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Hortas urbanas: espaços de conexão com a natureza – por Marta Tocchetto

“Hortas são espaços de conhecimento e troca de saberes”, ensina a articulista

Hortas são espaços de conexão das cidades com a natureza e com seus cidadãos. Propor políticas públicas para a transformação social e ambiental é essencial.

Hortas urbanas são alternativas de ocupação dos espaços públicos e privados que se encontram vazios, sem aproveitamento ou mal utilizados. Além da ocupação, as hortas são alternativas para a produção de alimentos para as comunidades, em especial as carentes. A qualidade da alimentação nestes tempos de inflação alta, diminui tanto quanto o poder aquisitivo. Frutas e verduras se transformam em artigos de luxo.

Acabam sendo excluídas e substituídas por alternativas mais baratas, cujo valor nutricional é questionável. As hortas são espaços de conhecimento e troca de saberes – banco de sementes, redução de desperdícios, compostagem, aproveitamento integral dos alimentos e reaproveitamento, diversidade no plantio e consumo, resgate de variedades tradicionais, inclusão de espécies não convencionais, formas de preparo e conservação, dentre outros.

Muitos vegetais deixaram de ser cultivados e usados ao longo do tempo pela manipulação das grandes indústrias. O aproveitamento integral, flores, folhas, raízes, sementes, talos, cascas conflita com a volatilidade do mercado que estimula o desperdício para atender a velha máxima – comprar, comprar, comprar.

Hortas são espaços de saúde. A alimentação biodiversa é rica em fontes nutricionais essenciais que garantem o bom funcionamento do organismo. Hortas são espaços de cidadania.

Olhar para o todo, para o cosmos em busca da harmonia, do equilíbrio e da conexão com as forças da natureza. Olhar para o outro atribuindo-lhe importância, descobrindo a verdadeira essência. Exercitar a solidariedade, a compaixão, a valorização, o respeito.

Hortas são espaços de contemplação e gratidão. Cultivar a beleza, a pureza, a singeleza, o cuidado, a vibração, o crescimento do espírito, além de plantas e alimentos. Hortas são espaços políticos. Consolidação de escolhas e posicionamentos. Hortas são espaços de emancipação, de liberdade.

As grandes empresas globais produtoras de alimentos processados manipulam as escolhas das populações. Hortas são espaços de educação ambiental. Há escolas que incluem em suas atividades, hortas. Os alunos aprendem e difundem o cuidado com a terra, a importância da água e do sol, o processo de germinação e os cuidados para um cultivo exitoso.

“Cuidem do que é mais precioso, que é o solo”. Ensinamento da grande mestra Ana Primavesi. Ensinar os cuidados com a natureza e sua importância para uma relação ambiental harmoniosa, forma não só cidadãos sustentáveis, mas cidadãos responsáveis com o bem-estar coletivo e comprometidos com a biodiversidade planetária.

Ensinamentos que seguirão pela vida e, certamente, balizarão atitudes e engajamentos. Somos habitantes de um planeta único. Estamos aqui de passagem. Rastros de destruição não combinam com gratidão. Gratidão pela vida. Gratidão é cuidar do espaço ocupado tornando-o melhor para as próximas gerações.

Infelizmente, este sentimento não prevalece no coração de todos os humanos. Grande parte foi tomada pela ganância e pelo poder de destruição como se a natureza fosse descartável – não serve mais troca por outro, como se a capacidade de autorregeneração fosse infinita.

Nem uma coisa, nem outra. A natureza é finita e não é descartável. Hortas são espaços de conexão das cidades com a natureza e com seus cidadãos. Propor políticas públicas para a transformação social e ambiental é essencial, sobretudo nos tempos de ódio, de devastação, de radicalismo e de autoritarismo que vivemos.

Uma cidade sustentável, uma Santa Maria sustentável se constrói com políticas que incentivem a melhoria das condições de vida para todos, a redução das desigualdades, a irradicação da fome e a construção de um ambiente saudável com espaço para práticas de responsabilidade socioambiental e de concertação das rupturas com a natureza.

(*) Marta Tocchetto é Professora Titular aposentada do Departamento de Química da UFSM. É Doutora em Engenharia, na área de Ciência dos Materiais. Foi responsável pela implantação da Coleta Seletiva Solidária na UFSM e ganhadora do Prêmio Pioneiras da Ecologia 2017, concedido pela Assembleia Legislativa gaúcha. Marta Tocchetto, que também é palestrante em diversos eventos nacionais e internacionais, escreve neste espaço às terças-feiras.

Nota do Editor: A foto acima (sem autoria determinada) de uma horta urbana é uma reprodução obtida na internet.

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