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Imprensa esqueceu que o presidente de 2023 vai repartir o poder com o Centrão?- por Carlos Wagner

Não se sabe quem irá vencer, mas “o Centrão estará no próximo governo”

O Centrão pula de governo em governo e não deverá ser diferente com o próximo, a ser eleito em 2022 (Foto Reprodução)

Podemos discutir o grau de presença dos parlamentares do Centrão no próximo governo. Mas o certo é que eles estarão lá, porque o presidente da República precisará deles para governar o país. Citado apenas os últimos governos desde 1990, eles estiveram presentes na época de Fernando Collor de Mello (do então PRN-AL), Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP), Luiz Inácio Lula da Silva (PT-SP), Dilma Rousseff (PT-MG), Michel Temer (MDB-SP) e do atual, Jair Bolsonaro (sem partido).

Nenhum partido tem votos suficientes entre os 513 deputados federais e os 81 senadores para aprovar ou derrotar uma proposta sem fazer um acordo que inclua os parlamentares do Centrão.

Antes de seguir a conversa vou dar uma explicação que julgo necessária para quem não é jornalista. A expressão Centrão foi cunhada nas redações dos jornais em 1987, na época dos debates da assembleia constituinte que elaborou a nova Constituição do país.

Inicialmente designava pessoas que defendiam a posição política de centro. Esse grupo permaneceu unido após a promulgação da Constituição, em 1988, e os seus principais líderes se envolveram em vários escândalos de corrupção. Foi aí que ficaram estigmatizados como oportunistas, corruptos e outros adjetivos pouco lisonjeiros.

Voltando à nossa conversa. Deixando os adjetivos de lado, vamos nos concentrar no que a história da disputa política nos ensinou. Quando o presidente eleito vem de um partido tradicional e que tem um razoável número de parlamentares, ele começa o governo fazendo acordos com outras agremiações da sua mesma linha política. Mas não se livra de cair no colo do Centrão porque geralmente não consegue reunir votos suficientes para o embate em assuntos de maior relevância, como reformas sociais e econômicas.

Aqui é o seguinte. Quando o presidente tem atrás de si uma estrutura partidária consolidada, o grau de dependência do governo em relação ao Centrão é menor, porque dispõe de quadros para ocupar postos importantes na administração, além de contar com um número expressivo de parlamentares na Câmara e no Senado.

Quando o presidente não é eleito por um partido tradicional a história é outra. Temos o exemplo de Collor. Foi eleito pelo então Partido da Reconstrução Nacional (PRN), uma pequena agremiação nascida em 1989 e que já trocou de nome mais de uma vez – o atual é Partido Trabalhista Cristão, PTC. Collor sofreu ação de impeachment em 1992 – matéria na internet.

Bolsonaro, nos seus mais de 30 anos como parlamentar, pulou de partido em partido várias vezes. Elegeu-se presidente pelo Partido Social Liberal (PSL) fazendo a segunda maior bancada da Câmara dos Deputados e vários senadores.

A proposta dele era governar apoiado pelas bancadas temáticas, como a da Bala, da Bíblia e outras. Rompeu com o partido no primeiro ano de governo e preencheu cargos na máquina administrativa com 6 mil militares das Forças Armadas (ativa, reserva e reformados) e das policiais militares.

Nos dias atuais, Bolsonaro caiu no colo do Centrão e virou uma espécie de rainha da Inglaterra. Aqui podemos fazer uma reflexão. Há possibilidade de que entre os candidatos a presidente da República em 2022 esteja o ex-juiz federal Sergio Moro, que ganhou fama na Operação Lava Jato. Moro condenou em primeira instância o ex-presidente Lula no caso do triplex do Guarujá por corrupção e lavagem de dinheiro.

Sua sentença foi confirmada em segunda instância e Lula, que era o candidato preferido nas pesquisas de intenção de voto para a Presidência da República em 2018, foi preso e com isso facilitou a eleição de Bolsonaro – há matéria da internet.

Meses depois, Moro desistiu da magistratura para ser ministro da Justiça e Segurança Pública de Bolsonaro. No ano passado, o ex-juiz brigou com o presidente e deixou o governo. Essa é a história conhecida de Moro. Ele não é um homem de partido. Toda a sua rede de amizades e convivências está entre as pessoas da Justiça. Da mesma forma que Bolsonaro é capitão reformado do Exército e fez toda a sua carreira política voltada às famílias de militares e policiais.

Numa eventual eleição de Moro, como ele vai governar? Poderá espernear, mas cairá no colo do Centrão, que é formado por parlamentares que têm contas a ajustar com ele da época da Lava Jato. Perguntei a um velho parlamentar que conhece profundamente o cotidiano de Brasília (DF) se, na hipótese de eleição do ex-juiz, qual seria o comportamento do Centrão. Ele me respondeu: “Eles não têm amigos nem inimigos. Só negócios”.

O fato é o seguinte. O Centrão nunca teve tanto poder nas mãos como tem no atual governo Bolsonaro. Isso significa que suas fileiras foram engordadas com mais parlamentares. Não pode ser afastada a hipótese deles terem um candidato identificado com o grupo nas próximas eleições presidenciais.

