Irmã Lourdes: o rosto, a voz e a fé da (e na) Economia Solidária – por Leonardo da Rocha Botega
A inegável e fundamental importância da coordenadora do Projeto Esperança
Ao longo de seus 163 anos de emancipação política, Santa Maria já foi conhecida por inúmeras denominações, entre essas cidade ferroviária e cidade cultura. A primeira denominação perdeu seu sentido quando os últimos apitos dos trens de passageiros não foram mais ouvidos nos anos 1990. O que antes era o maior atrativo da cidade, hoje não passa de escombros mergulhados em eternas propostas de revitalização que nunca saem do papel. Em relação à segunda, basta olharmos as condições dos antigos locais de cultura da cidade para termos noção do quanto tal denominação deixou de ser realidade.
No lugar destas denominações a cidade passou a ser conhecida por três alcunhas: a cidade da UFSM, a cidade da Tragédia da Boate Kiss e a capital da economia solidária. Duas denominações que deveriam ser motivo de orgulho para a sociedade santa-mariense e uma que mexe na maior das feridas vivenciadas pela comunidade.
O destaque da UFSM se deve, sobretudo, ao incansável trabalho de sua comunidade acadêmica que, mesmo em um período de pandemia, fez com que a instituição subisse 22 posições no ranking das melhores universidades da América Latina. Já o destaque que a levou a ser denominada capital da economia solidária, em que pese o intenso trabalho coletivo dos grupos que por aqui atuam, pode ser atribuído ao incansável trabalho da Irmã Lourdes Dill.
Natural de São Paulo das Missões, Lourdes Maria Staudt Dill ingressou, aos 18 anos, na Congregação das Filhas do Amor Divino que tem como missão “Compreender amando, amar amparando e amparar salvando”. Foi a partir desta missão que a Irmã Lourdes chegou em Santa Maria em 1987, convidada por Dom Ivo Lorscheiter, então Bispo da Diocese do município.
Desde então, ao longo de 35 anos, Irmã Lourdes foi responsável por alavancar aquilo que inicialmente era um sonho e transformá-lo em um dos projetos mais respeitados e valorizados do mundo: o Projeto Esperança/Cooesperança. Graças a esse projeto centenas de pessoas de Santa Maria e região puderam encontrar uma fonte de geração de trabalho e renda. Uma esperança em meio a um contexto social dominado por ideologias que naturalizam a pobreza e a miséria.
Mas o Projeto Esperança/Cooesperança não é “apenas” uma geração de trabalho e renda. É um bastião na luta por aquilo que o Padre Louis-Joseph Lebret, nos anos 1950 e 1960, ensinou para o mundo, a partir da frase escrita pelo seu amigo e economista François Perroux: a necessidade de uma economia capaz de “desenvolver todos os homens e todo o homem”. Essa economia tem nome e sobrenome: Economia Solidária.
Foi ensinando e aprendendo com artesãos, pequenos agricultores, indígenas e catadores que a Irmã Lourdes Dill promoveu o Feirão Colonial, a Feira Internacional do Cooperativismo (Feicoop) e a Feira Latino Americana de Economia Solidária. Espaços não apenas de compra e venda, mas de troca de ideias. Espaços democráticos e plurais que transformaram Santa Maria na capital de economia solidária.
Irmã Lourdes é a voz, o rosto e a fé da (e na) Economia Solidária. É a concretização em forma de mulher dos valores da fraternidade, da igualdade e da justiça social que são propagados pelos Papa Francisco. É a mão sempre disposta a amparar a todas e a todos. Independente de religião e ideologia. Sua partida deixará a cidade menor! É por isso que humanistas de diferentes visões de mundo se congregam em uma só voz e pedem às autoridades eclesiásticas que, com disposição ao diálogo, ouçam o apelo: Fica, Irmã Lourdes!
(*) Leonardo da Rocha Botega, que escreve no site às quintas-feiras, é formado em História e mestre em Integração Latino-Americana pela UFSM, Doutor em História pela UFRGS e Professor do Colégio Politécnico da UFSM. É também autor do livro “Quando a independência faz a união: Brasil, Argentina e a Questão Cubana (1959-1964).
Nota do Editor. A foto da irmã Lourdes Dill, no alto desta nota, é uma reprodução das Redes Sociais.
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