatorial, torpe e clientelista que perdurou neste país até a década de 1980.
Não foi somente em relação aos ditadores de plantão que Dom Ivo teve uma postura firme, franca, digna e corajosa, mas também com a alta cúria da Igreja Católica e com alguns de seus prelados, tendo uma relação de diálogo e respeito com os teólogos da Teologia da Libertação, em especial com o Frei Leonardo Boff e com as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs).
Enfim, fica o exemplo de um grande líder, que mesmo nos momentos mais difíceis e mais duros da história republicana deste país foi fiel ao seu povo e ao seu rebanho seguindo sempre os ensinamentos cristãos. Certamente nestes momentos de fragilidade das instituições políticas e de alto tensionamento político, social e econômico sua prudência e lucidez devem ser seguidos em prol de um país mais fraterno, justo, democrático e soberano.
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