Nós jornalistas estamos deixado a desejar perante o nosso leitor. Estamos devendo mais e melhores informações sobre o que estão fazendo os parlamentares do Centrão. Estamos publicando fatos sobre esses parlamentares sem entrar em detalhes, como se todos os leitores soubessem o que se passa nas entranhas desse grupo.

As eleições de 2022 serão totalmente diferente de todas as outras devido a pandemia causada pela Covid-19, que já matou mais de 600 mil brasileiros e impôs um modo de vida totalmente diferente para a população, como viver isolada.

A Covid vai influenciar no perfil dos eleitos em 2022? Não sabemos e não li ou encontrei nenhuma pesquisa sobre o assunto. Seja lá o que nos aguarda na disputa eleitoral do ano que vem, o certo é que devemos estar bem informados, para o bem do nosso leitor. E se manter informado dentro da lambança que se transformou o governo Bolsonaro não é fácil. Mas é necessário para a nossa sobrevivência como jornalistas.

PARA LER A ÍNTEGRA, NO ORIGINAL, CLIQUE AQUI.

(*) O texto acima, reproduzido com autorização do autor, foi publicado originalmente no blog “Histórias Mal Contadas”, do jornalista Carlos Wagner.

SOBRE O AUTOR:  Carlos Wagner é repórter, graduado em Comunicação Social – habilitação em Jornalismo, pela UFRGS. Trabalhou como repórter investigativo no jornal Zero Hora de 1983 a 2014. Recebeu 38 prêmios de Jornalismo, entre eles, sete Prêmios Esso regionais. Tem 17 livros publicados, como “País Bandido”. Aos 67 anos, foi homenageado no 12º encontro da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI), em 2017, SP.

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4 Comentários

  1. Não tenho nada contra o pessoal que defende a liberação das armas, evangélicos ou agronegócio (bancada do boi convenientemente não foi citada). Militares na maquina administrativa idem. Cavalão não tem base no Congresso porque não loteou ministérios como era costume. Ciro Gomes tenta se posicionar como terceira via. Rompeu com o Molusquismo com L./petismo (se é para ingles ver não se sabe, mas é possibilidade). Não dá para se posicionar no centro atacando somente uma das pontas. Já declarou (pelo que sei não desdisse) que vai lotear ministerios. Ou seja, situação tem muitas pontas soltas. Outras alternativas existem. Para alguns a pandemia vai influenciar a eleição. Não deve ser o unico fator. Economia argentina está derretendo e já existe turbulencia politica. Economia chinesa desacelerou. Cavalão, ao menos na teoria, deve comparecer aos debates. Pode aparecer candidato(a) que atualmente está fora do radar. Falta muito tempo ainda.

  2. Moro não concorre, está ocupado ganhando dinheiro (ao menos com as informações atuais). Lava a Jato virou pizza. Cavalistas não gostam dele, Molusquistas com L. idem. Não tem voto, carisma e a tarimba de candidato.
    Molusco com L. preso facilitou a eleição do Cavalão? Narrativa. Cavalão elegeu-se navegando no anti-petismo (que ainda não é pequeno). ‘Se’ por definição é uma bobagem. Cavalão poderia ter morrido com a facada. Avião de um dos dois poderia ter caido. Armadilha é criar alternativas olhando no retrovisor como se fossem a unica possibilidade. Cavalão elegeu-se com uma conjuntura, com outra o resultado poderia ser diferente ou igual. Não tem como saber.

  3. Falácia da representação. Gauchos e gaúchas escolhem três senadores e 31 deputados federais. Ou seja, é uma federação, 96% do Senado e 94% da Camara Federal não passam pelo crivo da bagualada. Logo afirmar que ‘parlamentares são um reflexo da sociedade’, ‘alguém colocou lá, não cairam do céu’, diluir a responsabilidade, é uma rematada asneira. Gente que vive repetindo chavões e lugares comuns já dão uma pista da capacidade cognitiva. Cavalão, podem falar mal a vontade, é direito. Só não esperem muita platéia, porque já encheu o saco. Muito pouca gente vai mudar de ideia só porque os vermelhinhos ficam repetindo. Alás, tem edil por aí que gosta de falar mal do Cavalão, mas não admite que comparem com o governo Molusco com L. ou Dilma, a humilde e capaz (há os vermelhinhos que convenientemente quer ‘deixar o passado para trás’). Se diz ‘feminista’ mas ‘berra grosso’ com a interlocutora se a comparação acontece.

  4. Problema da indução. De novo. Pressupor que as coisas no futuro se comportarão como no passado. Imprevistos acontecem. Na última eleição alemã aconteceu uma mudança geracional importante. Muita gente antiga foi mandada para casa. Politicos comportam-se como se nada mudou, mas a população pode ter outros planos.
    Dai vem a bobagem. Não só jornalistas acompanharam o processo constituinte e nem só jornalistas t:em memória. Obvio. Centrão surgiu por necessidade, esquerda queria uma coisa, direita outra e o bloco apareceu para criar o transtorno dissociativo de identidade. Exemplo? É garantido o direito de propriedade, mas ela atenderá sua função social (conceito aberto). Depois disto o rótulo foi ressuscitado várias vezes para designar coisas diferentes. Atualmente é mais cria do ‘baixo clero’ que se rebelou na época do Severino Cavalcanti.

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