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CRÔNICA. Orlando Fonseca e ‘chamadas de capa’ do governo Bolsonaro: DiCaprio, Palmares, Weintraub…

Manchetes

Por ORLANDO FONSECA (*)

As manchetes de jornais e as legendas de fotos têm o propósito de atrair de imediato a atenção do leitor. Para tanto, precisam operar com mensagens rápidas, texto curto e objetivo, mas também com elaborações bem articuladas que provoquem interesse e surpresa – sim, no sentido de que há novidade no que está sendo noticiado.

Nem sempre é assim. Por vezes, para obter um texto direto, as frases de chamada são, simplesmente, obviedades, lugares-comuns, às vezes até mesmo disparates. Semana passada me deparei, em um grande site de notícias, com o título, encimando uma foto de celebridade: “Faustão surpreende e beija esposa”. A foto deixava claro que se tratava de um acontecimento público. Ao menos para mim, surpresa seria se ele beijasse uma das suas bailarinas.

Fiquei imaginando – cronista sem o que fazer é um perigo – o que seria parecido com o noticiário sobre a conjuntura: Weintraub surpreende e explica cortes na educação com bombons, quando surpresa, mesmo, seria se resolvesse o problema do FUNDEB, cuja lei acaba o ano que vem, deixando milhares de prefeituras pelo país em situação complicada para manter o ensino fundamental.

Ou então: Guedes surpreende e ratifica a possibilidade de um novo AI 5, quando surpresa seria se ele anunciasse medidas sérias, consequentes, exequíveis para elevar o PIB, fazer o país voltar a crescer – acima do que os defensores do governo pretendem com suas falas abonatórias e ufanistas, agora que o “perigo do comunismo foi afastado”. Embora sejam os comunistas chineses que estejam salvando a lavoura – ou melhor, a pecuária – brasileira; por isso o churrasco do domingo está tão salgado e o que mais se vê é carne de segunda, com osso.

Em termos de notícias bombásticas, esse governo atual nem dá trabalho para redatores de manchetes. O país da piada pronta está especializado no humor prêt-à-porter oriundo do Planalto e adjacências. A última é do filho e ex-candidato a embaixador, Eduardo Bolsonaro, em sua afirmativa de que Leonardo DiCaprio é um dos culpados pelo incêndio na Amazônia – repercutindo o que o seu próprio pai falou.

Sem a menor preocupação em envolver personalidades internacionais, que certamente vão se movimentar para desmentir ou cair na gargalhada, manifestam-se em redes sociais ou chutam no ar em eventos de coletivas para a imprensa. A própria WWF veio a público informar, através de nota, que a organização “não adquiriu nenhuma foto ou imagem da Brigada, nem recebeu doação do ator Leonardo DiCaprio. Se não houvesse a prisão de brigadistas, que tiveram de ser soltos pela bizarrice proporcionada pela justiça e pela polícia, a piada até teria graça.

Em outra manchete estapafúrdia, o novo presidente da Fundação Palmares, em suas primeiras manifestações veio a público desdizer o sentido de estar naquele posto. Sérgio Nascimento, que é afro-brasileiro, mas com posições racistas, tem sido desde então execrado pelos movimentos negros pelo país, até mesmo tachado de “capitão-do mato”, tal o estranhamento de suas posições. O que só ratifica a impressão de que esse governo veio para acabar com os direitos do povo, especialmente os pobres e assalariados.

Agora, leio que o ministro da (des)educação, Abraham Weintraub, ele de novo, manifestou-se contra a participação do Brasil nos fóruns temáticos de sua pasta no Mercosul, com a justificativa: “após 28 anos, não há resultados concretos, objetivos para a gente mostrar e a despesa e o custo foi elevadíssimo em diárias, passagens, hospedagem, tempo, esforço despendido”.

Então, só rindo para não chorar, já que a gente não consegue mais nem se surpreender com a esculhambação geral. Só dói quando penso que estão mesmo esculachando com a gente.

(*) Orlando Fonseca é professor titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura e Mestre em Literatura Brasileira. Foi Secretário de Cultura na Prefeitura de Santa Maria e Pró-Reitor de Graduação da UFSM. Escritor, tem vários livros publicados e prêmios literários, entre eles o Adolfo Aizen, da União Brasileira de Escritores, pela novela Da noite para o dia.

OBSERVAÇÃOA imagem que ilustra esta crônica é um dos muitos “memes” que circulam pela internet, por conta da acusação, feita pelo presidente Bolsonaro, de que Leonadro DiCaprio é um incentivador das queimadas na Amazônia

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