O deslumbre e o tédio – por Bianca Zasso
Musicais sempre foram garantia de sucesso nos meus bons tempos de cineclubista. Quem frequentava as poltronas do Cineclube Unifra (que completou 10 anos de existência em 2012), sabia que a estação das flores trazia consigo o tradicional ciclo Primavera Musical, sempre com um bom público nas sessões.
De clássicos eternos como A noviça rebelde até produções inovadoras como Amor, sublime amor, ambos do diretor Robert Wise, os musicais sempre rendiam comentários e até declarações de amor dos espectadores. Qual é, afinal, a magia desse gênero? Arrisco dizer que a resposta mora dentro de cada um dos que acreditam que a vida é mágica e, de vez em quando, devíamos ter o direito de sair cantando e dançando por aí. Mas, como tudo na vida, os musicais também têm os seus percalços.
Um dos mais recentes lançamentos do gênero, Os Miseráveis, com direção de Tom Hooper, é um bom exemplo de um mau musical. Partir uma trama de um dos maiores romances da literatura mundial não garante nada, a não ser curiosidade. Todo roteirista que se preze sabe que uma das tarefas mais árduas da profissão é adaptar clássicos literários para as telas.
A receita de Os Miseráveis foi juntar astros dos nossos tempos com um orçamento alto. Mesmo assim, a linda história escrita por Victor Hugo tornou-se um filme chato, cansativo e, em certos momentos, arrogante. Isso porque seus personagens parecem presos e a química dos casais dos filmes, em especial o formado por Amanda Seyfried e Eddie Redmayne, simplesmente não existe. Isso sem contar os ângulos de câmera estranhos e a fotografia sem graça. Há momentos em que, ao invés de nos inebriarmos com as canções, ficamos pensando no porque daquele enquadramento. A magia do cinema se esvai.
Uma das poucas, senão a única, cena que causa deslumbre no espectador é a protagonizada pela vencedora do Oscar Anne Hathaway. Seu rosto ensolarado, que nos acostumamos a ver em boas comédias e filmes românticos, ganha feições sofridas que, em parceria com sua linda voz, nos encantam por pouco mais de dez minutos. É daquelas sequências que fazem valer cada centavo do ingresso. Se não fosse por esse detalhe, Os Miseráveis entraria para a lista de musicais cansativos e que nos levam ao tédio.
Vale lembrar que o filme é inspirado no musical da Broadway e não diretamente no livro de Victor Hugo, como aconteceram nas adaptações de 1935 e 1952, todas obrigatórias para quem gosta de adaptações literárias. Mas esta humilde cinéfila não pode encerrar este texto sem um conselho: leia o livro e, caso sobre tempo, veja a versão de 2012 para as telas. Pelo bem da paixão que é a literatura do escritor francês.
Os Miseráveis
Ano: 2012
Direção: Tom Hooper
Em cartaz nos cinemas
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