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ARTIGO. Luciano do Monte Ribas e a questão: como manter-se animado, “domando o medo e a incerteza”

Como não desanimar? (*)

Por LUCIANO DO MONTE RIBAS (**)

São tantas as dúvidas que nos atormentam nesse maio de 2020, não é mesmo?

Uma delas, porém, ronda meus pensamentos mais do que todas as outras. Dia e noite involuntariamente ela surge, me cercando como essa poeira miúda que se acumula nas casas (que, por mais que a gente limpe e relimpe, está sempre presente): como não desanimar?

Não me refiro a uma espécie de ethos que o senso comum promove, onde o otimismo a qualquer custo e em qualquer momento seria uma qualidade inquestionável.

Penso que o excesso de otimismo é simples alienação e, em situações como a da pandemia, ser “muito otimista” pode até parecer “bonitinho”, mas não passa de uma forma de irresponsabilidade. A bem da verdade, algum nível de pessimismo, desde que transformado em ação, ajuda nosso senso de preservação e de proteção, como indivíduos e como sociedade.

Voltando à angústia inicial, como não desanimar?

Há uma doença matando pessoas e testando todos os nossos limites. Há uma crise social e econômica de proporções inéditas, cujas perspectivas de solução são, no mínimo, nebulosas. Há uma irresponsabilidade, por vezes criminosa, disseminada por gente que está “cagando e andando” para as outras pessoas – “gente” capaz de agredir enfermeiros, que são a verdadeira linha de frente da nossa defesa contra a covid-19, na principal praça pública do país. Há um bandido, chefe de uma quadrilha familiar de milicianos, nos destruindo como humanidade e como nação, dia após dia. Há um isolamento que não nos permite abraçar, de forma literal e simbólica, outras pessoas que, certamente, também cansaram de assistir tanta idiotice e desejam agir.

Enfim, há obstáculos e problemas como nunca antes enfrentamos, ao menos em tempos de paz. Esse é o verdadeiro “novo normal” com o qual temos que lidar.

Como não desanimar, repito olhando as “cacarias” que me cercam nessa tarde de 6 de maio, como se delas pudesse vir uma resposta?

Livros, velhos discos, fotos, souvenirs, anotações, desenhos, objetos de família… nada dizem, mas tudo reverberam, pois em todos os “seres inanimados” há pedaços de história, experiências, sabedorias colecionadas, dores vividas e alegrias, que serão eternas enquanto a memória existir. Nos silêncios há tudo isso e há muito mais.

Não descobri uma resposta universal, mas acho que encontrei, ao menos, um lugar para buscá-la.

Creio que não desanimaremos simplesmente não desanimando. Domando o medo e a incerteza em nome do que nos cerca, lembrando das pessoas, do que já foi vivido e do que ainda está por vir. Não é otimismo, apenas o difícil exercício de buscar a resiliência, achando justificativas para isso em tudo aquilo que nos é importante.

Vou mentalizar essa resposta e seguir na travessia. A todxs que me leem, desejo que possam achar um caminho também, pois estamos no mesmo barco.

Contem comigo. E fora Bolsonaro.

(*) Se possível, leia (ou releia) ouvindo “There Is a Light That Never Goes Out” do The Smiths. Aqui:

 

 (**) Luciano do Monte Ribas é designer gráfico, graduado em Desenho Industrial / Programação Visual e mestre em Artes Visuais, ambos pela UFSM. É presidente do Conselho Municipal de Política Cultural e um dos coordenadores do Santa Maria Vídeo e Cinema, além de já ter exercido diversas funções na iniciativa privada e na gestão pública.

Para segui-lo nas redes sociais: facebook.com/domonteribas – instagram.com/monteribas

Observação do autor, sobre a foto: filhas, filho, enteados e “sobrinho emprestado” no Café Brasilero (o preferido por Eduardo Galeano), em Montevideo.

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