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É CINEMA. Bianca Zasso e ‘The Dirt’, desperdício de material e que vira filme ‘com gosto de chuchu cozido’

Mais um filme de rock

Por BIANCA ZASSO (*)

Um dos fenômenos da última temporada de premiações, Bohemian Rhapsody, cinebiografia higienizada da banda Queen, fez com que hits consagrados de Freddie Mercury e seus companheiros voltassem as primeiras posições nas paradas. Não só é uma prova do poder do cinema na vida das pessoas, mesmo as menos cinéfilas, como também dá uma amostra de qual será o próximo investimento dos estúdios hollywoodianos para garantir os cofres cheios.

Valer-se da trajetória de artistas talentosos e errantes não chega a ser uma novidade, mas parece que uma nova leva de cinebiografias de ícones da música pop vem chegando. Inclusive nas plataformas streaming, como é o caso de The Dirt, um dos últimos lançamentos da Netflix.

O longa, dirigido por Jeff Tremaine, conta a história do Mötley Crüe, uma banda de Los Angeles que chegou para quebrar o padrão em sua época. Isso porque o punk rock e a new wave eram os queridinhos da gurizada da época e Nikki Sixx (Douglas Booth), Tommy Lee (Colson Baker), Mick Mars (Iwan Rheon) e Vince Neil (Daniel Webber) surgiram com canções sobre festas loucas e garotas mais loucas ainda, um visual andrógino e um estilo glam rock.

Para a história da música, o Mötley Crüe passa longe de ser uma maravilha. Esta que vos escreve, inclusive, não saiu cantarolando nenhuma das faixas da trilha sonora. Até porque, o que menos há em The Dirt é música. E isso é apenas o começo dos problemas.

Tremaide, mais conhecido por levar as asneiras do Jackass para o cinema, parece não ter sido chamado à toa. A biografia do Mötley Crüe é repleta de clichês dentro da tríade sexo, drogas e rock’n’roll, a começar pelo passado do baixista Nikki Sixx, que é quem nos apresenta a trama.

Pai ausente, mãe emendando um namorado no outro e uma boa dose de hormônios da adolescência bastam para ele cair no mundo, mudar de nome e…montar uma banda! A chegada de cada novo integrante vai acrescentando ao roteiro mais uma nova dose melodramática.

Se soubermos que The Dirt vai se valer de todas as receitas para criar uma história de rock clássica, conseguimos um pouco de diversão na primeira meia hora de exibição. O problema é quando o ingrediente “emoção” é jogado no caldeirão.

Overdoses e problemas familiares são elevados a última potência, com direito a cena de despedida de Vince com a filha diagnosticada com câncer. Esta, filmada como muitas apresentadas em novela das seis, sem esquecer das frases de efeito e da trilha que implora lágrimas dos mais sensíveis.

Quando se rende ao absurdo e as loucuras roqueiras, The Dirt consegue um respiro, uma dose de criatividade que falta nas cenas mais dramáticas. Afinal, pode até ser brega usar mullet e usar uma guitarra que solta fogo. Mas vai dizer que não é divertido?

Tony Cavalero garante as risadas na pele de Ozzy Osbourne e é uma pena que apareça tão pouco. Os quatro atores principais estão à vontade nos personagens e são quem segura o espectador até o fim, mesmo colocados em cenas que já assistimos centenas de vezes.

O problema não é contar mais uma vez a história de roqueiros que perdem o rumo e tentam uma redenção por meio da música, mas contá-la de forma burocrática tendo em mãos um material tão rico como as doideiras do Mötley Crüe.

Tremaide podia ter apreendido com Bohemian Rhapsody a usar a montagem a seu favor e brincar com as letras fanfarronas dos quatro garotos de Los Angeles. Optou por um caminho mais fácil e com gosto de chuchu cozido. A pimenta ardida, que até o pior dos rocks possui, podia ter entrado em quantidades maiores.

Se é preciso ver sempre o lado bom das coisas para não enlouquecer neste mundo, The Dirt tem como grande trunfo nos fazer ir em busca dos álbuns do Mötley Crüe e escutá-los no último volume. É uma experiência que não vai mudar sua vida, mas que garante algumas horas de diversão bem mais consistentes que os 107 minutos da ficção.

The Dirt

Ano: 2018

Direção: Jeff Tremaine

Disponível na plataforma Netflix

(*)  BIANCA ZASSO, nascida em 1987, em Santa Maria, é jornalista e especialista em cinema pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Cinéfila desde a infância, começou a atuar na pesquisa em 2009.  Suas opiniões e críticas exclusivas estão disponíveis às quintas-feiras.

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