CidadaniaEducação

CIDADANIA. Colégio Estadual Tancredo Neves e seu propósito: perspectiva e crescimento na região oeste

Escola, a principal de um dos bairros mais populosos da cidade, está em local provisório faz 10 anos e aguarda realocamento para nova sede

Por AMANDA SOUZA (texto e fotos), Especial para o Site

Empatia e pertencimento alicerçam a forma de educar do Colégio Estadual Tancredo Neves, localizado no bairro próprio. Com muita luta, o estabelecimento conquista aos poucos uma educação sem violência, harmônica e estruturada.

Dentro da escola, brigas e violência não se fazem presente. A supervisora escolar, Leonice Dias, acredita que isso se dê pelo fato da unidade da Brigada Militar do bairro esteja próxima à escola, e eles fazem a ronda. Há câmeras também no colégio, no pátio e nas salas de aula. “Por ser uma escola de periferia, temos uma estrutura muito boa e não temos problemas de violência interna, conversamos muito com os alunos sobre bullying, empatia, se colocar no lugar do outro, em conjunto com a supervisão e professores”, conta a diretora da escola, Marinês Paiva Muscope.
Os debates e conversas com os alunos são diários, em disciplinas de ensino religioso, filosofia e sociologia, os temas de respeito e diversidade são sempre abordados. O Grêmio Estudantil – composto pelos estudantes dos últimos anos do Ensino Médio – ajuda com ações e atividades, trazem palestras sobre violência contra mulher, racismo e bullying.

“Tem muitos alunos que quando chegam na escola praticam o bullying, geralmente esses sofrem também, em casa, e se dão por conta quando conversamos, passam a entender”, conta a diretora. Os alunos já têm uma caminhada, a maioria está na escola desde o Ensino Fundamental, conhecem as professoras e forma-se uma relação recíproca, os novatos demoram um pouco, mas depois entram nesse ritmo de troca e diálogo.

A escola agora conta com uma supervisora escolar, a professora Lorena Barbosa, para auxiliar no apoio aos alunos e relação com os pais. Os alunos trazem muitos problemas pessoais para a escola, de casa e da comunidade. As professoras têm que intervir, no âmbito que cabe à escola, pois a relação é muito próxima, de convivência, de amizade, então elas têm essa abertura para ouvir e ajudar.

“Nós somos tudo, temos uma formação, mas às vezes somos até ‘psicólogos’, e aluno é aluno, pode ser um pouco diferente do resto mas continua sendo aluno e vamos sempre tentar ajudar e dar apoio”, afirma Marinês. Casos sérios e de âmbito além do sistema escolar são encaminhados para o Conselho Tutelar e órgãos responsáveis. No ano passado, uma criança foi até a professora contar que apanhava todo o final de semana, pois os pais bebiam muito, imediatamente, elas acionaram o Conselho Tutelar para resolver o caso.

A escola não tem espaço para projetos em turno inverso à aula, pois há 15 turmas de manhã e de tarde e 10 de noite. Há um projeto de Judô, dos professores Aglaia e Luiz Pavani, que dão aula para escolas estaduais, no ginásio da Tancredo Neves. As aulas são abertas para alunos de toda rede estadual e municipal, e 80% dos alunos do projeto tiveram uma mudança visível no comportamento.

O principal problema que a diretoria vê é a omissão dos pais. Mais da metade dos alunos é criada por avós, tios, irmãos ou madrinhas. Para as professoras, isso reflete na aprendizagem, pois é diferente a relação de um responsável ou parente para do apoio e atenção dos próprios pais. Eles não comparecem a reuniões, entrega de boletins, e a falta do suporte familiar interfere na perspectiva de futuro das crianças. Há alguns alunos que não têm sonhos nem expectativas, não conseguem olhar para o futuro e se ver numa profissão. As  professoras acreditam que isso é pela falta de base em casa para se inspirar, além dos pais que se envolvem com drogas.

Muitos dos alunos não têm o hábito de sair da comunidade, e não sabem o que existem fora da Tancredo Neves. Alguns nunca tinham saído do bairro até uma excursão da escola para a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), por exemplo, que é feita durante a feira das profissões. “O mundo deles é muito restrito”, afirmam. Para as professoras, a educação é uma forma de desenvolver perspectiva e dar oportunidade aos jovens. “Eles custam a assimilar a importância de estudar, mas percebemos a evolução deles, desde o fundamental até o ensino médio, que chegam no último ano focados no ENEM”, conta a supervisora.

Dentro da escola, atua a CIPAVE (Comissão Interna de Prevenção a Acidentes e Violência Escolar), ele atua junto à direção para mediar os conflitos, iniciativa do Governo Federal. É formada por comissões internas que atuam nas escolas estaduais, trabalhando com equipes especiais para interferir e auxiliar na resolução dos conflitos entre alunos e comunidade escolar. Porém, a diretora Marinês ressalta a falta de recursos por parte do Estado e da Coordenadoria Regional de Educação, obras inacabadas na estrutura e sem retorno, principalmente na rede elétrica, além da falta de professores para atividades extra-curriculares.

O coordenador da 8ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), José Luiz Vieira Eggres, aponta que o principal problema da rede pública é a violência, e nesse sentido há projetos do governo para prevenir, como o CIPAVE e redes de proteção. Para Eggres, a escola vem assumindo um papel diferente do modelo antigo, com a universalização da educação, há um maior acesso à escola, o grande desafio é que a escola dê resultado positivo.

“Queremos que o aluno venha para a escola, permaneça na escola e tenha um resultado positivo na sua formação”, afirma. Em relação às obras escolares, o coordenador alega que o repasse está sendo feito, porém, a Escola Tancredo Neves ainda não recebeu o recurso para obras, pois o governo não estava disponibilizando técnicos eletricistas, por isso o atraso. Desde o ano passado para cá, foram investidos 7 milhões de reais para obras e reformas nas escolas estaduais.

Artigos relacionados

ATENÇÃO


1) Sua opinião é importante. Opine! Mas, atenção: respeite as opiniões dos outros, quaisquer que sejam.

2) Fique no tema proposto pelo post, e argumente em torno dele.

3) Ofensas são terminantemente proibidas. Inclusive em relação aos autores do texto comentado, o que inclui o editor.

4) Não se utilize de letras maiúsculas (CAIXA ALTA). No mundo virtual, isso é grito. E grito não é argumento. Nunca.

5) Não esqueça: você tem responsabilidade legal pelo que escrever. Mesmo anônimo (o que o editor aceita), seu IP é identificado. E, portanto, uma ordem JUDICIAL pode obrigar o editor a divulgá-lo. Assim, comentários considerados inadequados serão vetados.


OBSERVAÇÃO FINAL:


A CP & S Comunicações Ltda é a proprietária do site. É uma empresa privada. Não é, portanto, concessão pública e, assim, tem direito legal e absoluto para aceitar ou rejeitar comentários.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo