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É CINEMA. Bianca Zasso e uma visão crítica sobre a 2ª versão do primeiro filme da vida dela: “O Rei Leão”

Hakuna Matata para adultos

Por BIANCA ZASSO (*)

Meu primeiro filme no cinema foi O Rei Leão. Eu tinha seis anos e, na primeira viagem a Recife para conhecer o lado pernambucano da família, fui levada por uma prima mais velha para assistir a animação cujas filas para as sessões eram gigantes em praticamente todos os horários.

Historinhas a parte, o prezado leitor já percebeu que faço parte da geração na casa dos 30 anos que tem o filme guardado em um lugar especial na gaveta de lembranças. Situação que muitos utilizaram para “explicarem” as escolhas feitas por O Rei Leão de 2019, versão em CGI (computação gráfica) em cartaz nos cinemas locais. Já vou avisando que não corroboro com eles. Nem contra eles.

Toda essa discussão sobre a opção da Disney em ser fiel a cada frame da animação neste novo filme, que poderia render uma boa conversa sobre vários aspectos cinematográficos, tornou-se uma briga entre os que amaram e os que odiaram, a mais rasa das batalhas neste mundo onde se tentar pensar produtos audiovisuais soa como intelectualismo barato para muitos.

Pois bem, o que eu tenho a dizer sobre O Rei Leão com vozes de Beyoncé e Donald Glover é que ele não acrescenta absolutamente nada para a jornada cinéfila de ninguém, inclusive para quem vê o cinema apenas como diversão. Por tratar-se de uma reprodução plano a plano da animação, é quase como um deja-vú errante: assistimos cenas já conhecidas, mas protagonizadas por animais impecavelmente bem reproduzidos pela tecnologia.

Não estou querendo dizer que O Rei Leão é uma perda de tempo. Apenas não é uma produção que agregue algo aos que cresceram com o original e, diferente de muitos comentários que li por aí, gostariam de ver alguma inovação na história, por menor que fosse.

É claro que sabemos que a Disney não iria dar um passo tão ousado, já que seu objetivo principal é o lucro e, infelizmente, muitos dos agraciados que iriam boicotar a obra caso ela tivesse mudanças, são os que hoje vão mais de uma vez as salas de exibição para derramarem lágrimas que, infelizmente, eu não consegui acompanhar.

Sou uma insensível? Talvez, mas aquele traço do Mufasa e o crescimento de Simba estão em minha memória e ainda me emocionam. Ver os mesmo movimentos feitos por animais que sei que não são reais, por mais que acione o botão de imaginação e imersão que a sala escura proporciona, não tocou meu coração.

Tecnicamente, é uma aula de como recriar animais com tecnologia. Mas só isso não basta para se ter um bom filme. Ser impecável não significa ser emocionante. Um improviso, ou mesmo um erro, podem tocar muito mais que qualquer reprodução fiel da realidade.

Acho muito bacana as novas gerações trocando com seus pais sobre O Rei Leão, seja o de 2019 ou o de 1994. Não sou de entrar no hype dos últimos lançamentos, acho que pode ser coisa da idade ou dos muitos filmes na bagagem.

Mas antes que os defensores ou os odiadores (estamos num mundo onde ódio virou característica de muitos, infelizmente) venham com pedras em minha direção, deixo claro que podemos trocar o bate-boca por uma ida ao cinema e uma conversa civilizada e divertida. Lembram do Hakuna Matata? Pois é, ele também ajuda na vida adulta nestes tempos sombrios.

(*)  BIANCA ZASSO, nascida em 1987, em Santa Maria, é jornalista e especialista em cinema pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Cinéfila desde a infância, começou a atuar na pesquisa em 2009.  Suas opiniões e críticas exclusivas estão disponíveis às quintas-feiras.

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2 Comentários

  1. Não vi e não verei.
    Briga entre os que amaram e os que odiaram não precisa muito motivo hoje em dia. Alás, há tempos. Festivais de música do final da década de 60 também tinha plateias divididas.
    Faixa etária conhecida e também não gosta de correr riscos. Sete homens e um destino/sete samurais não é o que se pode chamar de ‘viver perigosamente’.
    Produtos audiovisuais e o intelectualismo barato. Quem lê um texto tem que ganhar alguma coisa (menos um sermão, ninguém gosta que lhe digam o que fazer). Análise não pode ser hermética, usar muita linguagem técnica. Hitchcock dizia que para fazer um grande filme é necessário três coisas: roteiro, roteiro e roteiro. Alás, o grande calcanhar de Aquiles do cinema nacional.
    Faltou falar no Shakespeare. Faltou falar no arquétipo do herói segundo Lord Raglan. Faltou dar um ‘ponto de apoio’ para o leitor, algo familiar.
    Alás, daria para traçar um paralelo com ‘Bambi’ (outro TCC)? Cuja morte da mãe traumatizou gerações de crianças?
    Um toró de parpite, mas como diz o editor: é só uma opiniãozinha.

  2. Assisti outro dia e, de modo geral, gostei muito de retornar ao eterno 1994. Acompanhei a versão dublada e só tenho a lamentar a irritante voz do Simba adulto.

    Porém, fiquei com a impressão de não ter conseguido desfrutar do filme como poderia. O Rei Leão foi um filme tão marcante na minha infância que assisti inúmeras vezes. Logo, sei o que acontece a cada cena, cada diálogo, cada música…

    A Bianca descreveu muito bem: “é quase como um deja-vú errante”.

    Ah, Timão e Pumba são o máximo! De novo!

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