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ARTIGO. Ricardo Ritzel, Flores da Cunha e aquele momento em que o homem se transforma em lenda

Flores da Cunha, entre o homem e a lenda (2ª parte)

Flores é considerado o melhor tribuno da história do parlamento brasileiro

Por RICARDO RITZEL (*)

E assim foram se passando os dias como também a guerra civil no Rio Grande do Sul. Flores com a maioria das vitórias em combate na Revolução de 1923 e Honório sempre escapando para Serra do Caverá.

Mais tarde, quando o Tratado de Pedras Altas deu por terminado o conflito, Honório e Flores iriam novamente demonstrar, desta vez juntos, de que é feito um general gaúcho.

O fato aconteceu alguns meses depois da pacificação, com os ânimos da gauchada ainda a flor da pele. Maragatos históricos se encontraram em Uruguaiana, com direito a um concorrido coquetel em homenagem a Honório, no tradicional Clube Comercial.

Como prefeito daquela cidade, o general foi convidado para a confraternização, mas ninguém acreditava que fosse. Para surpresa de todos, foi e não só participou do brinde ao homenageado, como também tirou uma histórica foto ao lado de seu arqui-inimigo e, logo após, teve uma breve, mas também cordial conversa com o Leão do Caverá. Quem presenciou o episodio, jura que pareciam velhos amigos.

O Rio Grande veio abaixo. Principalmente o Rio Grande dos radicais, dos ressentidos e dos políticos fanáticos. Já que com aquela conversa, Lemes e Flores demonstraram que maragatos e chimangos podiam sim conversar em volta de uma mesa sem se matarem. E, melhor ainda, brindarem com champagne o encontro.

Dois gigantes, tanto na guerra quanto na paz.

Porém, aquele brinde em Uruguaiana não impediu que os dois homens se encontrassem, de novo, como inimigos no campo de batalha nas revoltas de 1924 e 1925.

Sendo que nesta última, Flores e sua Brigada do Oeste conseguiram dar um golpe tático na, até então, escorregadia coluna revolucionária do general Honório e a imobiliza entre Rio Ibicuí e o Banhado das Marrecas, em São Gabriel.

Para evitar derramamento de sangue da sua gente, Honório sai sozinho da trincheira e se dirige a Flores para se render, quando se ouve este diálogo:

-“General, finalmente a vitória é sua. Como quer que eu o trate, de doutor ou general?

– “Me chame apenas de doutor, já que sou formado em Ciências Jurídicas”, respondeu Flores.

– “Melhor assim, porque nestes tempos, qualquer índio rude como eu pode ser general”, retrucou Lemes, já retirando seu revólver do coldre e o entregando a Flores.

– “Não quero sua arma, general. Não se tira o revólver de um general gaúcho”, disse o tenente-coronel Flores da Cunha, já dando um passo para trás.

LEIA TAMBÉM A PRIMEIRA PARTE DESSA HISTÓRIA:

Flores da Cunha, o ultimo caudilho (AQUI)

O coronel Flores da Cunha na revolução de 1923

 

Neste instante, Osvaldo Aranha, que tudo assistia ao lado, atira o chapéu para cima e grita: “Viva o Rio Grande do Sul…Viva a toda a nossa gente”. A saudação foi replicada e ovacionada por toda tropa legalista e maragata.

Naquele mesmo dia, Flores ainda salvou a vida de Honório Lemes quando, já no trem que os levava para Porto Alegre, se colocou entre o líder maragato e um grupo de oficiais chimangos que queriam a degola pura e simples do lendário general maragato. Honório chegou vivo na capital gaúcha e, conta a lenda, cumpriu 20 meses de sua pena com seu revólver na cintura.

Naquele mesmo ano, José Antônio Flores da Cunha ganhou do presidente da República, Arthur Bernardes, as divisas de general honorário do Exército Brasileiro, por serviços prestados á Pátria em campo de batalha.

Quase cinco anos depois, quando maragatos e chimangos se uniram na Revolução de 1930 para derrubar a República Café com Leite, Flores envia uma carta ao antigo inimigo, o convidando para cavalgarem juntos com objetivo de derrubar o presidente Washington Luis.

A princípio, Honório reluta em participar de outra refrega alegando querer passar mais tempo com a família, mas quando lhe entregam um exemplar do jornal Correio do Povo com uma entrevista cheia de elogios de Flores para ele, muda de ideia e confirma sua participação na conspiração.

