ComportamentoCrônica

CRÔNICA. Gilvan Ribeiro, nosso cotidiano cheio de ação e a passagem do tempo. Que tempo, mesmo?

Quanto tempo o tempo tem?

Por GILVAN RIBEIRO (*)

A relação que temos com o tempo é algo que sempre me intrigou. Quando estava no primeiro semestre da faculdade de jornalismo, li um Conto do Moacyr Scliar em que ele convida os leitores a  uma reflexão interessante sobre este tema.

Na história narrada pelo autor, ele apresenta um rapaz que sofre de uma doença rara chamada Progéria. Uma patologia crônica que, tragicamente, acarretava no precoce envelhecimento do personagem.

Ao passo que recém havia sido parido por sua mãe, bastava piscar os olhos para que o homem já estivesse caminhando, falando e até mesmo entrando universidade.

E assim foi por toda a breve vida do coitado. Tudo acontecia numa velocidade que parecia ser mais rápida que o tempo comum a todos. Era como se os minutos fossem os dias e os dias representassem anos de vida para o rapaz.

Antes de ler este belo Conto até o final, já pude entender a genial provocação que Scliar supostamente pretendia nos fazer.

Logo pude identificar aspectos presentes na minha própria vida, que muito se pareciam com os sintomas da Progéria criada pelo escritor gaúcho.

O principal ponto, neste sentido, é a sensação de que o tempo está passando cada vez mais rápido: “mal começou o ano e já estamos em abril”.

O pior de tudo foi perceber que muitas pessoas ao meu redor estavam relatando o mesmo.

Estaríamos, então, tomados por uma epidemia de Progéria?

Brincadeiras a parte, me detive a pesquisar um pouco para tentar entender o porquê dessa epidemia.  

Logicamente que existem muitas teorias para explicar isso, abordadas por diversas áreas do saber científico ou até mesmo empírico.

Em uma breve entrevista, hospedada no site de notícias jornaldausp.com, da Universidade de São Paulo-USP, dois professores trazem uma colaboração interessante sobre o tema, a partir de duas áreas distintas.

Se alguém acredita que o tempo está de fato passando mais rápido e que isso não é apenas um fenômeno sensorial, o professor Roberto Dias da Costa, do Departamento de Astronomia da USP, busca nos tranquilizar. Segundo ele, não existe uma diminuição no período físico do tempo.

Ele afirma que desde a pré-história utilizamos o dia e a noite para contar o tempo, e isso se trata de uma contagem natural muito clara. Assim, como já sabemos, o dia é o tempo que a terra demora para dar uma volta no seu eixo e o ano é o tempo que o globo leva para dar uma volta completa em torno do sol. Para o professor, esses períodos seguem imutáveis e, portanto, não existe uma efetiva variação física na passagem do tempo – já que este ciclo natural não mudou.

Se por um lado a física sugere essa estabilidade, nos resta acreditar que a percepção “do tempo do tempo”  é algo construído no sujeito que observa, ou seja, em cada indivíduo.

É o que defende professor Ronald Ranvaud, também da USP. Sua colaboração advém dos estudos da Psicologia.

Ranov explica que existem várias circunstâncias que podem influenciar diretamente na nossa ideia de tempo. A mais simples de todas é perceber que quando estamos diante de um momento prazeroso na vida, o tempo parece andar mais rápido. Seguindo a mesma lógica, em momentos de desprazer, tendemos a sentir que o tempo se arrasta diante de nós.  Assim, cinco minutos de tristeza duram muito mais do que cinco minutos de alegria.

Além disso, para o professor, um fator que também influência nessa subjetividade se trata de algo ainda mais participar de cada sujeito, pois diz respeito à idade. Com essa suposição, Ranvaud explica o motivo pelo qual, quando somos crianças, o tempo parece demorar mais para passar e na medida em que envelhecemos, ele vai “se apressando”.

A ilusão que crianças têm depende do fato de que um ano representa 10% da vida vivida quando você tem dez anos de idade. Se você possui cinquenta anos, um ano é apenas 2% da sua vida.

Fazendo um juízo de valor principalmente dessa última teoria, considero ser pertinente a visão do professor. Porém, nesta semana, recebi o relato de uma amiga que me causou curiosidade. Segundo ela, sua filha de exatos dez anos de idade se queixou que o tempo parece estar indo rápido demais.

Seria uma exceção à regra apresentada pelo professor da USP? Estaria a teoria dele totalmente errada? Ou a sua fala segue fazendo sentido, porém existem outras variáveis gerando influência na nossa percepção?

Apostem suas fichas e vamos descobrir isso justos no meu próximo artigo, que seguirá como uma sequência deste texto.

Se der tempo, nos vemos no próximo sábado.

(*)  GILVAN RIBEIRO, 29 anos, é atleta olímpico e apaixonado pelo jornalismo (cursa o 8º semestre, na UFN) e pela Psicologia (está no 1º semestre, na UFSM). Ele escreve no site sempre aos sábados.  

OBSERVAÇÃO DO EDITOR: A foto que ilustra esta crônica é uma reprodução de internet.

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2 Comentários

  1. USP está em decadência há décadas, ainda se segura no nome. Existem antros de atraso, principalmente nas humanas, sociais e sociais aplicadas. Porém quero crer que a dita universidade não possui um departamento de astrologia. Ao menos por enquanto.

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