O regime cubano em meio à era digital – por Michael Almeida Di Giacomo
Manifestações da população cubana e seus líderes, que se afirmam socialistas
Cuba, desde os anos de 1990, ao promover acordo com empresas internacionais para exploração de pontos turísticos na ilha, passou a ter nessa forma de indústria a sua principal fonte de renda. Para se ter uma ideia, o país – de pouco mais de 11 milhões habitantes – recebeu em 2019 perto de 4,2 milhões de turistas internacionais. O Brasil, no mesmo período, recebeu cerca de 6,3 milhões estrangeiros.
Não é de surpreender que a pandemia, causada pela Covid-19, com reflexo na retração econômica de muitas nações – inclusive devido a restrições de viagens internacionais – restasse por abalar a economia cubana. O pequeno país caribenho, devido à situação de escassez de alimentos, passou a receber ajuda humanitária de países aliados, como a Rússia.
Não obstante o fato de Cuba ter tido condições de tratar as vítimas da Covid-19, e produzir a sua própria vacina, Abdala, com 92 % de eficácia – a primeira oriunda de um país na América Latina – o atual Estado socialista de direito, face à inconformidade de cidadãos com a situação econômica e os já estabelecidos movimentos de oposição ao regime, tem sido contestado por meio da realização de grandes manifestações populares.
Entre os manifestantes de todo o país, a música “Patria y vida” – uma inversão do lema do governo cubano “Patria o muerte”- ecoava na voz das pessoas que invadiam as ruas das principais cidades cubanas no mês de julho. A música lançada no início de 2021, já alcançou mais de 9 milhões de visualizações no youtube.
O movimento “Santo Isidro”, composto por artistas e intelectuais cubanos – que inclusive participaram da produção de “Patria y vida”, lidera os protestos na capital Havana, ao lado de muitas outras organizações independentes, tais como o movimento “Archipiélago”, que tem como líder o dramaturgo Yunor García.
Uma característica marcante das organizações de oposição ao regime, na difusão de ideias, fatos e atos, é o uso das ferramentas de tecnologia digital, em especial, a internet. Os cubanos têm acesso às redes sociais e a aplicativos de comunicação instantânea, onde fazem seus contatos, manifestações e, muitas vezes, têm que prestar explicações a “la Seguridad del Estado”. Há condições de acompanhar as manifestações em tempo real.
De forma breve, é possível destacar alguns poucos movimentos, tais como: a organização “Instituto de ‘Artivismo’ Hanna Arendt”, fundado em 2015, com sede em Havana, e que tem por missão ser um centro de alfabetização cívica em Cuba. Ainda, a revista “ADN- audiovisual independente”, com jornalistas ativistas que enviam matérias direto da capital.
Existe uma “Asociación Sindical Independiente de Cuba”, a organizar trabalhadores, com sede em Colon, Matanzas. Por óbvio tem uma lista de colaboradores, mas não a torna pública. Uma das organizações que mais me chama a atenção é a “La joven Cuba”, foi fundada há uma década, por meio de um blog, com sede em La Universidad de Matanzas, e mantém um debate permanente sobre a vida política na ilha. Há uma quantidade enorme de outros exemplos; por enquanto fico por aqui.
Um outro ponto a ser destacado, em alguns movimentos e organizações – até com grande número de adeptos – é o fato de se declararem socialistas. Não defendem a implantação de uma democracia ao estilo liberal, mas a abertura do regime, um espaço de amplitude democrática por meio de reformas no sistema eleitoral, político e na estrutura do Estado.
Essa grande fusão dos movimentos de oposição, via internet, está a convocar uma manifestação para o próximo dia 15 de novembro – que promete ser maior que a realizada no mês de julho e que ecoou mundo afora.
O regime cubano, ao negar a realização da referida manifestação, fundamenta sua decisão tendo por base o respeito à Constituição do país – e o fato de “existir vínculo de algumas organizações com agências financiadas pelo governo americano”. O que não é uma inverdade, mas essa é discussão para um outro artigo.
Por ora, basta tão somente evidenciar a constatação de que, no limiar o presente século, o regime cubano enfrenta um dos seus maiores desafios: sobreviver em meio à era digital.
(*) Michael Almeida Di Giacomo é advogado, especialista em Direito Constitucional e Mestre em Direito na Fundação Escola Superior do Ministério Público. O autor também está no twitter: @giacomo15.
Nota do Editor: a imagem de protesto em Cuma é uma reprodução obtida na internet. Mais exatamente no portal português SAPO (AQUI)
Culpar os americanos não é novidade. Governos comunistas/socialistas são sempre vitimas de terceiros, não importa a c4g4d4 que façam. Novidade agora é a seguinte, cubanos estão na m. há decadas. Ilha, como a Venezuela e logo logo a Argentina, tem mercado negro, prostituição e corrupção galopante. No entanto os manifestantes defendem ‘abertura do regime, um espaço de amplitude democrática por meio de reformas no sistema eleitoral, político e na estrutura do Estado’. Obvio que sabem da existencia da Nomenklatura insular, do padrão de vida diferente dos turistas. Ou seja, são ‘socialistas’ que não querem uma democracia liberal mas desejam alterações significativas. Óbvio que a ‘conta’ não fecha. Qual a alternativa ‘socialista’ possivel?
Cancun, onde os carteis lavam dinheiro, recebeu algo como 10 milhões de visitantes em 2019. Problemão. Sim, porque no Brasil ‘necessitamos incentivar o turismo’, problema é que fora os lugares de costume não existe demanda. Simples assim. Vacina cubana é um mistério, dados disponiveis são os governamentais logo não são confiaveis. Simples assim. Interessante também que mesmo com o dito imunizante num pais comunista. onde é só colocar a população em fila ou mandar trancar todo mundo em casa, aconteceu um surto onde não só faltaram insumos, ocorreu um surto onde o sistema de saude, super propagandeado, teria entrado em colapso, assim como os serviços funerários. Juntando tudo com o desabastecimento resultou nos protestos.
Kuakuakuakua! Quanta cascata! Tentativa tosca de salvar a propaganda oficial. Ilha sustentou-se com subsidio sovietico até a queda do Império Bolchevique. Segue-se um periodo de perrengue até Chaves assumir o poder na Venezuela. Problema é que o sistema leva o pais sudamericano para o ralo também, algo altamente previsivel. Novo periodo de perrengue.