Mas o destino não permitiu está cavalgada de gigantes lado a lado. Honório falece, no dia 30 de setembro de 1930, três dias antes de a revolução ser deflagrada. Vários depoimentos e muitas testemunhas dizem que o general Flores chorou como uma criança quando soube da morte de seu antigo inimigo, entrando em um sincero e triste luto.

E, mesmo de luto, Flores da Cunha foi a grande diferença e fator de vitória em mais uma revolução. Desta vez, a de 1930. Na verdade, ele e Osvaldo Aranha foram os grandes personagens da conspiração que levou Getúlio a presidência do Brasil. Osvaldo como articulador político e Flores como chefe militar.

Por indicação do líder federalista Assis Brasil, e como sinal de uma nova era entre maragatos e chimangos, o tenente Antero Marques se apresentou para participar do Estado-Maior de Flores da Cunha pouco antes do início da revolução. E assim ele descreve no seu livro “Diário Que Não Foi Escrito”, a acolhida que seu antigo inimigo lhe deu na conspiração:

– “No dia 3 de outubro, pouco antes das 5 da tarde, nos apresentamos ao doutor Flores da Cunha, e este me disse: “Então, depois de sermos adversários em 23, vamos combater juntos?… E acrescentou, firme, resoluto, transfigurado, ressentido e vibrante: “Dentro de alguns minutos, ou morremos todos na frente deste quartel, ou a honra do Rio Grande será lavada!”

Flores distribuiu armas e logo estava na frente de seus homens, pronto para o combate”, contou.

E o próprio general José Antonio Flores da Cunha continua o relato dos fatos e personalidades que deflagraram a revolução, exatamente às 5 da tarde do dia 3 de outubro de 1930, quando, a seu comando, um grupo tomou de assalto o quartel-general do Exército Brasileiro, na Rua da Praia, em Porto Alegre:

-“Nós saímos pelos fundos da Brigada Militar, onde era a Guarda Civil, em um ângulo morto para os vigias do quartel. Éramos um grupo de cerca de 30 pessoas.

Quando chegamos perto, eu disse, a carga!…e nem vi o que aconteceu com a sentinela que estava ali….e entramos. E de mão limpa, tchê. Só fomos arrancar as armas, os revólveres, depois….que gesto daquela gente…de mão limpa!”

E segue o testemunho de Antero Marques: – “E aí começou um tiroteio imenso, terrível, brutal. Os projéteis explodiam contra o pavimento como uma chuva no zinco. (…) Nunca esquecerei o olhar, brilhante, que o general atirou para mim ao passar. As descargas eram nutridas. Uma chuva de balas, uma chuva de respeito.  (…) mas, com Flores na frente, tomamos o quartel como de arrasto”.

Vinte dias depois, no dia 23 de outubro, já com as forças revolucionárias vitoriosas e a menos de um dia para chegar a capital federal, assim Marques nos conta outra passagem de sua convivência com Flores da Cunha, que também explica como surgiu a lenda de general invencível:

– “Ao me acordar, percebi meus companheiros de barraca já fardados, armados e com os cavalos encilhados. Alguns até montados. Não compreendi direito e indaguei ao meu amigo Aureliano de Figueiredo Pinto: – “…e então…o que houve? Por quê não me acordou? Estou atrasado?”.

Flores já como general honorário do Exército Brasileiro, em 1925

E Aureliano me respondeu: “Estou cumprindo ordens. Já estava tomando mate quando o Flores chegou. Fui te acordar direto, mas o general não me deixou”, respondeu o amigo já lhe contando a determinação do chefe.

Não acorda, Aureliano. Não acorda. Deixa dormir, está cansado. Trabalhou muito neste últimos dias. Cumpriu ordens com valor. Deixa dormir”, disse-lhe o general Flores.

Eu relato este episódio para mostrar o feitio do general Flores. Pois este homem, como caudilho, era insuperável. Esse homem atendia a tudo e sabia tudo que se passava em sua força e com seus soldados. Para mim, pelo que me contou o Aureliano, foi um tremendo elogio. Tinha algo que o grande corso (Napoleão Bonaparte) dava a seus soldados”, concluiu o então major Antero Marques com admiração.

Terminada a revolução e com Getúlio já no Poder, Flores havia se tornado um mito no Rio Grande do Sul. Tanto que foi nomeado governador do Estado pelo novo regime e a aceitação de seu nome foi quase uma unanimidade entre os gaúchos. Mas no resto do país ainda era visto como o líder de um bando de semibárbaros egressos de uma sociedade pastoril. Uma evocação ao natural de “Facundo-Civilização e Barbárie” descrita por Sarmiento.

