Reflexões sobre os assassinatos em Suzano
Por DÉBORA DIAS (*)
A tragédia ocorrida na Escola Professor Raul Brasil, em Suzano, município da região metropolitana de São Paulo, com 152.000 habitantes, quando dois ex-alunos da Escola um de 17 anos e outro de 25 anos, entraram na escola atirando matando professores e alunos; após o menor matou o maior e cometeu suicídio, totalizando 10 mortos. O caso pode ser analisado sob diversos ângulos, segurança pública, educação, psiquiátrico, etc. Vamos tentar abordar, nesse pequeno espaço, alguns pontos que nos parecem mais interessantes.
O assassinato de 10 pessoas, incluindo alunos, educadores e um tio de um dos autores do crime, chocou a todos, mas a grande repercussão, quase de status de super stars dada aos autores, pode ter consequências graves. Estamos falando em segurança pública, em prevenção de ocorrência de novos delitos, se isso é possível, já que a o destaque aos assassinos tiveram, não tem volta. No que se refere ao aspecto da segurança da escola, muitas vezes dita frágil, é também de se questionar, se era previsível que os professores imaginassem que dois ex-alunos daquela escola, naquele momento, estivessem armados e prontos a matar a esmo? Acho que não.
A questão do bullying igualmente surgiu, problema enfrentado por educadores, mas que não é somente problema da educação formal, mas de família, afinal se existe um “valentão” (nome dado ao autor do bullying) ele, de regra, é vítima de abusos e violência, principalmente, doméstica. Bem, mas nos parece secundária essa problemática, na análise dos fatos, já que essa circunstância, por si só, não parece desencadear tamanha violência.
Por outro lado, deve-se questionar, ainda no que se refere a segurança pública, o acesso a armas, como co-responsável no aumento da violência. Um dos autores estava com um revólver calibre 38, armas simples. Mas se fossem outras armas ou mais armas, se houvesse uma facilitação no acesso a armas, a tragédia seria bem maior, com certeza. Afinal, quanto mais armas, maior probabilidade dessas circularem em mãos erradas.
Além disso, temos o aspecto psiquiátrico dessa problemática, que me parece ser o que deve ser analisado com maior relevância. E, nesse sentido, entrevista do psiquiatra forense Guido Palombra foi esclarecedora e responder a muitos questionamentos, sem especulações. Ele afirma que o ocorrido somente se concretiza por pessoas desiquilibradas, com problemas mentais graves, não pelos ditos “normais” e que é muito raro essa “loucura” ser compartilhada por duas pessoas. Quando isso ocorre chama-se “folie a deux” (loucura a dois), sempre havendo um indutor e um induzido. No caso de Suzano o indutor era o menor e o induzido o maior. O indutor é o que planeja, determina o induzido seria o que se subordina.
Todos essas considerações servem para análise da tragédia que chocou nosso país, mas temos que avaliar, ainda, uma última circunstância importante: o culto à violência. E, nesse sentido, pode-se constatar que após serem divulgadas fotografias de um dos autores, momentos antes do crime, com armas, várias pessoas não somente apoiaram, como ovacionaram o criminoso. Absurdo! Inadmissível que da tragédia ocasionada por dois loucos, hajam ainda, pessoas aplaudindo. A incitação ao ódio tem suas consequências, inevitavelmente.
(*) Débora Dias é Diretora de Relações Institucionais, junto à Chefia de Polícia do RS. Antes, durante 18 anos, foi titular da DP da Mulher em Santa Maria. É formada em Direito pela Universidade de Passo Fundo, especialista em Violência Doméstica contra Crianças e Adolescentes, Ciências Criminais e Segurança Pública e Direitos Humanos e mestranda e doutoranda pela Antônoma de Lisboa (UAL), em Portugal.
OBSERVAÇÃO DO EDITOR: a foto que ilustra este artigo é uma reprodução de internet.
Estatística é fácil de obter na internet. Suíça, 45,7 armas por 100 habitantes. Uruguai 31,8. Suécia 31,6. Noruega 31.3. Inglaterra e País de Gales sofrem um surto de crimes a faca. Chavões e lugares comuns ideológicos. Brasil tem que virar o velho oeste? Não. Se o Estado desarmar ainda mais a população, todos irão se salvar? Não.
Os perpetradores manifestadamente quiseram copiar o massacre de Columbine. Havia uma racionalidade envolvida, pode-se não concordar com ela. O que não funcionou foram os freios morais. O resto é argumento de autoridade (uma única no caso).