CONJUNTURA. As consequências sociopolíticas da semana que antecede as eleições gerais brasileiras
Por BRUNO BERNARDI, bacharel em Direito pela Universidade Franciscana de Santa Maria
Nada mais comum que nos dias que antecedem à chamada ”festa da democracia”, os ânimos, assim como os debates políticos, se acirrarem. Não somente o debate entre políticos, mas também o debate político entre os eleitores. Tudo isso em função do momento decisivo que o Brasil vive. Porém, mais importante do que debater a política de partidos, de direita ou esquerda, de liberal ou conservador, é necessário analisar a mudança sociológica que essa época deixa mais do que evidente, e suas consequências.
A primeira mutação social que a época pré-eleições deixa nítida é a propagação de imagens, fatos, fotos e falas ”fake” – termo muito utilizado na pós-modernidade -, que acaba gerando não de maneira imediata, mas a longo prazo, consequências nítidas para aqueles que não têm acesso à verdadeira informação e/ou à informação real.
Um exemplo claro, simples e objetivo dessa consequência são informações que chegam a comunidades isoladas do Brasil, e que, por conseguinte, não possuem nem sequer a chance de ”dar um Google” e verificar se a informação que estão recebendo tem responsabilidade com a verdade. Mas ainda, uma das consequências dessa consequência, é que quem tem a oportunidade de verificar a veracidade dos fatos, assim não o faz, gerando e propagando mais ainda aquilo que é ”fake”. Essa é uma consequência coletiva.
Outro fator a ser analisado é a capacidade que a internet e as redes sociais propiciaram ao ser humano, de capilarizarem e atomizarem sua própria ignorância, e vestirem através da tela do computador uma espécie de cabresto ideológico que é propagado através de agressividade nos meios. Ou seja, estar no computador transformou aqueles que o utilizam corajosos o suficiente para propagarem discursos de ódio, sem sofrerem a consequência e o expurgo daqueles que os condenam. É muito mais fácil odiar à distância, no conforto do lar. E esse fator não é exclusivo da época política (permeia toda a pós-modernidade), mas está presente todo tempo, a todo instante, em todos os lugares.
Por fim, a pior e mais grave das consequências, é a capacidade que perdemos de dialogar. O brasileiro não sabe mais o que é debater, mas tem profunda intimidade com a discussão. Não sabe mais o que é entender e compreender, mas tem profunda ligação com o convencimento. Não sabe mais o que é aceitar e respeitar, mas tenta a todo tempo minimizar pensamentos que diferem dos de si.
Alguns dizem que é necessário alguém radicalmente diferente para mudar o Brasil, outros optam pela moderacidade, e outros nem refletem se é necessário mudar. Mas a verdade é que o Brasil e os brasileiros precisam de mais liberdade. Mais liberdade no voto, nas atitudes, nas vontades e sobre tudo, mais liberdade de serem quem querem ser, de fazerem o que desejam fazer, sem ser julgados e condenados. O Brasil não precisa se fechar e se limitar a uma só ideologia e/ou direção, ele poder ser multiplo, assim como é multicultural; porém temos que reaprender o respeito, a tolerância e o diálogo.
Brasil não chegou onde está de graça. Uma determinada corrente usou politicamente o discurso ‘nós contra eles’. Por sinal muitos membros da corrente gostam da expressão ‘ir para o pau’. Também não é mistério que esta mesma corrente política se define pela negação, a identidade é afirmada pelo que ela não é (já apareceu este assunto noutra oportunidade). Os outros são….(diversos adjetivos possíveis). Ultima moda é o #elenão.
Daí chegamos na ‘sabedoria das massas’. Chaplin dizia que a multidão é um monstro sem cabeça. Achar que todos irão se comportar 100% do tempo de modo racional não é racional, é ideológico (modernismo não foi somente um movimento estético). Na tribo (sem querer ofender os nativo-americanos) a coisa piora. Emoção conta. E muito.
Profissional que tem como objeto de estudo a sociedade é o sociólogo ou do ramo ciências sociais. Direito é das ciências sociais aplicadas (talvez por isto existam tantos advogados ‘aplicando’ por aí).
Logo o texto é somente uma opinião, apesar de ser apresentado como análise de conjuntura.
Outro dia olhava no site de uma instituição local um amontoado de pretensos artigos científicos a respeito do ‘discurso do ódio’. Impressionante como conseguem amontoar chavões e clichês para tentar dar uma roupagem séria ao discurso da esquerda. Muitos com bolsas de ‘pesquisa científica’, alunos de pós-graduação.
Volvemos. A noção de que ‘se resolve tudo conversando’ é uma concepção liberal/psicanalítica de butiquim, portanto ideológica. Aqui aparece outra questão: a capacidade de certos ‘professores’ não terem a honestidade intelectual de alertar os alunos da ideologia que rege a profissão.