Novamente José Antonio Flores da Cunha surpreende a todos e faz um dos melhores, se não o melhor, governo do Rio Grande do Sul de todos os tempos, mesmo assumindo o poder com as finanças públicas em péssima situação. Desesperadora para ser mais exato!

Tanto que dos sete anos que governou o Estado, três deles foram para colocar a casa em ordem. E a primeira medida foi só gastar o que tinha no cofre. A segunda foi não aumentar impostos, mas cobrá-los rigorosamente de todos, sendo correligionários ou não. A terceira foi investir em infraestrutura para economia local.

Em três anos, os números gaúchos passaram a ser de primeiro mundo e o feito foi coroado com a realização da Exposição Farroupilha de 1935, quando, literalmente, o mundo todo veio para o Parque da Redenção, em Porto Alegre, e a pujança rio-grandense foi apresentada ao mundo.

Está é uma breve e concisa lista de suas realizações no período (deixando de fora muitas outras para não se tornar maçante): criou a Bolsa de Fundos Públicos (Bolsa de Valores); começou a operar a Loteria Estadual; criou a Secretaria de Agricultura, Indústria e Comércio (uma inovação para época que impulsionou a economia local); fundou os Institutos Rio-Grandenses de Carnes, do Vinho, do Mate, do Pinho, do Arroz; Incentivou o cultivo do trigo, da cana de açúcar e da soja; promoveu a melhoria das pastagens com a cultura de gramíneas mais produtivas; estimulou a pomicultura com a criação de estações experimentais de estudo e apoio; criou a frota frigorífica rio-grandense para escoar a produção; liberou um crédito especial que manteve a Varig em atividade; promoveu melhorias e aumento das linhas ferroviárias; estimulou o transporte fluvial e a construção de rodovias em todo estado; recebeu o estado com 11 escolas estaduais e o entregou com 972; criou a Universidade de Porto Alegre (hoje UFRGS); implantou o ensino noturno para jovens que trabalhavam durante o dia; criou o Juizado de Menores; fundou o Tribunal de Contas do Estado; criou o Instituto de Previdência do Estado; implantou o Estatuto do Funcionalismo Público e a abertura de concursos para provimento de cargos na administração; ajudou a fundar a Refinaria Ipiranga, fundou a Rádio Farroupilha e abriu linhas de fomento a cultura gaúcha.

Enfim, não é pouca coisa!

Então, proporcionalmente ao sucesso de suas medidas e ao desenvolvimento á olhos vistos do Rio Grande do Sul, sua relação com Getúlio se desintegrava.

E estas desavenças começaram quando Vargas tomou conhecimento que Flores só ficou ao seu lado na crise constitucionalista de 1932, porque  os paulistas divulgaram seu apoio à causa antes dele anunciar seu descontentamento com os rumos do governo federal pessoalmente com presidente da Nação.

Medida imposta por Flores da Cunha como “sine qua non” para renunciar ao cargo dado pelo presidente e apoiar os ideais dos rebeldes de 32 que eram os mesmos ideais da revolução de 30.

Quem viveu a crise de 1932, afirma que, se Vargas fosse deposto, o nome mais cotado para ser presidente do Brasil era o de José Antonio Flores da Cunha.

Conta a história que, antes do golpe do Estado Novo, Getúlio veio ao Rio Grande e se hospedou no Palácio Piratini. Já tarde da noite, praticamente invadiu o quarto do general e começou uma longa conversa com objetivo de sondar se tinha, ou não, o apoio de Flores da Cunha para seus objetivos políticos. Quando o general percebeu a intenção, não dissimulou o desgosto e ainda deixou bem claro que não somente desaprovava as intenções ditatoriais de Vargas. Seria contra!

Getúlio voltou para seu quarto, arrumou as malas e saiu do Palácio em plena madrugada para se hospedar em um hotel. Nunca mais seriam amigos de novo.

E quem viveu está época  conta também que Flores começou proteger e dar guarita aos crescentes casos de perseguidos políticos do governo brasileiro que começaram a bater na porta do Palácio Piratini. E não foram poucos os que ajudou a fugir de Filinto Muller, chefe da policia política de Vargas.

