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Outro. Sem entrar no mérito, mas olha a Veja recebendo crítica. E agora de um ‘aliado’

Você, com certeza, já sabe o que penso da revista Veja e de suas “reportagens”. Leio porque tenho que ler. É minha profissão. Mas não procuro nela meu “guia”, muito pelo contrário. Sempre desconfio de uma segunda intenção. Às vezes terceira, quarta ou quinta. É da vida. É assim que ajo, em relação à publicação de maior tiragem do País.

 

No caso específico do affair Renan Calheiros x Mônica Veloso, a jornalista mãe de uma criança cujo pai é o senador, ficou cada vez mais óbvio que, sem entrar no mérito, a fonte única da “reportagem” é o advogado da moça. E mais ninguém. Tanto que documento algum foi mostrado.

 

Bem, isso só faz aumentar minha desconfiança. Mas eu, e você já sabe disso, nunca escondi o que penso da revista. Então, fiquemos com outro crítico. Este um especialista que muitas vezes, inclusive em tempos recentes, comungou das mesmas idéias da publicação da Editora Abril. No caso, é o jornalista Alberto Dines, mentor e diretor plenipotenciário da página de internet Observatório da Imprensa. Confira o que ele escreve:

 

“Denúncia apressada pode abafar Operação Navalha

 

Veja tinha pressa: precisava mostrar que não foi ultrapassada na Operação Navalha. Sentia-se na obrigação, sobretudo, de mostrar que tem futuro este tipo de jornalismo semanal da qual se tornou expoente no Brasil. Ou mais futuro do que o do jornalismo diário. Nessas maratonas, quem perde sempre é o maratonista.

 

A decisão de antecipar de sábado (26) para sexta (25/5) a data de saída da edição nº 2010 pretendia substituir pelo impacto e a surpresa as falhas e omissões na denúncia contra o presidente do Senado, Renan Calheiros. Um ou dois dias a mais na investigação e, principalmente, um texto mais cuidado e uma edição menos afobada teriam dado à matéria mais consistência e menos semelhança com o que se convencionou chamar de jornalismo de apelação, marrom ou amarelo.

 

Como ainda não dispunha de provas sobre as ligações do político alagoano com o esquema da Gautama, o semanário foi atrás das suas eventuais ligações com outra empreiteira, a Mendes Júnior. E como o redator não poderia ignorar o potencial explosivo das navalhadas da Polícia Federal, misturou alhos com bugalhos numa das aberturas mais toscas do nosso jornalismo investigativo.

 

Campeonato antipizza

 

Em quatro páginas profusamente ilustradas para dar volume, nenhum documento. Apenas a acusação, sem aspas ou fonte, de que um dos diretores da construtora Mendes Júnior, Cláudio Gontijo, pagava em dinheiro contas pessoais do senador.

Depois do Jornal Nacional de segunda-feira (28/5) percebe-se que a fonte da Veja foi o advogado da jornalista Mônica Veloso (beneficiária daqueles pagamentos e com quem o senador teve uma filha). Este advogado foi o único a contestar no telejornal da Globo (e mesmo assim por telefone) a defesa que Renan Calheiros fizera naquela tarde no Senado.

 

Renan Calheiros apresentou alguns documentos em sua defesa, tentando mostrar que os pagamentos à jornalista eram seus e não de terceiros. Mas deixou lacunas, conforme se evidenciou logo em seguida.

 

Significa que nas próximas semanas seremos obrigados a acompanhar uma telenovela contábil e ignóbil apenas porque a maior revista brasileira, por impaciência ou delírio (dá no mesmo), ao invés de investigar com seriedade deixou-se fascinar pela picardia e pela sordidez.

 

Na ânsia de comandar o espetáculo e assumir a liderança do campeonato antipizza, Veja pode estar contribuindo ardilosamente para reforçar o imenso coro de políticos assustados com o rigor da PF e que, por isso, reclamam contra os seus “excessos”.

 

Burocráticas, autarquizadas

 

Se não for sabotada ou manipulada, a Operação Navalha tem condições de reprimir ou, pelo menos, atenuar o saque multissecular ao erário que tornou o país um dos mais injustos do mundo. Junto, deverá alterar decisivamente a forma de fazer política, administrar orçamentos e estabelecer um padrão mínimo de decência no poder público.

 

Sem navalhadas, mas devidamente equipada para produzir a indispensável ressonância, a imprensa desempenha um papel não menos crucial neste saneamento cívico. Em quase duas semanas de intensa cobertura, a mídia cometeu poucos deslizes – alguns por culpa das simplificações propiciadas pelos infográficos – mas não está conseguindo passar à sociedade a premente e inadiável necessidade do “basta!”.

As primeiras páginas são burocráticas, autarquizadas, concebidas para atender às imposições da segmentação dos públicos e respectivos cadernos. Em nossas redações ninguém lembra mais do poder de um editorial de primeira página, candente e universal, capaz de sacudir os atentos e desatentos, teens e idosos, socialites e sindicalistas, rurais e urbanos, artistas e economistas. Jornalismo sem capacidade de convocação perde até para a virtualidade do Second Life

 

PS: agradeço ao leitor Fritz Nunes, que sugeriu, originalmente, a leitura do texto de Alberto Dines – uma figura que tenho evitado, reconheço.

 

SUGESTÃO DE LEITURAclique aqui para ler outros textos publicados no site Observatório da Imprensa.

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