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ARTIGO. Valdeci Oliveira e UFSM atacada: ‘sombrios são os tempos em que precisamos defender o óbvio’

Como seria Santa Maria sem a UFSM?

Por VALDECI OLIVEIRA (*)

Em quase seis décadas de existência, sendo reconhecida nacional e internacionalmente como uma das melhores instituições de ensino superior do país, a Universidade Federal de Santa Maria passou por diversas agruras, como lutar para ampliar a oferta de seus cursos e sobreviver diante de cortes drásticos em seu orçamento. Sem esmorecer, ultrapassou outros tantos obstáculos, incluindo uma ditadura que cerceava a liberdade e mandava prender, torturar e desaparecer com seus opositores. Mas em toda sua história, nunca houve um ataque tão sórdido e covarde como o desferido, na última semana, por um empresário que, vindo de fora para ganhar dinheiro em nossa cidade, aproveitou os holofotes e a mídia gratuita que a inauguração de sua loja despertaria e desqualificou as universidades federais, seus professores, funcionários e alunos.

Covarde porque sequer teve a coragem de citar a Universidade nominalmente. Repugnante porque contou, inclusive, com sorrisos e aplausos de lideranças que, beneficiados política, educacional ou economicamente pela UFSM, deveriam ter refutado a virulência gratuita. Para o agressor, o corpo docente dessas instituições, incluindo a UFSM, formam idiotas e quem as frequenta se tornam zumbis. Triste. Repugnante. Raso.

Buscar o diálogo com quem pensa dessa forma é o mesmo que jogar pérola aos porcos, pois vislumbram apenas o lucro, o engordar das suas contas bancárias às custas da exploração do seu semelhante. Mais sensato e produtivo é conversar com os santa-marienses, que sabem bem o valor, tanto o simbólico como o concreto, de residir numa cidade acolhedora, sem preconceito e que aceita, inclusive, gente como esse cidadão.

A UFSM, assim como o conjunto das nossas universidades federais, foi criada para servir a sociedade, oferecer conhecimento para as pessoas, formar consciências críticas, construir o desenvolvimento para o usufruto de todos. Para entender o que significa sediar uma instituição como a UFSM, basta imaginarmos uma realidade em que ela não existisse. Sem levar em conta todo o processo educacional envolvido nesse debate, que por si só seria mais do que o suficiente para defendê-la, existe ainda um outro fator, esse voltado à economia local e regional. Como seria a nossa economia, o nosso comércio e os nossos serviços se esses dependessem apenas daqueles que originalmente aqui residem? Como estariam nossas ruas, bares, restaurantes, hotéis e apartamentos de aluguel se aqui não houvesse milhares de universitários vindos de fora? Somente esses alugam cerca de 4,7 mil imóveis na cidade.

Como estaria a nossa saúde financeira sem o consumo das famílias dos servidores federais que trabalham na UFSM? Difícil imaginar isso de tão maléfica que seria essa realidade. Hoje a Universidade conta em seus quadros com o trabalho de quase dois mil docentes, três mil servidores técnico-administrativos e cerca de 30 mil alunos. Trabalhadores terceirizados são mais de mil. Se este quadro econômico não é suficiente para convencer, olhemos então numa outra perspectiva, a da qualidade da instituição, a primeira a ser instalada em uma cidade do interior do país. Em 2010, a UFSM conquistou o conceito 4 no Índice Geral de Cursos (IGC), que a colocou na 20ª posição entre as melhores universidades brasileiras. Hoje, ela está entre as 15 melhores.

Hoje, a UFSM oferece mais de 70 cursos e possui campi também em Frederico Westphalen, Palmeira das Missões e Cachoeira do Sul. A nossa Universidade destina metade de suas vagas para alunos que fizeram todo o ensino médio na rede pública ou concluíram através do Enem, sendo metade para pessoas com renda familiar mensal per capita inferior a 1,5 salário-mínimo. E, nessa divisão, há ainda vagas reservadas para candidatos negros, pardos e indígenas. Isso é justiça social, é o estado cumprindo seu papel de oferecer oportunidade a todos.

Paradoxalmente, é isso que incomoda muita gente, principalmente aqueles que estão instalados no topo da nossa pirâmide social e que não dependem em nada do estado brasileiro. Quer dizer, mais ou menos. Pois quando precisam ampliar seus negócios recorrem a empréstimos junto ao BNDES, com juros subsidiados do Tesouro Nacional, muito abaixo daqueles praticados pelo mercado financeiro privado – que tanto defendem -, ou seja, com o dinheiro de todos os brasileiros e brasileiras, incluindo os pobres que pagam tributos em tudo.

Sombrios e preocupantes são os tempos em precisamos defender o óbvio, em que é necessário fazer mobilização para defender e proteger algo tão primordial como a educação, o conhecimento, a pesquisa, a extensão e o saber.  Infelizmente, no meu tempo de juventude, não pude estudar na Federal de Santa Maria. Mas isso não me impediu de entender e reconhecer seu imensurável valor para toda a nossa sociedade, incluindo aí o Hospital Universitário (HUSM), sediado no Campus da UFSM, que garante saúde para um contingente de mais de um milhão de gaúchos. Compreender isso não é uma questão de falta ou não de inteligência. É uma questão de bom senso, com certa dose de caráter.

(*) VALDECI OLIVEIRAque escreve sempre à sextas-feiras, é deputado estadual pelo PT e foi vereador, deputado federal e prefeito de Santa Maria.

OBSERVAÇÃO DO EDITORa foto que ilustra este artigo, da entrada do campus de Camobi, na UFSM, é uma reprodução da internet.

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