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O esporte nas bordas da pandemia: desdobrando o futuro – por Antonio Guilherme Schmitz Filho, Bernardo Carbone dos Santos, Bráulio da Silva Machado e Marcos Roberto Cairrão

A Pandemia atingiu todos e tudo de forma totalmente inimaginável. O cotidiano esportivo sofreu uma desaceleração em todos os níveis. De repente o contato, a aproximação, a vibração e outras peculiaridades do meio esportivo, foram silenciadas! O mercado do entretenimento foi “chacoalhado” e posto à prova.

Alguns apostaram em estratégias de recolhimento/isolamento coletivo; ilhas e bolhas esportivas surgiram na esteira de soluções preliminares. Mas a recomposição é um processo lento e específico, considerando a composição entre modalidades esportivas e culturais. Assim como em outros segmentos de trabalhadores, uma lacuna profunda se formou. Do dia para a noite, a normalidade ou a regularidade dos trabalhadores esportivos ruiu.

Como a condição estocástica do sistema midiático é inalterável, porque o sistema possui os seis lados do dado; é só jogar e qualquer lado que cair, conta na aposta: reprises, mesas-redondas, programas de opiniões, retransmissões, entrevistas on-line, bate-papos diversos. Todos servem, suportam e recompensam o entretenimento ao vivo.

Mesmo assim, o sistema midiático também sofreu com a parada abrupta. Grandes contratos já haviam sido acertados. E a exposição dos profissionais esportivos ao perigo da infecção viral, se tornou uma constante, tudo em nome do entretenimento e com uma boa dose de desculpa para “segurar” o torcedor (consumidor) em casa.

O sistema político esportivo, por sua vez, é um espaço caótico de disputa do poder. O que se percebe é a resistência dos mais fortes. O acolhimento daqueles que sofrem com a lacuna citada e que doaram seus dias em benefício do entretenimento coletivo, restam à margem, porque assim é!

Um dos assuntos muito explorados pelo sistema midiático é a questão da preocupação com a saúde, mostrando a importância da manutenção de atividades esportivas. A necessidade de cultivar uma rotina de exercícios, mesmo em isolamento, passou a mediar os argumentos de especialistas diversos. Claro que esta inquietação é pertinente, afinal, o hábito de se movimentar traz uma série de benefícios. Mas para além do entretenimento, outras discussões que envolvem a prática esportiva, em ambientes escolares e acadêmicos, fortemente atingidos pela pandemia, também restam à margem. São outras lacunas que suscitam amplo debate e resultam do universo pandêmico. Talvez o apoio e a utilização de tecnologias educacionais para o incentivo à prática esportiva, assuma definitivamente um protagonismo diferenciado.
A Covid-19 definitivamente alterou as relações sociais que conhecíamos, a ponto de botar as pessoas à prova, diante da quarentena que logo se transformou em isolamento social. A pandemia nos levou a repensar as relações sociais e o modo de vida de forma desafiadora. Além disso, a interferência no modo de vida da sociedade, causada pela quarentena e pelo isolamento social, acarretou mudanças na saúde física, mental e nos processos educacionais.

No âmbito esportivo podemos presenciar competições que se adaptaram ao contexto, a exemplo da NBA, que organizou um protocolo de isolamento e testagem, mantendo os atletas confinados em uma cidade, com a estrutura de um centro específico de treinamento e de protocolos de testagem.

No Brasil, um turbilhão de dificuldades, no âmbito do futebol, uma das modalidades mais praticadas no país, apenas uma porcentagem mínima conseguiu dar continuidade ao “espetáculo”. A grande maioria sucumbiu e precisou se adaptar ao contexto pandêmico, federações estaduais e nacionais  cancelaram competições e não conseguiram amparar os clubes e os trabalhadores do esporte.

Resta como legítima a perspectiva de que o esporte seguirá, quando um dia vivermos a pós-pandemia, na mesma esteira de todas as áreas que o afetam direta, indiretamente e, ainda, de forma recíproca. As sequelas e cicatrizes, de profundidade proporcional à extensão do presente problema no tempo, exigirão esforços, ainda hoje imensuráveis, coordenados em múltiplas frentes e que de forma irônica, mas não ao acaso, carregam o potencial de agudização da concentração de poder (econômico, político, etc.) e do distanciamento entre pequenas e grandes manifestações esportivas.

(*) Os autores, Antonio Guilherme Schmitz Filho, Bernardo Carbone dos Santos, Bráulio da Silva Machado e Marcos Roberto Cairrão – são professores pesquisadores do Laboratório de Análise dos Cenários Esportivos na Mídia CEFD / UFSM.

(**) O texto foi originalmente publicado no site da Seção Sindical dos Docentes da UFSM (AQUI)

Observação do Editor – A imagem que ilustra este texto não tem autoria conhecida. Ela foi reproduzida deste site: AQUI.

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Um Comentário

  1. Problema do futebol é bem mais sério do alguns creem. Esporte praticado na Europa é muito diferente do que é aqui. Final da Champions League é um exemplo. Uma correria, um time com linha de 5 lá atrás, com dois a frente da defesa e tres para tentar o contra-ataque. Outro time com posse de bola estéril. Um esporte feio.
    Terra Brasilis tem dois ou tres times com orçamento. Gremio já esta virando um clube ‘chocadeira’, produz jogadores mas já está dificil ganhar alguma coisa. Inter tenta mudar o jeito de jogar, uma hora alguem tem que tentar equiparar o esporte daqui com o europeu (com os problemas associados).
    Copa América? Tanto faz.

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