Festa no céu – por Marcelo Arigony
“Deus não levaria o tio Léo, a Miriam e o Ewerton se não fosse para...”
Eu tinha um tio chamado Léo. O tio Léo adorava uma festa. E ele era uma pessoa muito boa, pensava nos outros antes dele; se precisasse tirava a camisa para dar a alguém que estivesse com frio. O tio Léo nos deixou muito cedo, há alguns anos. E faz muito falta até hoje. As festas de família nunca mais foram as mesmas sem o tio Léo. O mundo é um lugar pior sem o tio Léo.
Eu tinha uma sogra chamada Miriam. Ela era jovem, bonita, graciosa e cheia de vida. Nem encaixa chamar de sogra. Eu sempre fazia piadas de sogra com ela. As piores piadas que existem. E ela ria e adorava. A Miriam era uma mãe-avó. A Miriam é insubstituível. Eu adorava a Miriam. E a Miriam adorava uma festa.
Ela abrilhantava tudo a sua volta. Tinha uma luz interior muito forte. Cativava as pessoas como poucos que conheço. Ano passado a Miriam nos deixou. Lutou tudo o que pôde contra uma Leucemia, mas foi vencida. O mundo é um lugar muito pior sem a Miriam. Eu choro até hoje a morte da Miriam.
Eu tinha um amigão chamado Ewerton. Ele era um cara iluminado. Ewerton era um cara que animava todos os ambientes onde estava. Se a gente estava meio pra baixo era só sair com o Ewerton que as baterias eram recarregadas. Ewerton nos deixou no mês passado; teve um problema de coração aos 50 anos e partiu desta vida.
O mundo é um lugar muito pior sem o Ewerton. Eu estou chorando (agora neste momento) a morte do Ewerton. Hoje meu pai faleceu. Meu pai era muito amigo do tio Léo. Quando o tio Léo partiu meu pai sofreu muito. A Miriam e o Ewerton eram muito importantes para o meu pai. Mas meu pai não sentiu suas ausências (como eu) porque já estava em um estado avançado de Alzheimer. Senão teria chorado a morte da Miriam e a morte do Ewerton, como choramos juntos a morte do tio Léo.
Então eu fico pensando sobre o plano de Deus. Por que leva algumas pessoas antes da hora. Por que leva essas pessoas que nos fazem tanta falta. Penso que poderia levar outros que estão por aí a fazer o mal? Mas de imediato me reprimo: quem sou eu para decidir quem Deus deve levar.
Pois é: naquele livro “O Código Da Vinci” (não o filme; leiam o livro) o protagonista Robert Langdon diz à outra protagonista, Sophie Neveu, que tudo o que as religiões pregam são suposições. Suposições visando um mundo melhor, calcado na fé.
Enfim, suponho que deve ter festa no céu. Tenho certeza de que tem festa no céu. Deus não levaria o tio Léo, a Miriam e o Ewerton se não fosse para abrilhantar as festas no céu. E hoje estão lá. Recepcionaram meu pai e estão rindo, festejando e fazendo do céu um lugar muito melhor. Só pode ser isso!
(*) Marcelo Mendes Arigony é titular da 2ª Delegacia de Polícia Civil em Santa Maria, professor de Direito Penal na Ulbra/SM e Doutor em Administração pela UFSM. Ele escreve no site às quartas-feiras.
Nota do Editor. A foto, de reprodução, é de Luiz Antonio Severo Arigony, delegado aposentado e pai do articulista, e que FALECEU no início da manhã desta terça-feira, 29 de março.
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