Então, Getúlio fortaleceu o Exército no Rio Grande do Sul, anulou a Brigada Militar e depôs Flores do cargo já com ordem de prisão emitida. O general, que de bobo também não tinha nada, percebeu o golpe e se antecipando à repreensão do antigo aliado, fugiu para o exílio uruguaio em um avião da Varig, onde fica por seis longos anos.

A partir daí, Vargas começa (junto com seus correligionários) a promover o “esquecimento” do general, e a “demolir tudo que o general havia erguido. Só não liquidou o que não pode, deixando transparecer um desejo irrefreável de apagar a sua memória”, como conta o jornalista Rubens Vidal Araújo em sua obra “Os Vargas”.

Ou seja, se uma obra de Flores não poderia ser posta abaixo, seu nome seria apagado. E foi. Tanto que até hoje não há um busto, pintura ou fotografia de Flores no Palácio Piratini. Mas há exceções, como a volta de seu nome ao Instituto de Educação por ordem do então governador Leonel Brizola, depois de ser trocado durante o Estado Novo.

Durante o exílio, a única visita que recebeu, além da mulher e filhos, foi a do ministro (e amigo de toda vida) Osvaldo Aranha. Vargas fazia que não “via” para não perder outro aliado de peso, mas colocou um antigo inimigo do general como adido na capital uruguaia com ordens expressas de vigilância constante sobre Flores: Batista Luzardo. E assim foi feito.

Em 1942, triste e solitário por tanto tempo, Flores decide então regressar ao Brasil, mesmo com ordem de prisão vigente. Não deu outra: ao descer do avião no Aeroporto do Galeão, no Rio, foi preso na hora e enviado rapidamente a Ilha Grande, onde o Estado Novo isolava seus desafetos políticos.

Durante os nove meses que passou na ilha, iniciou ele mesmo uma plantação de hortaliças, uma criação de cabras e outra de galinhas. Distribuiu a produção entre seus “colegas” e ainda se tornou um amigo íntimo do diretor do presídio, coronel Nestor Veríssimo (tio do escritor Érico).

Quando finalmente Getúlio atendeu aos insistentes apelos de Osvaldo Aranha para libertá-lo, se despediu da ilha sob aplausos dos outros internos, inclusive da guarda do presídio e seu diretor.

Voltou à vida pública e se elegeu senador da República e, depois, novamente deputado federal, até morrer, em 1959. Na Câmara, escreveu uma trajetória de sucesso que culminou com uma homenagem extraordinária de uma placa com seu nome na cadeira que ocupava. A única de toda história do parlamento brasileiro, até hoje.

Sendo que o ponto alto desta fase de sua vida política foi garantir, como presidente da Câmara dos Deputados, a posse de Juscelino Kubischeck que estava ameaçada por ideais totalitários., mesmo sendo contra aos interesses de seu partido na época (a UDN).

Enfim, a vida pública do general José Antonio Flores da Cunha o tornou uma lenda. Porém, com um alto custo em sua vida privada, tão atribulada e cheia de altos e baixos como a primeira.

A começar pelo seu casamento, que acabou, em 1926, tão logo sua esposa, Dona Irene, descobriu que o garoto que a sogra estava criando era, na verdade, filho de seu marido com uma vedete francesa. Acabou o casamento, mas não a cordialidade e o bem querer. Flores continuou almoçando com Dona Irene e os filhos durante toda sua vida e foi segurando a mão dela que o general deu seu último suspiro, em 1959, na capital gaúcha.

O general iniciou e terminou militarmente a revolução de 1930

A partir desta “separação”, a vida amorosa do general entrou em uma verdadeira “revolução” até o seu falecimento, em uma sucessão sem fim de amores, paixões e prazeres mundanos. Na lista de parceiras e namoradas, atrizes, vedetes, cantoras de sucesso, senhoras da sociedade, viúvas, casadas e até mesmo uma humilde camareira de hotel.

Como contraponto a favor do general, nunca se esqueceu de nenhuma delas. Conta a lenda que, já no final da vida, um amigo médico lhe contou que uma senhora de origem uruguaia, sua paciente, guardava há décadas, desde a mocidade, uma foto de Flores com uma dedicatória amorosa. Ele não hesitou um segundo  e já com os olhos marejados respondeu: – “Então ela ainda está viva. Mande um abraço bem forte e demorado para Célia”.

Sua paixão pelos jogos de azar também foi lendária, principalmente pelo pôquer e pelas corridas de cavalo. Tanto que o próprio Jockey Clube do Rio Grande do Sul nomeou sua principal e mais importante prova de Grande Prêmio Flores Cunha.

