Política

ATÉ DO PT. Senadores de vários partidos se articulam para tentar reverter o afastamento de Aécio Neves

Por Paulo Victor Chagas e Mariana Jungmann / Agência Brasil

Petistas disseram que a decisão da 1ª Turma do STF é sintoma da “hipertrofia” do Judiciário acima dos demais Poderes e, em alguns casos, da Constituição. Foto Divulgação

Um dia após a decisão da 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) de afastar o senador Aécio Neves (PSDB-MG) do mandato, parlamentares da base e da oposição já se movimentam com o objetivo de reverter a medida. Alegando que o Poder Judiciário não pode prevalecer sobre o Legislativo, e recorrendo à Constituição para dizer que não é possível afastar um parlamentar no exercício do mandato, os senadores se mobilizam na tentativa de explicar que não se trata de defender Aécio e sim o próprio Senado Federal.

Antes mesmo da chegada da notificação ao Senado, o líder do PSDB na Casa, senador Paulo Bauer (SC), reunia as assinaturas de outras lideranças para apresentar um pedido ao presidente Eunício Oliveira (PMDB-CE) para a convocação de uma sessão extraordinária em regime de urgência para que o Plenário delibere sobre o tema. O argumento é que, de acordo com a Constituição Federal, o Senado deve se posicionar tanto sobre a suspensão do mandato quanto sobre a determinação de recolhimento domiciliar noturno de Neves.

No requerimento, os líderes da maioria dos partidos da Casa alegam que a decisão coloca em conflito o princípio da separação dos Poderes e afeta a representatividade federativa, já que, com a ausência de Aécio, o estado de Minas Gerais ficaria com um senador a menos. Outra defesa por parte dos parlamentares que criticam a decisão do Supremo é que os ministros da 1ª Turma, na prática, determinaram a prisão noturna do senador tucano, o que seria ilegal, salvo em “flagrante de crime inafiançável”.

O senador e ex-presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), divulgou um vídeo defendendo a articulação. “Não se trata de salvar Aécio. Trata-se de salvar a democracia, a Constituição e a representação popular”. No fim do ano passado, Calheiros passou por situação semelhante, quando uma decisão monocrática do ministro Marco Aurélio Mello determinou seu afastamento do cargo.

Apoio do PT
Para o senador Jorge Viana (PT-AC), a decisão do tribunal foi “muito grave”. Segundo ele, o Senado não pode se calar diante de “tempos difíceis” que o “Brasil está vivendo”.

“Eu fui um daqueles que foram execrados por ter votado contra aquela condução, aquela decisão que envolvia o senador Delcídio do Amaral, porque, naquele dia, eu fiquei ao lado da Constituição. Se o senador Delcídio tinha culpa – e as evidências mostravam isso –, que fosse denunciado, julgado e, se condenado, que pagasse a pena. O mesmo vale para o senador Aécio. Há evidências, mas que ele seja julgado. Se as provas forem confirmadas e ele for condenado, que pague a sua pena. Mas o que fazer diante de uma decisão que vem de parte do Supremo e que não tem amparo na Constituição? É muito perigoso viver uma situação dessas”, afirmou Jorge Viana.

A própria Executiva Nacional do PT se manifestou sobre o caso. Em nota oficial, o partido critica Aécio Neves, mas afirma que o Senado precisa “repelir” o que classificou de “violação de sua autonomia”. Defendendo que a questão seja decidida pelo Conselho de Ética do Senado, os petistas disseram que a decisão da 1ª Turma do STF é sintoma da “hipertrofia” do Judiciário acima dos demais Poderes e, em alguns casos, da Constituição.

“Aécio Neves defronta-se hoje com o monstro que ajudou a criar. Não tem autoridade moral para colocar-se na posição de vítima. Mas a resposta da 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal a este anseio de Justiça foi uma condenação esdrúxula, sem previsão constitucional, que não pode ser aceita por um poder soberano como é o Senado Federal. Não temos nenhuma razão para defender Aécio Neves, mas temos todos os motivos para defender a democracia e a Constituição”, afirmaram os petistas.

