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A insegurança nos faz precavidos ou preconceituosos? – por Daiani Ferrari

Dia desses, passeava com o cachorro e na esquina de casa vi duas pessoas caminhando em minha direção. Era noite, estava escuro. Pareciam ser dois homens, um mais alto e magro e outro mais baixo, e mais velho. Eles se aproximaram e seguiram caminhando atrás de mim. Um deles empurrava uma bicicleta. Chamei o cachorro e apertei o passo. Quando chegamos em frente ao meu prédio, abri rápido o portão, entramos e o fechei mais rápido ainda. Olhei para os homens que então passaram e eram pai e filho. Eu os tinha visto pela cidade. O pai deve ter uns 40 anos e o menino não mais que 15, mas como é alto, de canto de olho, parece ter mais.

Perto da meia-noite, no domingo, no mesmo passeio costumeiro com o cachorro, um moço grande surge do nada e vem atrás. Quase junto conosco. Caminhei mas rápido e cheguei na entrada do prédio, quase ao mesmo tempo em que ele também foi para a entrada do prédio. Nesse momento, confesso, achei que era um assalto e já me preparava para entregar o telefone e um anel que usava. Ele me olhou fundo nos olhos, deu oi, fez um carinho no cachorro, sacou a chave do bolso e abriu o portão. Ele é morador do meu prédio e eu não sabia. Nunca o tinha visto. Depois, fiquei sabendo que o moço mora no apartamento em cima do meu.

Essas duas situações, mais algumas reclamações sobre o sentimento de insegurança que paira sobre a cidade me levam a uma triste constatação. A insegurança nos deixa preconceituosos. Digo isso porque qualquer pessoa que chegue perto de mim de noite, na rua, ou chegue muito perto a qualquer hora do dia, é um potencial assaltante, assim como eu posso ser para os outros. Na cabeça de pessoas assustadas é assim que funciona. Em Candelária um bandido apeou da moto em frente a uma loja, entrou, sacou uma arma e matou um cliente. Ele, simplesmente, virou as costas e fugiu. Aqui também foi realizada a maior apreensão de drogas do Estado.

Faz umas duas semanas que alguns homens de Santa Catarina tentaram assaltar uma agência bancária explodindo um caixa-eletrônico e essa semana um homem entrou na delegacia e agrediu o delegado, isso sem falar nos vários estabelecimentos comerciais que seguidamente são alvo de arrombamentos durante a noite ou mesmo à luz do dia e em tantas mortes que seguidamente acontecem por aqui – latrocínio, execução, crime passional. A cidade é pequena, mas tem de tudo um pouco. Há algum tempo, alguém entrou no apartamento em frente ao meu e levou televisão, computador e um par de tênis. Até hoje ninguém sabe de nada e ninguém viu nada.

Depois das duas vezes que confundi aquelas pessoas com assaltantes, fiquei com vergonha. Foi feio o que eu fiz, mesmo que sem pensar. Há quem chame de instinto, cuidado, preservação e pode até ser. Mas também é preconceito, sim.

Dito isso, retomo a pergunta:

A insegurança nos faz precavidos ou preconceituosos?

Eu acho que os dois.

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