Conta a história que Getúlio (e sua tigrada), de tanto pressionar a direção do Jockey para trocar o nome do prêmio, conseguiu, no máximo, criar um outro: Grande Prêmio Getúlio Vargas. A paixão de Flores pelos cavalos falou mais forte que a ditadura.

E esta paixão por mulheres e jogos era tão arraigada que, ao ser indagado por um repórter de como chegou ao final da vida sem terras e fortuna, respondeu que a causa foi “acreditar em cavalos lerdos e mulheres ligeiras”.

Mas, para posteridade, fica seu último discurso, proferido seis meses antes de morrer no mesmo quartel que invadiu em 1930, quando recebeu a Comenda do Mérito Militar.

Conta a lenda que o general chegou a recepção bastante fraco e já bastante abatido com a doença que o matou. Porém, ao iniciar sentado o discurso de agradecimento, foi pouco a pouco se emocionando, chegando ao seu final já de pé e com a voz de um jovem tribuno brandindo com emoção. Ou melhor, era só emoção:

– “Sou um cavalariano de vocação, um soldado amador que foi aprender nas nossas desgraças e ingratas lutas fratricidas os rudimentos da arte militar. Foi em animi vili, debaixo de fogo, levando chumbo no couro, que adquiri os conhecimentos necessários para comandar uma tropa de mais de dois mil homens em guerra irregular. Toda está tropa composta de voluntários e idealistas, que mais combatiam por ideal partidário que pelo dever de soldado.

Hoje, alquebrado e quase octogenário, chego ao fim da minha jornada recebendo está honrosa insígnia, um prêmio para um homem que dedicou mais de sessenta anos de sua vida a causa pública. Chego ao fim da jornada com a cabeça inclinada sobre um coração desfalecente, enfraquecido, e com as narinas dilatadas ao aspirar o perfume sutil da saudade que embalsa os últimos dias da minha vida”.

Foi aplaudido de pé por muito, mas muito tempo mesmo.

O general ainda iria surpreender seus amigos e inimigos antes da morte. Em sua última entrevista, admitiu que, “se mais jovem fosse, possivelmente iria abraçar a causa socialista, para uma justiça social mais efetiva, assim como a religião católica, para cuidar mais de minha alma”, confessou.

José Antonio Flores da Cunha faleceu às 5 da tarde, do dia 4 de novembro de 1959, em Porto Alegre. Tinha 79 anos. Com ele, morreu junto o último caudilho gaúcho, o último general da lendária cavalaria rio-grandense.

Enfim, o Rio Grande e seus paradoxos: um general do período mais bárbaro da história rio-grandense indica o caminho da civilização, mostra como viver entre diferentes no meio das maiores tempestades das paixões políticas brasileiras.

Histórias do Rio Grande do Sul. A nossa história!

Fotografia com o inimigo, Honório Lemes, em 1923, em Uruguaiana – uma surpresa para o Rio Grande. Brinde pela paz foi com champagne!

(*) RICARDO RITZEL é jornalista e cineasta. Apaixonado pela história gaúcha é roteirista e diretor do curta-metragem “Gumersindo Saraiva – A última Batalha”. Também é diretor de duas outras obras audiovisuais históricas: “5665 – Destino Phillipson”, e “Bozzano – Tempos de Guerrra”. Ricardo Ritzel escreve neste site aos sábados.

Bibliografia:

– Flores, de corpo inteiro, da Cunha, de Lauro Schirmer, RBS Publicações, 2007

– Um Diário Não Escrito, de Antero Marques, Grafosul, 1983

– Do Ibirapuitan ao Armistício, de Antero Marques, 1980

– Guerra dos Gaúchos, organizado por Gunter Axl, 2000

– Como dizia Honório Lemes, de Zola Pozzobom, Martin Livreiro, 1997

AINDA:  clique abaixo e escute trecho da entrevista feita pela Radio da UFRGS com o general José Antonio Flores da Cunha, em 26 de maio de 1959, seis meses antes de sua morte.

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Um Comentário

  1. Muito bom.
    Na verdade existe uma diferença de visão de mundo. Existem diversos documentários sobre americanos voltando ao Vietnã para reencontrar antigos inimigos. Comentar o que passaram na juventude. Já assisti a outro sobre conflito na antiga Rodésia e mais de um dos entrevistados manifestou a vontade de fazer a mesma coisa. Bebidas mais humildes e em quantidade maior obviamente.

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