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Redes sociais? A internet que ajuda a reforçar laços, mas também propulsiona o ódio – por Alam Carrion

“Moda do momento na internet é o cancelamento, espécie de tribunal virtual”

O ano é 2021. É possível enxergar a olhos nus o avanço contínuo da ciência, da tecnologia e ao mesmo tempo o retrocesso do ser humano. Basta olhar para a história da humanidade e será nítido que houve tempos em que a barbárie tomou conta e tempos em que a união pôde fazer a força. No entanto, desde que o ser humano se tornou social no âmbito virtual, a dicotomia ganhou vez.

Uma postagem, uma mensagem no grupo da família ou até mesmo a “curtida” em uma foto já se torna estopim para brigas quase sem fim. Neste ano, mesmo que não houvesse pleito eleitoral, a questão da pandemia e de todas as polêmicas envolvendo o atual governo dividiu, ainda mais, as pessoas. Amizades desfeitas, discussões familiares. “É genocida…”, “Mas e o Lula?” todas essas frases podem ser lidas em comentários nas redes sociais ou nas conversas dos aplicativos de mensagens. E quando é ano de eleição o cenário sempre piora, pois as “fake news” e falsas narrativas ganham vez e todas as redes sociais viram grandes trincheiras.

Mas quem dera se as brigas estacionassem na política. Tudo é motivo para divisão. Um posicionamento, a postura de determinada celebridade, o futebol, religião etc. A sensação que as redes sociais passam em 2021 é de que existe um barril de pólvora a cada caractere digitado e que basta uma pessoa largar uma faísca para explodir mais uma guerra virtual. 

Muitas pessoas acabam tomando posições na internet totalmente contrárias ao que são na realidade, pois pensam que lá estão protegidas pela tela e acabam destilando ódio, intolerância e creem, muitas vezes, que são superpoderosas. O próprio criador de uma das primeiras redes sociais que foi febre no mundo inteiro entre os anos de 2004 e 2011, o Orkut, afirma que os seres humanos estão “cercados de espelhos, que refletem não verdadeiramente como nos sentimos, mas o que queremos que o mundo veja em nós” afirma Orkut Büyükkökten.

E a “moda” do momento na internet é o cancelamento, uma espécie de tribunal virtual onde os internautas tomam o lugar de promotores, jurados e juízes de uma só vez. Basta uma opinião contrária e o “linchamento virtual” acontece. Em um artigo publicado pela revista Pixels,  Hércules Carvalho e Eduardo Silva afirmam que a “a cultura de cancelamento manifesta-se de diversas formas, seja para buscar justiça contra um assassino de um inocente, denúncias de abusos e fraudes, bem como a partir de uma discussão política, uma briga entre famosos ou até mesmo uma simples postagem expondo opiniões sobre algum assunto.”

Inúmeros são os casos, tanto para o bem, quanto para o mal. E é evidente que muitas pessoas estão sedentas pelo poder de “cancelar” alguém, ainda que para isso use de perfis falsos ou arruíne a carreira profissional de pessoas por apenas pensar de maneira contrária.

O fato é que a internet possibilita e intensifica as relações humanas, mas não deixa de incutir no imaginário coletivo de que essa interação é abstrata, pois por trás da dela e a quilômetros de distância é impossível sentir e/ou presenciar aquilo que outra pessoa sente e vive. A hipocrisia tem reinado no mundo virtual, onde se pede tanta empatia – mas somente para aquilo que convém, o que torna ainda mais real aquilo que Umberto Eco, escritor e filósofo italiano, afirmou: “as redes sociais deram voz a uma legião de imbecis”.

(*) Alam Carrion é acadêmico de Jornalismo da Universidade Franciscana e faz seu “estágio supervisionado” no site

Nota do Editor: a foto que ilustra este artigo é do site de imagens gratis Pixabay.

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2 Comentários

  1. Cancelamento não é só virtual. Tribunal da rede prejudica a vida profissional de muita gente. Como se não tivessem familia ou contas para pagar. Como os algoritmos das plataformas, atinge desproporcionalmente a galera do centro para a direita. Logo não é preciso muita imaginação para saber de onde parte o ataque. Também há casos e casos. Existem os que não podem ser cancelados. ‘Grandes’ demais. Também os ‘canceladores’ que se deram mal, empolgados acabaram com um oficial de justiça batendo na porta. Umberto Eco falou algo em relação a legião de imbecis, mas todos que citam ele se acham genios.

  2. Cite 5 periodos da historia ‘em que a união pôde fazer a força’. Que é diferente de ‘a união feita a força’. Existem muitas afirmações sem base sobre redes sociais. Pew Research tem um estudo no qual 30% dos adolescentes (simplificação das conclusões) tiveram alguma querela nas redes sociais. Ou seja, 70% não tiveram. Obvio que colocar mais gente em contato mais frequentemente leva a mais conflito. Obvio que a cizania chama mais atenção. ‘Odio’ (como a ‘fobia’) foi ressignificado. ‘Tolerancia’ idem, não se pode argumentar, debate não existe. A unica alternativa é aquiescer a tudo. Sem falar no espirito da epoca, todos muitos ‘sensiveis’ e descontando frustrações no teclado.

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