O senador José Medeiros (PODE-MT) utilizou o argumento de que, para além do caso em questão, trata-se de defender todos os cidadãos de possíveis abusos. “Chegou o momento de a Casa se posicionar e sem personalizar. Se o senador Aécio tem que pagar, isso é um ponto, mas que seja dentro da lei. Porque, no dia em que um senador da República da magnitude e do tamanho dele não tiver o amparo da lei, muito menos terá o Zé – o Zé que está trabalhando de servente, de pedreiro lá no interior do Brasil”, afirmou.

Ex-vice-governador de Minas Gerais na gestão de Aécio e aliado político do tucano, o senador Antônio Anastasia (PSDB-MG) também alegou que a instituição Senado Federal precisa ser preservada. “As prerrogativas desta Casa estão sendo colocadas em xeque. É o momento adequado de nós indagarmos e definirmos bem, como legisladores, como responsáveis pela manutenção da Constituição, quais são os exatos limites, sem defender a figura de A, B ou C, mas defendendo o Senado, a instituição, de modo muito claro, do que significa a decisão de ontem, sob o ponto de vista concreto, e a sua repercussão na interdependência dos Poderes”, disse, durante discurso no plenário do Senado.

Mais cedo, o senador Aécio Neves divulgou uma nota em que critica o afastamento e afirma que aguarda “serenamente” as providências de seus advogados. Por 3 votos a 2, os ministros da 1ª Turma do STF acolheram pedido de medida cautelar da Procuradoria-Geral da República e decidiram afastar Aécio do mandato, determinando ainda o recolhimento domiciliar noturno do parlamentar. Presidente da turma, o ministro Marco Aurélio concordou com a possibilidade de o Senado deliberar sobre o caso, mas o tema é divergente entre os colegas na Corte.

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4 Comentários

  1. Na verdade o Brasil não é uma monarquia, são capitanias hereditárias legitimadas pela democracia. Pode ganhar o partido que ganhar, todas as quadrilhas (sendo situação ou oposição) levam o seu quinhão.

    O PT estava no governo, mas não eram só os coligados que mamavam na Petrobras, J&F etc, até o Aécio levava o seu quinhão. Não é à toa que o PT nunca teve oposição decente, a oposição sempre foi uma mixórdia.

    O Brasil são capitanias hereditárias. Bilhões para fundos partidários, coligações estapafúrdias, campanhas onde todos se prometem ser “salvadores” e dizem que os outros candidatos são o caos, mas na real, independente quem ganha, “democraticamente” é comum fatiarem as comissões e propinas. Somos uns trouxas.

  2. Obviamente existe um problema lógico, se não cabe a prisão como aplicar medida alternativa? Pois é. Cacoete do pessoal do jurídico. O país está mais ou menos como a Síria, mas o sistema jurídico tem que funcionar como o suíço. É medida “civilizatória”. Depois um milico fala em intervenção e alguns ficam brabos porque outros aplaudem.

  3. “Esqueceram” dos políticos. Ficou uma lacuna na legislação. Judiciário só pode fazer o que alguém pede, não pode agir de ofício como dizem. Também não pode deixar um pedido sem decisão. Ministério Público pediu a prisão de Aécio, constitucionalmente não era possível (faltavam requisitos). Deram as medidas alternativas que não são previstas para políticos, só para a patuléia. Deu no que deu.
    Brasil é “república” só no nome. Na verdade é uma monarquia onde se elege o rei (ou rainha) de quatro em quatro anos e a corte varia um pouco, uns são eleitos, outros nomeados.

  4. Acordão. Não só no meio político, no judiciário também. Não é à toa que a decisão saiu da primeira turma. Na segunda estão Toffoli, Lewandowski e Gilmar.
    Busílis é simples. Em 2011 fizeram uma lei que criou um novo requisito para alguém ficar preso: é necessário um pistolão. Caso contrário (ou na dúvida) solta-se. Criaram umas medidas alternativas que ninguém fiscaliza. Sabe como é, “tem muita gente presa no Brasil”, “tem muita gente presa sem julgamento”. O prende-solta, o enxugamento de gelo pela polícia aumentou. Não é de graça que estamos como estamos. Problema: por incompetência ou malandragem não mudaram a constituição.

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