Luz – por Alice Elaine Teixeira de Oliveira

Nem bem amanhece o dia e o vivente já está correndo campo. “Fumaça” assustou-se com as dores e fugiu do galpão durante o começo da noite. Sua primeira cria e foi parir longe das casas.

O velho homem saiu assim que se deu conta do ocorrido. Nem engoliu o café até o fim. Seu pensamento corria e escondia-se por entre as coxilhas, perseguindo o pensamento do animal. Não encilhou o cavalo, achou não precisar, ela não deveria estar muito longe.

A noite ainda não findara quando saiu porta afora chamando a vaquinha. Andou por entre o pasto frio e úmido. Os pés calejados e acostumados nem reclamaram as rosetas e pedras. O olhar cansado e marcado do tempo estava aceso como um lampião a procura do pelo cinza mesclado.

Os ouvidos, que vez por outra lhe enganavam, estavam aguçados, encontrou muito mais perdizes do que em todas suas caçadas. O cachorro ovelheiro, que se dormiu e não viu o velho sair, veio-lhe ao encontro quando o sol já ponteava no alto da colina. Abanando o corpo inteiro em extensão de seu rabo pitoco cumprimentava-o como que pedindo desculpa pelo atraso. Um afago, nada mais.

O olhar do homem instilava sua angústia. Mais de hora e nada da mãe e cria. Fora roubada? Quem sabe encontrasse apenas parte dela a beira da cerca… pensamento horrível, mas acontecera algumas vezes.

Então, com o surgir do primeiro raio de sol, iluminou-se um fim de campo. O cão ponteou e levantou as orelhas. Latiu e correu. Sem acreditar o velho disparou atrás do cusco. E lá estava a jovem “Fumaça” e dois lindos terneirinhos, um negro como a noite e outro da cor de sua mãe.

Mansa, permitiu a aproximação e acompanhou o satisfeito senhor, que carregava os filhotes como podia. A alegria voltou com a vida. Pedia uma comemoração e a decisão do nome dos novos animais e companhias.

Iniciou o fogo de chão para tomar seu café do modo que lhe dava prazer. Naquele mesmo momento, olhou para as labaredas e nomeou: “Chaleira” e “Guampa”!!!