Nau à deriva
Por MICHAEL ALMEIDA DI GIACOMO (*)
Não há sextas-feiras sem emoção na república bolsonarista e geralmente são reservadas para que os ministros informem sua demissão, como ocorreu com Moro e Teich. No caso de Mandetta, parece que foi numa quinta. Os domingos também são movimentados, quase sempre com o comandante da nação marcando sua presença em algum ato a vociferar contra a democracia.
Em meio a toda essa movimentação, nociva a qualquer governo que se preze responsável, as pantomimas exaradas pelo presidente da nação, no que se refere aos cuidados com a saúde dos brasileiros, são diametralmente opostas a todas as orientações oriundas de órgãos internacionais.
A soma da incompetência na gestão, com o desprezo pela ciência, nos remete a um cenário sombrio. E isso se dá, não somente por forjar uma crise política constante, mas, principalmente, por elevar o Brasil à condição de país com grande número de vítimas fatais causadas pela pandemia.
Com pouco mais de um ano de governo, a cada dia é mais evidente que o Messias não tem a estatura necessária para liderar o Brasil, um país com muitas discrepâncias sociais, as quais restam por ser aprofundadas com a crise econômica e sanitária. A pergunta que não cala, a qualquer sujeito de bom senso, é: até quando?
O viés sociopata de Bolsonaro é a principal marca de sua gestão e o resultado a ser esperado não será outro senão um verdadeiro genocídio das populações vulneráveis que moram nas periferias das cidades. Esse foi um dos pontos alertados por instituições como a Anistia Internacional, a Associação Brasileira de Imprensa, Sindicatos Médicos, entre outras, em informe publicitário veiculado no último domingo.
O contraste do avanço da pandemia no Brasil, em relação a outros países da América do Sul, já é motivo para que as nações vizinhas adotem fortes medidas de isolamento em relação ao nosso país. Enquanto isso, segue a defesa insana, por aqueles que sequer algum dia colocaram seus pés em uma graduação de Medicina, na recomendação do medicamento cloroquina como eficaz no tratamento da doença. É o mundo das opiniões apócrifas.
O colapso no sistema de saúde é uma triste realidade na região norte do país e, com a ressalva do trabalho de alguns governadores, logo em seguida será a realidade de muitas outras regiões da federação. Ao tempo que muitos países adotam procedimentos como a testagem em massa da sua população, a fim de promover medidas de contenção, no Brasil a regra que se impõe é a subnotificação de pessoas contaminadas e de mortes causadas pelo vírus.
Durante esse triste quadro testemunhado por todos nós, é latente a parcimônia de líderes que se autoproclamam democratas, mas, que ao expressar sua “indignação” com meras notas de repúdio, acabam por selar a autocracia bolsonarista.
Enquanto isso, o Brasil segue rumo à bancarrota. Até quando?
(*) Michael Almeida Di Giacomo é advogado, especialista em Direito Constitucional e Mestre em Direito na Fundação Escola Superior do Ministério Público. O autor também está no twitter: @giacomo15.
Observação do editor: a charge que ilustra este artigo é uma reprodução da internet. Mais exatamente do blog do Amarildo, autor da obra: AQUI.
Para quem viveu até hoje somente às custas de cargos de confiança de governos. Não tem moral para criticar o Presidente Bolsonaro.