Por Bruna Homrich (com imagem UFSM/Divulgação) / Da Assessoria de Imprensa da Sedufsm
As assimetrias de gênero presentes na sociedade e responsáveis por dividir sexualmente o trabalho, tornar desigual o acesso à educação e ao emprego e penalizar física, psicológica ou patrimonialmente aquelas identidades consideradas não dominantes e, por isso, supostamente passíveis de eliminação, são expressas na linguagem. E, se ali são expressas, ali também devem ser modificadas. Esse é o entendimento que sustenta uma iniciativa do Programa de Educação Tutorial (PET) Letras/Laboratório Corpus da UFSM, envolvido na elaboração de um guia de linguagem inclusiva que leve, para textos de editais, memorandos ou cartazes de divulgação de eventos, por exemplo, o respeito às identidades de gênero e a crítica ao sexismo.
“No projeto em questão, entendemos a identidade de gênero como uma construção social que não se limita à binaridade feminino e masculino, ao contrário, busca incluir também pessoas que se identificam com outros gêneros. Portanto, além de elaborar, pretendemos fomentar um guia de linguagem inclusiva com a finalidade de propor alternativas para o uso de uma linguagem igualitária, não discriminatória e livre de sexismo, tendo em vista que as universidades são lugares onde diversos sujeitos de diferentes gêneros transitam diariamente. Tais sujeitos precisam estar representados na língua, nomeados, não invisibilizados pela desigualdade de gênero”, afirmam, em respostas conjuntas enviadas à Sedufsm, a professora Taís Martins, tutora do PET Letras, e sua orientanda de Mestrado, Camilla Cruz, que desenvolve a pesquisa “A manualização do saber linguístico: discursos sobre igualdade de gênero em guias de linguagem inclusiva brasileiros”. A estudante já havia analisado, em seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), o manual de linguagem não sexista de uma universidade espanhola.
O objetivo do grupo é de que, futuramente, o manual possa ser adotado por outros Programas Institucionais da UFSM, e também por grupos PET pertencentes a outras universidades brasileiras. Esse diálogo, tanto com a gestão da universidade, quanto com os grupos PET locais, ainda não foi feito, estando planejado para acontecer quando o manual estiver finalizado e possa ser apresentado de uma forma mais concreta. Porém, Taís e Camilla antecipam: o guia já está em processo de revisão e editoração. Logo, não deve tardar a ser lançado.
Invisibilidade
É preciso questionar o que vem sendo colocado como padrão até então. Taís Martins e Camilla Cruz explicam que o uso do masculino genérico na linguagem, embora comum, acaba por invisibilizar mulheres e pessoas não-binárias. Frente a alguns argumentos que questionam a importância de se promover mudanças na linguagem, secundarizando tais ações pois não seriam problemas sociais “tão graves”, as entrevistadas lembram que as palavras produzem sentido e atestam contra a neutralidade.
“[…] o hábito de utilizar uma linguagem inclusiva é o primeiro passo para construção de uma sociedade mais igualitária. Isso não quer dizer que não será preciso lutar por igualdade ou que toda a discriminação desaparecerá se formos inclusivos no que falamos. Mas, igualmente, não quer dizer que não é possível modificar os sentidos e pronunciar-se politicamente por meio do poder das palavras que são enunciadas. Afinal, todas as pessoas, de todos os diversos gêneros existentes, merecem ser representadas na/pela língua”, escrevem professora e mestranda.
A América Latina, frisam as entrevistadas, registra altos índices de feminicídio, tráfico de mulheres, prostituição infantil, mortalidade materna (em decorrência especialmente de abortos clandestinos), violências dos mais variados tipos, além de fenômenos como a feminização da pobreza, a submissão afetiva e financeira de mulheres e a objetificação do corpo feminino.
Pensar uma linguagem inclusiva de gênero que seja mais representativa e acolhedora é tentar dar conta de uma multiplicidade de preconceitos, silenciamentos e violências, a exemplo também da LGBTfobia, que por vezes representa uma afronta à vida especialmente das pessoas não-binárias.
A elaboração do guia de linguagem inclusiva é, então, atravessada por debates coletivos, com pesquisadores da UFSM e de outras universidades, acerca de linguagem, gênero e desigualdades de poder.
Um exemplo de universidade que vem adotando a linguagem inclusiva de gênero é a Unifesp, que ainda no final de 2020 DIVULGOU portaria com uma série de ações relativas à promoção da diversidade de gênero. Uma delas dizia respeito ao uso da linguagem inclusiva em comunicações institucionais como diplomas, certificados e formulários.
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Depois dizem que não utilizam a instituição, dinheiro público, para disseminar a propria ideologia. Este é o povo que vai lecionar nas escolas depois.