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Fim do Agosto Lilás, mas a luta continua! – por Débora Dias

A articulista e o mês, recém-encerrado, pelo fim da violência contra mulheres

Terminamos o mês da conscientização pelo fim da violência contra as mulheres (todas as mulheres, as brancas, as negras, as trans), um mês para dar maior visibilidade para a questão da violência contra as mulheres, mas a luta é diária, contínua e árdua. Isso todas nós mulheres podemos afirmar, principalmente aquelas que militam diariamente na questão da violência.

A violência contra as mulheres tal qual definem os documentos internacionais, a Convenção de Belém do Pará, assim como nossa Lei Maria da Penha, é aquela baseada em gênero que cause morte, dano ou sofrimento físico, psicológico, sexual.

A violência atinge de forma desproporcional as mulheres, saliente-se que  não somente a física, a mais visível, mas todo tipo de violência, principalmente a psicológica, aquela que tantas vezes vem disfarçadamente tomando conta da vida das mulheres, como ocorre nos relacionamentos abusivos. Quem nunca viveu um relacionamento abusivo que levante a mão, poucas vão poder levantar. Porque os abusos nos relacionamentos estão intrínsecos e tão arraigados já que são decorrentes de uma cultura patriarcal e machista que teima em persistir em nossa sociedade.

Eu lembro que na década de final de 80, quando tive meu primeiro namorado (poucos meses) quando saí com uma saia curta ele disse: “teu pai deixa tu sair assim”? E na época que eu não sabia o que era feminismo, disse: “meu pai não diz o que eu vou usar”. E era verdade mesmo, meu pai, que tinha muito de machismo na relação com minha mãe, porque era muito mais natural nas relações entre nossos pais (minha mãe tem 78 anos e meu pai teria hoje 84 anos) nunca falou da minha roupa e priorizava nossos estudos, meu e de minha irmã, e do jeito dele sabia que estava nos protegendo, querendo que crescêssemos sem amarras, sem limites, sem dependência econômica.

Esse foi um exemplo simples, banal. Mas a roupa, as companhias, as amizades, as saídas, enfim tudo pode ser limitado e/ou proibido nos relacionamentos abusivos, depois do isolamento, a violência psicológica, a desqualificação da mulher, o ataque a sua auto-estima, a violência nas palavras, a destruição de seu amor próprio, podendo ou não, de regra evolui, para gritos, o segurar forte, tapas, socos  e finalmente a violência maior, o feminicídio, o ápice da violência de gênero.

Quando falo de luta diária, falo na luta  em todo mundo, nós não estamos vivendo a situação nefasta do Afeganistão, uma tristeza sem fim, em que as mulheres, mais uma vez, estão tendo seus direitos atacados, limitados, proibidos, de novo, um desrespeito sem fim. Lá, elas estão abertamente, como já o foram, tratadas em total desigualdade, com seus direitos humanos aniquilados. Mas é bem assim, por que as mulheres em qualquer mudança política, religiosa têm seus direitos atacados, como já disse Simone de Beauvoir: “Nunca se esqueça que basta uma crise política, econômica ou religiosa pra que os direitos das mulheres sejam questionados. Esses direitos não são permanentes. Você terá que manter-se vigilante durante toda a sua vida”.

E por isso que digo, o agosto lilás terminou, mas a luta continua!!

(*) Débora Dias é a Delegada da Delegacia de Proteção ao Idoso e Combate à Intolerância (DPICoi), após ter ocupado a Diretoria de Relações Institucionais, junto à Chefia de Polícia do RS. Antes, durante 18 anos, foi titular da DP da Mulher em Santa Maria. É formada em Direito pela Universidade de Passo Fundo, especialista em Violência Doméstica contra Crianças e Adolescentes, Ciências Criminais e Segurança Pública e Direitos Humanos e mestranda e doutoranda pela Antónoma de Lisboa (UAL), em Portugal.

Nota do Editor: a foto (de Divulgação) que ilustra este artigo é da fachada da Câmara de Vereadores de Santa Maria, na cor lilás, para lembrar o mês contra a violência em relação à mulher.

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