CIDADE. Como um golpe imobiliário transformou Santa Maria num cemitério de residenciais inacabados
Por MAIQUEL ROSAURO (texto e fotos), da Equipe do Site
A Polícia Civil desencadeou, na manhã de terça-feira (26), a Operação Apate, no qual combate ações de estelionatários do ramo imobiliário que lesaram pessoas com a ilusão da casa própria. A ação cumpriu seis mandados de busca e apreensão em Santa Maria e Porto Alegre e resultou na prisão de dois homens. Como consequência, o golpe imobiliário criou um cemitério de condomínios inacabados na Cidade Universitária.
A operação tinha como alvo os donos da empresa Ampar, com sede em Porto Alegre, e que oferecia residências em condomínios da região Central a partir de R$ 99,9 mil. Segundo o delegado Antônio Firmino de Freitas Neto, titular da 4ª Delegacia de Polícia de Santa Maria, os integrantes da associação criminosa de estelionatários começavam a construção de empreendimentos, mostravam uma casa pronta, mobiliada, realizavam a venda, até para duas pessoas, e não os entregavam.
“Com a fraude, o grupo tinha a intenção de apurar mais de R$ 100 milhões. Por hora, já foi apurado prejuízo superior a R$ 1 milhão”, declarou o delegado em matéria divulgada no site da Polícia Civil (AQUI).
Em Porto Alegre, foi apreendido com o presidente da empresa, Alex Sander Menezes, uma pistola, calibre 380, municiada com 13 cartuchos, e mais dois carregadores. Também, foi apreendido um Jeep Renegade. Outro membro da empresa foi preso por estar portando maconha em pequena quantidade, que disse ser para uso próprio.
Em Santa Maria, no mesmo horário, foram cumpridos mais cinco mandados de busca e apreensão. Em todos os mandados, foram apreendidos documentos e computadores que, segundo a Polícia Civil, provam a existência dos crimes, que são formação de quadrilha e estelionato.
Obras começam e jamais terminavam
O Residencial Veneza, no Bairro Tomazetti, ao lado do Condomínio Parque das Oliveiras, é um exemplo de como a empresa operava. A obra iniciou oficialmente em 5 de junho de 2017 e, no local, segundo propaganda da empresa, seriam erguidas 281 unidades, em condomínio fechado, com casas de um, dois ou três dormitórios. Mais de um ano depois, há apenas duas residências erguidas (e inacabadas) e outra em construção.
No Bairro Diácono João Luiz Pozzobom a empresa iniciou as obras dos residenciais Amsterdam, Dublin e Paris. Segundo os anúncios da Ampar, eles deveriam ter, respectivamente, 66, 46 e 66 unidades. Porém, em todos a realidade é a mesma: obras inacabadas em ruas de difícil acesso e, cerca de, dez residências construídas.
O site visitou os quatro condomínios e, em todos, encontrou cães amarrados em correntes que vigiam a entrada. Em dois residenciais, o site encontrou caseiros que entregaram o contato de vendedores da Ampar.
Um dos caseiros chegou a comentar que não recebe salário da empresa há quatro meses e que nem a comida do cachorro a empresa fornece. Ele também relatou que as obras estariam paradas há mais de um ano.
Há ainda outro residencial da Ampar no Bairro Diácono João Luiz Pozzobom, o Europa, local onde os vendedores da empresa atuam. Localizado na Rua Pedro Santini, o condomínio fechado é o único com casas com dois pavimentos e que aparenta estar com acabamento mais adiantado. O Residencial Europa foi alvo da operação da Polícia Civil nessa terça.
Empresa oferece, pelo menos, 694 residências em Santa Maria
Tão logo foi solto pela polícia ainda nessa terça, o presidente da empresa deletou sua conta no Facebook. Na rede social, ele divulgava imagens das obras dos empreendimentos, propagandas dos residenciais e até fotos com um ex-secretário municipal a Prefeitura de Santa Maria enquanto analisava uma área que viria a sediar um novo condomínio.
No total, a empresa oferece nas redes sociais oito residenciais horizontais em Santa Maria: Veneza (281 unidades), Europa (32), Dublin (46), Miami Golf Club (23), Amsterdam (66), Paris (66), Madrid (110) e Cannes (70), além de dois edifícios: Monte Carlo e Saint Tropez. No total, apenas nos condomínios são 694 casas oferecidas.
Em São Gabriel, a Ampar oferece o residencial Dubai (56) e, em Rosário do Sul, o residencial Riviera (58 unidades).
Prefeitura de Santa Maria realiza sindicância
A Polícia Civil não divulgou quantas famílias santa-marienses foram lesados no golpe. Já a Prefeitura de Santa Maria realiza uma Sindicância para apurar quantos condomínios estão envolvidos na fraude.
“A Prefeitura vai investigar a falsificação de documentos emitidos em nome do Poder Executivo, inclusive com falsificação de assinatura de engenheiros”, informou a Superintendência de Comunicação da Prefeitura.
A Câmara de Vereadores também está a par do assunto. O vereador Juliano Soares – Juba (PSDB) foi procurado por compradores e está investigando a situação.
“Vamos reunir as pessoas que adquiriram casas da Ampar, em uma Frente Parlamentar que criamos para tratar de loteamentos daquela região, e fazer uma sinergia entre todos os lesados. Há apenas dez ações judiciais em tramitação. Ninguém sabe o que vai acontecer daqui em diante”, disse Juba, que também pretende convocar o Executivo e o Ministério Público para auxiliar as famílias que caíram no golpe.
2024 e não foi devolvido o dinheiro das pessoas lesadas,, vergonha pública de uma justiça inútil .
Estamos em 2021 e ainda não consegui meu dinheiro!
Ué, cadê o MP tão ágil e incisivo desta cidade?
MP entrou com ação civil pública em fevereiro