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CRÔNICA. Gilvan Ribeiro se ‘enxerga’ com 60 anos, numa foto digital. E o que isso, afinal, pode significar?

De repente 60

Por GILVAN RIBEIRO (*)

O desenvolvimento das tecnologias digitais na última década  tem pautado uma série de estudos que buscam entender os benefícios e malefícios dessa era.

Sem querer entrar neste mérito e, bem na verdade, independente disso, considero seguro afirmar que as tecnologias têm nos proporcionado experiências novas e interessantes a cada dia.

No auge dos meus trinta anos de idade, faço parte de uma geração que foi cortada ao meio pelo “boom” tecnológico. Diferente da geração do novo milênio que já nasceu imersa no contexto digital, eu vivi num tempo em que jogar Duck Hunt no Dynavision era algo surpreendentemente inovador em termos tecnológicos.

Me faz bem conviver com o saudosismo de ter jogado bolinha de gude no pátio da escola, ao mesmo tempo em que me encanta ter acesso às facilidades proporcionadas pelo digital.
Eu gosto de pertencer a essa geração justamente por isso. Esse encantamento eu não vejo despertar nos que já nascerem com o celular na mão. É algo natural para eles e portanto não causa espanto.

Mas para mim não é. Uma simples brincadeira de um aplicativo que pode dar tons de envelhecimento à face de uma pessoa, por exemplo, foi algo que me chamou muito à atenção na última semana.

Quando vi que alguns amigos estavam compartilhando fotos “envelhecidas” suas, tratei logo de baixar o App e submeter o meu rosto de meia idade ao envelhecimento precoce. O que me motivou a fazer isso foi, inicialmente – e simplesmente – a função lúdica de editar algumas fotos com efeitos inusitados. Porém, depois que eu peguei uma foto minha tirada há poucas semanas e projetei efeitos de mais trinta anos de idade, me surpreendi com as sensações que isso me causou.

A minha surpresa se deu, primeiramente, com a perfeição dos efeitos gerados pelo aplicativo. Obviamente que eu só poderei confirmar se a minha cara aos sessenta anos será aquela mesmo quando – e se – eu chegar até lá para ver.

Porém, a tecnologia do App gera mudanças nem tão absurdas ao ponto de parecer fake, e nem tão simples ao ponto de não notarmos diferença entre as fotos. Ou seja, o App constrói a impressão de que aquela imagem gerada realmente corresponde ao meu rosto de sessenta anos.

Para além do encantamento tecnológico, ter diante de mim a versão velha de mim mesmo, me fez refletir sobre algo mais profundo, como por exemplo a própria velhice, que traz consigo, invariavelmente, a finitude da vida.

Ao mostrar a versão do Gilvan idoso para a minha mãe, me dei conta de que o aplicativo proporcionou pra ela uma imagem que provavelmente, pelo natural ciclo da vida, ela não poderá conferir daqui trinta anos. É algo que encanta mas ao mesmo tempo assusta. Confesso que não tive coragem de submeter uma foto da minha filha ao envelhecimento do App, justamente porque eu não quero antecipar uma imagem dela que ainda não existe no meu imaginário. Prefiro viver cada instante e acompanhar o seu crescimento – envelhecimento – no ritmo ditado pelo tempo comum a todos.

Ver-me velho foi algo legal e estranho. Achei interessante a possibilidade de envelhecer trinta anos em dois toques, por meio de um aplicativo de celular. Isso me fez lembrar que a vida real não é muito diferente da vida digital. Em dois toques eu já vivi trinta e logo, mais trinta terão passado.

Nessa mistura entre tempo real e tempo tecnológico me dou conta de que a vida é uma só – e que ela passa rápido demais.

(*) GILVAN RIBEIRO, 30 anos, é atleta olímpico e apaixonado pelo jornalismo (cursa o 8º semestre, na UFN) e pela Psicologia (está no 1º semestre, na UFSM). Ele escreve no site sempre aos sábados.  

OBSERVAÇÃO DO EDITOR: A foto que ilustra esta crônica é uma reprodução da Internet.

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