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É CINEMA. No retorno ao site, Bianca Zasso e onde Joaquim entra (e como entra) nesse espaço de crítica

A mãe cinéfila

Por BIANCA ZASSO (*)

Muitos foram os dias em que esta colunista que vos escreve se viu diante de uma folha em branco e da agonia de escolher o momento “certo” para voltar a escrever neste espaço. Uso as aspas porque até a noção de certo e errado não é mais a mesma. O cardápio que inclui pandemia e nascimento de um filho não foi de fácil digestão, mas ensinou novas receitas para esta humilde jornalista e crítica de cinema.

Toda essa introdução é para dizer que volto ao site do meu querido e sempre paciencioso Claudemir Pereira muito antes do que estava combinado dentro do meu cronograma pelo simples fato de que ele deixou de existir. E por mais que as plataformas de streaming lancem um filme atrás do outro e a programação dos festivais de cinema estejam a um clique de distância, hoje eu não vou escrever uma crítica. Mas criar frases e mais frases sobre filmes e diretores não é o que eu mais amo fazer na vida? É. E por isso mesmo aperto o pause no assunto neste momento.

A maternidade é transformadora e acredito que tem um peso extra para mulheres como eu, que nunca haviam romantizado esta fase. Eis que, mesmo ciente de que a chegada de um bebê na minha vida traria mudanças físicas e psicológicas, além de um novo ritmo e rotina, prometi a mim mesma não desistir dos meus sonhos e projetos.

Sigo firme neste propósito, mas o furacão também passou por aqui. Explodi como o produto químico em Beirute e ainda me encontro reunindo pedaços, jogando fora algumas partes. Sou uma mãe cinéfila, que passou a gestação preocupada com os filmes que um dia assistiria junto com seu pequeno.

Ainda me pego planejando sessões, mas não com a mesma euforia de antes. Aprendi que diante de mim está um novo ser humano, autêntico e com um olhar próprio sobre o mundo. E quero respeitá-lo, acima de qualquer coisa. Não é mais o bebê que eu idealizei que me acorda no meio da madrugada. É o Joaquim, meu filho e futuro cidadão do mundo. Um novo mundo, dizem por aí.

Como a maioria dos meus trabalhos como crítica não é remunerado (acreditem, muita gente não sabe disso e se surpreende) e a pandemia também bateu na minha porta, me peguei preocupada demais em voltar ao mercado de trabalho, num clima quase desesperador. Tenho um filho para criar, não posso mais sonhar.

Outra explosão: volto a minha promessa. Não irei desistir. Isso porque, apesar das minhas dificuldades atuais (que eu sei que são mínimas perto da maioria da população brasileira) eu não posso me abater. A nova vida que está diante de mim precisa de um exemplo e não há nada pior do que alguém que deixou de sonhar.

O chamado puerpério (procure no Google, é complexo demais para explicar em poucas linhas) embaralhou meus hormônios e eu ainda preciso lidar com horas de nostalgia e desesperança. Mas um parzinho de olhos brilhantes me fita sem parar e eu lembro da força que foi encontrá-lo pela primeira vez fora da barriga.

Estou de volta. Ainda cambaleante, mas sem vergonha do desequilíbrio. A Covid-19 trouxe muito sofrimento e medo, mas também nos fez descobrir que em cada casa há uma família diferente em número e formato, mas que nenhuma se parece com as que são mostradas nos antigos comerciais de margarina.

Até eles mudaram. E por acreditar que um amanhã mais ensolarado e esperançoso nos espera, com filmes, abraços e recomeços, volto a escrever, que é o ato que (ainda?) não paga todas as minhas contas, mas me revigora e me diverte. E, dizem, pode mudar o mundo.

(*) Bianca Zassonascida em 1987, em Santa Maria, é jornalista e especialista em cinema pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Cinéfila desde a infância, começou a atuar na pesquisa em 2009. Suas opiniões e críticas exclusivas estão disponíveis às quintas-feiras.

Observação do Editor: a foto que ilustra este texto não poderia ser outra, senão a da colunista e de Joaquim e é uma reprodução do Facebook.

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