ARTIGO. Ricardo Ritzel e um produto da Revolução Federalista: a Divisão da morte contra os maragatos
O nome da morte é Divisão do Norte
Por RICARDO RITZEL (*)
Era final de maio de 1893. Depois de quatro meses de batalhas, alguns combates e muitas refregas por toda região da Campanha e Missões gaúchas, o exército federalista se encontra em um grande dilema: como manter aceso do fogo revolucionário no Rio Grande do Sul com a mais absoluta falta de armas, munição e cavalos?
Foi aí que o até então líder do movimento, general Joca Tavares, propõe um encontro entre seus generais e coronéis para discutir se os rebeldes deveriam voltar, ou não, para o Uruguai para se remuniciarem e reporem a cavalhada, sob pena de perderem o moral alto de seus soldados, assim como apoio de seus simpatizantes, que poderiam entender a retirada como uma impotência frente às forças legalistas.
Foi neste instante também que Gumersindo Saraiva se torna uma lenda ao decidir ficar no Brasil com sua coluna armada apenas com algumas poucas armas de fogo, lanças feitas de tesouras de esquila e adagas de todos os tipos.
Saraiva divide suas forças em vários piquetes e começa a atacar nos lugares mais improváveis ao mesmo tempo e, depois, torna a sumir nos atalhos da grande planície sulina, para logo a frente se reunir de novo e dar combate em outro e ainda mais inusitado alvo.
Como se dizia na época, “Gumersindo estava em todos os lugares e nenhum ao mesmo tempo”. Era a velha guerrilha charrua (ou guarani) revivida quase duzentos anos depois.
Foi também neste momento do conflito que o senador Pinheiro Machado e o coronel Maneco Vargas, aliados do presidente do Estado, Julio de Castilhos, perceberam que estavam lutando com homens que tinham nas agruras de uma campanha militar na pampa, o seu “habitat” natural, a sua zona de conforto.
O resultado foi a criação da Divisão do Norte. Uma força de combate ao Exército Libertador que reunia homens que nasciam e viviam no lombo de um cavalo e tinham a mesma maestria com lâminas aprendidas no dia a dia da lida campeira que seus opositores federalistas.
Conta a história que todos os “gaúchos errantes” do Planalto Central e Serra do Rio Grande do Sul foram recrutados a patacões e, outros, com uma “certa” resistência ao alistamento forçado, sob a ameaça de uma faca na garganta.
A partir daí, a revolução federalista de 1893 se torna uma perseguição implacável por quase 3 mil quilômetros à coluna rebelde de Saraiva, em uma das maiores marchas militares do mundo que somente acabou com dois tiros certeiros no líder revolucionário nos campos do Carovi.
Por ironia do destino, a Divisão do Norte não foi responsável pela morte do mais famoso general maragato, mas mantendo sua fama, descobriu onde Gumersindo estava enterrado, retirou seu cadáver da sepultura e o expôs nu em uma estrada de Itacurubi para que seus soldados tivessem a certeza da morte do líder rebelde.
O comandante da Divisão do Norte, general Rodrigues, cortou e guardou como souvenir as orelhas de Saraiva. O coronel Firmino de Paula se apropriou da espada do maragato e ordenou que decepassem sua cabeça para enviar ao Palácio Piratini, enquanto a soldadesca disputava pedaços de sua barba e roupas.
A partir daí, toda a Divisão do Norte começa a se ocupar em caçar, manear e amarrar pelo pescoço todo e qualquer homem encontrado naqueles campos. Em sua maioria, desertores e soldados federalistas traumatizados pela morte de seu líder. Assim, cerca de 800 maragatos foram sumariamente degolados na frente da tropa legalista missioneira de Vargas e Machado.
Naqueles dias de agosto de 1894, a morte tinha nome e sobrenome: Divisão do Norte!
(*) RICARDO RITZEL é jornalista e cineasta. Apaixonado pela história gaúcha é roteirista e diretor do curta-metragem “Gumersindo Saraiva – A última Batalha”. Também é diretor de duas outras obras audiovisuais históricas: “5665 –Destino Phillipson”, e “Bozzano – Tempos de Guerrra”. Ricardo Ritzel escreve neste site aos sábados.
aquela foto nao é da divisao do norte e sim do quartel do caty em livramento e os soldados de joao francisco.
Muito bom. Dali a pouco chega na Hiena do Cati.
Pinheiro Machado foi eminencia parda na Primeira República, Hermes da Fonseca dizia que ‘é um amigo tão bom que até governa pela gente’, segundo as más línguas. Sobrinho neto dele, o Anonymus Gourmet lançou um livro ‘O Senador acaba de morrer’ pela LPM, editora do irmão do mesmo. Obvio que em algum grau é chapa branca.
Alás, para quem gosta de história (e ainda não viu) existe um material genealógico e histórico muito interessante produzido por um pessoal de Cruz Alta (se não me engano) chamado Genealogia Tropeira. Cinco volumes em pdf disponível gratuitamente na rede.