Amar sem razão – por Bianca Zasso
A maternidade já foi retrata no cinema das mais variadas formas. Desde o clássico de horror O bebê de Rosemary até o humor inteligente e pop de Juno, mães costumam render bons personagens. Um dos melhores e mais sutis já vistos chegou aos cinemas pelas mãos de um jovem diretor francês.
Há tanto tempo que te amo, filme de estreia de Phillippe Claudel narra um reencontro que nada tem de terno ou reconfortante. Juliette, interpretada pela sempre sublime Kristin Scott Thomas, vai morar com a irmã mais nova após passar 15 anos na prisão. Seu crime: assassinato.
Seria mais um daqueles personagens tentando um recomeço após um longo período atrás dos muros de uma penitenciária não fosse um pequeno detalhe. O crime cometido por Juliette envolveu seu filho de 6 anos. Quando essa informação chega até nós, espectadores, a primeira reação é a de estar diante de um monstro. Sensação essa que só se acentua, graças ao olhar frio e tristonho com o qual Juliette observa o mundo.
Mas a trama tem um que de travesseiro novo, ainda frio pelo plástico da embalagem mas que, aos poucos, vai se acostumando ao nosso toque e ganhando uma nova forma, mais acolhedora. E, tal e qual o travesseiro que revela falhas ou torna-se imprescindível ao nosso sono, passamos a descobrir os defeitos e os motivos de Juliette. E são vários os defeitos, mas nenhum deles nos fere. O filme tem uma delicadeza natural, que faz com que o público sinta-se parte daquele mundo, mesmo que não vivamos na França.
Não é o cenário o que importa, são as pessoas. Perder alguém, perder o controle e tentar se reerguer é igual nos quatro cantos do mundo. Os personagens são pessoas como nós, com dores impublicáveis que nunca vão sarar, mas que tentamos amenizar para seguir em frente. O fato da protagonista ter cometido um crime grave, não nos afasta, mas nos acolhe. Passamos a entender o olhar opaco de Juliette. Descobrimos que ele vai além dos sofrimentos do cárcere. Sua raiva, mais do que contra a sua família, é contra ela mesma.
Há tanto tempo que te amo é um filme sobre mães de verdade. Sem canções de ninar ou enxoval bordado. Mas com um amor que ultrapassa aquilo que o mundo real nos cobra toda hora: a razão.
Há tanto tempo que te amo (Il y a Longtemps que je T’Aime)
Direção: Philippe Claudel
Ano: 2008
Disponível em DVD
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