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Quando a política fala mais alto que a educação – por Giuseppe Riesgo

A capa do Diário de Santa Maria de ontem trouxe uma notícia que comentei em minhas redes sociais semana passada: o corte de 10 milhões de reais no orçamento da Universidade Federal de Santa Maria. Notícia, certamente, preocupante, tendo em vista que tem sido recorrente nos últimos anos. Especialmente para Santa Maria, que precisa muito das verbas da UFSM para manter a renda da população da cidade. Desde 2015, até onde recordo, cortes e mais cortes são anunciados na pasta da educação, durante os governos Dilma, Temer, Bolsonaro e, agora, Lula.

No entanto, o anúncio não só levanta questionamentos sobre o comprometimento do governo federal com a educação, mas também destaca a flagrante hipocrisia de certos setores políticos de nossa cidade. De acordo com quem é o residente do Palácio da alvorada, a indignação muda. Em 2022, quando Bolsonaro era o presidente, a SEDUFSM (sindicato dos docentes da UFSM) não economizou adjetivos ao criticar os cortes na educação. A vice-presidente do sindicato, em ato de protesto ocorrido em 2022, utilizou termos como “atrocidade” e “destruição do serviço público”, conforme notícia do próprio site da entidade (https://www.sedufsm.org.br/noticia/7536-ato-publico-na-ufsm-repudia-corte-de-recursos-pelo-governo-federal).

Manifestações foram organizadas pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE), palavras de ordem ecoaram, e a indignação era fervorosa. No entanto, agora, em uma reviravolta interessante mas não surpreendente, vemos a mesma turma lidando com cortes de magnitude similar de uma forma muito mais branda. Após fazer ecoar seus protestos com tons de urgência e revolta contra a suposta desestruturação do ensino público em 2022, agora, em 2024 a SEDUFSM adota uma postura notavelmente mais moderada, apesar do corte de 10 milhões de reais no orçamento da UFSM. Disse apenas que isso está “na contramão do programa prometido pelo governo federal”. Não há mais “atrocidade” nem “destruição” de nada. Apenas uma leve crítica e esperança de que tudo será resolvido com mobilização em Brasília. (https://sedufsm.org.br/noticia/3311)

O DCE, que antes promovia protestos, fechava a avenida de entrada da UFSM e bradava sua indignação, agora nada diz sobre o governo federal. A única crítica que encontrei em suas redes sociais foi direcionada à própria UFSM, que se viu obrigada a cortar bolsas de estudantes por falta de orçamento.

A hipocrisia aqui é evidente. Quando o governo em questão alinha-se ideologicamente com as posições das entidades, mesmo medidas severas são tratadas com uma condescendência surpreendente. A preocupação com a educação e o serviço público, que deveria ser constante e independente de afiliações políticas, muitas vezes parece ser apenas uma ferramenta retórica para atingir objetivos políticos.

Ao priorizar a política sobre os verdadeiros interesses educacionais, essas entidades perdem credibilidade. A comunidade acadêmica e a sociedade em geral se questionam se as manifestações e críticas são genuinamente motivadas pela defesa da educação ou se são simplesmente estratégias políticas vestidas com o manto da preocupação social.

É crucial que a defesa da educação não seja refém da volatilidade política. Afinal, a qualidade do ensino, a pesquisa e o desenvolvimento acadêmico não devem depender de qual governo está no poder. As entidades estudantis e sindicais deveriam manter um padrão ético e de coerência em suas críticas, independentemente de quem esteja no comando. Afinal, não deveriam ser grupos políticos, ideológicos e partidários, que se portam assim por natureza. Deveriam ser defensores dos estudantes e da UFSM, e não dos seus políticos preferidos. Só assim teríamos ter um debate verdadeiramente construtivo sobre o futuro da educação no Brasil e, especialmente, em nossa universidade.

(*) Giuseppe Riesgo é ex-deputado estadual pelo partido Novo. Ele escreve no Site às quintas-feiras.

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8 Comentários

  1. Resumo da opera. Fazer coisas por principio e não por interesse é coisa da Globo. Negocio é fazer por interesse e fingir que é por principio. SEDUFSM é dos servidores publicos. DCE é de gente que deseja um cabide no serviço publico.

  2. Folha de São Paulo tem time. Inclui a Revista Piaui (que deixei de comprar apesar de ser bem escrita). Perder tempo com propaganda da ideologia dos outros é pecado. Em 2016 0,9% dos que recebiam bolsa familia tinha curso superior. Em 2022 subiu para 2,1%. Aumento bateu nos 150%. Não são muitos, uns 250 mil. Mas já é um sintoma.

  3. O que se pode dizer da cidade? Tem que se emancipar. Também não vai acontecer. São os mesmos de sempre com as mesmas ideias ultrapassadas acumulando anuncios maravilhosos e fracassos há decadas. Com as exceções de praxe continuarão a fazer o que sempre fizeram até entrar em crise. Vide comercio de rua.

  4. E o corte de 10 milhões? Nada. Problema das instituições federais é que necessitam uma reforma. Que não vai acontecer, vão continuar fazendo o que sempre fizeram até chegar numa crise.

  5. Vide Argentina. Quatro anos sem greve no ensino. Mudou o grupo no poder, o que já anunciam? Greve dos professores publicos. Hipocrisia? Não, falta de vergonha na cara. Estão se lixando para o salario ou condições de ensino. É politica do pior tipo. Nada resolve, piora problemas e gera atraso. Quem se preocupa com isto? Basta contratar mais gente e jogar mais dinheiro em cima!

  6. É politica, não é um jogo limpo. Para estes dai existe uma justificativa a mais, têm uma ‘moral’ propria, são auto-declarados superiores, para atingir os fins a que se propoe os meios não importam (Maquiavel deturpado). Quem deseja um ‘futuro melhor para todos’, um ‘planeta mais natural e sustentavel’, uma ‘sociedade mais humana’ está justificado para tudo. É o melhor alibi, qualquer um que fizer uma c@g@d@ basta fazer o ‘L’ que está desculpado. Simples assim.

  7. SEDUFSM e DCE cumprem a função que lhes foi atribuida dentro da corrente ideologica que seguem. Não estão interessados em solucionar nada, estão interessados em manutenção no poder de quem lhes patrocina. Cuja solução para tudo é contratar mais gente e jogar mais dinheiro em cima. ‘Raciocinar’ é coisa da Globo, banalidade do mal e Arendt. O burocrata do partido esta la para cumprir ordens, não para pensar. Origens do totalitarismo. Tudo muito mesozoico.

  8. ‘Especialmente para Santa Maria, que precisa muito das verbas da UFSM para manter a renda da população da cidade.’ Não existe estudo a este respeito, pelo menos não quantitativo. O que diz muito a respeito da instituição. Sabe-se que existe relação, mas não existe um numero. Dai o problema, falar em numeros em alguns setores das universidades gera reações, tanto pelo fator incapacidade quanto pelo fator ideologico (o famoso ‘positivismo’)

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