Sopra forte vento norte – por Marta Tocchetto
Fenômeno também ajuda a dimensionar questão da falta da coleta seletiva
As cenas promovidas pelo vento norte no final de semana dão a dimensão do problema e denunciam a ausência da coleta seletiva em Santa Maria.
Santa Maria é a terra do vento norte, cantado pelo poeta Daniel Torres:
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“Sopra forte, Vento Norte/ Antes que essa chuva caia”
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No oposto à poesia, o vento norte traz revoadas de lixo, principalmente plásticos usados em diferentes produtos descartáveis: sacolas de todas as cores e marcas, bandejas, pratos, canudos, caixas, embalagens diversas para os mais diferentes usos.
A cena destes materiais pendurados nas árvores, acumulados nos jardins, nos bueiros estiveram presentes no final de semana da cidade. As cenas dão a dimensão do problema e denunciam a ausência da coleta seletiva, exigida pela Política Nacional de Resíduos Sólidos.
A cena envergonha os santa-marienses e deveria envergonhar autoridades e empresários para uma tomada de posição em relação ao problema. Na onda da preocupação com os plásticos surgem novidades quase diariamente. São plásticos produzidos a partir do abacaxi, maracujá, além dos já conhecidos de mandioca, milho, batata e trigo e, também de cana de açúcar.
Eles têm uma grande vantagem. São produzidos a partir de vegetais, os quais podem ser renovados a cada safra ou estação. Diferentemente do petróleo, que demora milhões de anos e necessita de condições especiais para se formar.
Além disso, as matérias vegetais são biodegradáveis. Significa dizer que os microrganismos presentes no ambiente conseguem degradá-las. Os plásticos convencionais não são biodegradáveis, por isso demoram centenas de anos para se decompor. Os produzidos a partir de vegetais demoram poucos meses.
Todas estas inovações no campo dos polímeros são positivas, mas isso não quer dizer que eliminam a poluição. Este alerta raramente é informado. A impressão é que o problema da poluição estará resolvido, pois ao entrarem em contato com o ambiente, inclusive com o mar, as bactérias irão “comê-los”.
É bom que se esclareça que neste processo também são gerados produtos de decomposição. Se continuarmos consumindo com a voracidade atual, a matéria orgânica resultante também causará impacto ambiental – processo similar ao que acontece com os restos de comida.
Isso que nem falei em microplásticos! É por este motivo que não basta a troca. O problema não está resolvido! Não resolve trocar seis por meia dúzia. O meio ambiente não suporta mais a carga diária de lixo. A capacidade de assimilação, inclusive dos biodegradáveis é limitada.
As restrições impostas pelas leis que visam apenas proibir o uso de determinados produtos e liberam outros não resolvem o problema ambiental, apenas o recodifica. A pandemia trouxe um aumento no uso de descartáveis, em torno de 30%, ao que já era grande.
O crescimento não se refletiu na destinação correta – coleta seletiva para posterior reciclagem. O processo de educação ambiental deve ser exercido por todos, inclusive pelos estabelecimentos comerciais levando o consumidor à reflexão.
Me causa estranheza que as redes de supermercados, que tanto falam em sustentabilidade e meio ambiente, não possuam programas de recebimento de sacolas usadas em parceria com as associações de catadores.
É uma forma simples e de custo muito baixo ou, praticamente nenhum, com ganhos ambientais, sociais e de marketing muito expressivos. Em uma sociedade consciente, não há marca que sobreviva pendurada em uma árvore ou entupindo bueiro mesmo em dia de vento norte.
(*) Marta Tocchetto é Professora Titular aposentada do Departamento de Química da UFSM. É Doutora em Engenharia, na área de Ciência dos Materiais. Foi responsável pela implantação da Coleta Seletiva Solidária na UFSM e ganhadora do Prêmio Pioneiras da Ecologia 2017, concedido pela Assembleia Legislativa gaúcha. Marta Tocchetto, que também é palestrante em diversos eventos nacionais e internacionais, escreve neste espaço às terças-feiras.
Relaxado é com ‘x’. Lingua portuguesa vai me enganchar na Maria da Penha.
Bioplasticos, até onde sei, baseados em amido e celulose. Problema é que mandioca, milho, batata, todos são alimentos. O que leva ao problema de terra arável. Pressiona as florestas. Logo cobertor curto, logo a solução está longe da simplicidade.
Habitos são mudados em semanas, cultura em gerações. Problema da aldeia é que o ‘pôvú’ é relachado, não está nem aí, não tem disciplina e adora uma ‘conveniencia’. Vide o transito, basta ligar o pisca alerta e largar o carro em qualquer lugar e a justificativa é mimimi, ‘é rapidinho’, ‘vou ali e já volto’, etc. Iniciaram coleta seletiva em alguns pontos, alguns nós cegos largaram restos de comida, poda de arvores e outros organicos dentro. Como ficou não sei.
Plano Nacional de Residuos Solidos resvala em problemas estruturais, baixo engajamento da sociedade, criam-se comissões artificiais que passam a imagem de que existe engajamento (ou seja, o bom e velho ‘faz de conta’) e o resultado é um documento criado em gabinetes que nada resolve. Para deixar mais claro, se na Cidade Cultura é assim, imagine nos outros municipios. Obvio que existem exceções para confirmar a regra.
Neste ponto alguém larga algum chavão, resolve-se com educação e campanha publicitária de conscientização. Obvio que não, solução não é obvia e nem simples, porém tem gente muito bem paga para resolver estes problemas e não está resolvendo. Isto sim é simples.