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El pañuello blanco – por Luciano Ribas

Um símbolo mundialmente conhecido e identificado com os direitos humanos

O dia 30 de abril de 1977 foi um sábado que entrou para a história da humanidade. Naquela data, no outono portenho, pela primeira vez se reuniram algumas mães de jovens sequestrados e, em sua maior parte, torturados e assassinados pela ditadura argentina. Se tornaram conhecidas como Madres de La Plaza de Mayo e sustentam, desde então, com “amor y coraje”, a luta pelas vidas (e pelas  memórias e ideais) de seus filhos e filhas.

Seu grande símbolo, porém, surgiu apenas em outubro daquele mesmo ano, na peregrinação à Luján. Querendo se fazer notar em meio à multidão e, assim, chamarem a atenção para sua causa, decidiram pegar fraldas de pano de seus netos e de suas netas, filhos e filhas de desaparecidos e de desaparecidas, e colocarem em suas cabeças como se fossem lenços. Era 7 de outubro e, dali em diante, el pañuello blanco se tornou mundialmente conhecido e visceralmente identificado com os direitos humanos.

Como para torturadores não há limites, entre 8 e 10 de dezembro de 1977 uma dezena de pessoas, sobretudo mães, foram sequestradas e também se tornaram vítimas do fascismo fardado. Nem assim as mães remanescentes desistiram e, no ano seguinte, durante a Copa do Mundo realizada na Argentina, contra toda a repressão comandada por Videla e outros criminosos, deram visibilidade mundial à sua causa. Sobre esse acontecimento, a quem estiver interessado, há no YouTube o vídeo de uma entrevista (eloquente na forma e no conteúdo) que as mães deram a uma TV holandesa mostrando como isso aconteceu.

Passados quase 45 anos daquele sábado, as Madres de La Plaza de Mayo se tornaram uma organização potente, capaz de dar continuidade ao trabalho de senhoras que já estão com mais de 90 anos de vida. Seus lenços, convertidos em símbolo e em marca, encarnam significados e falam por elas e por seus filhos e filhas, mundo afora. São parte da garantia de que sua causa e suas histórias não se perderão. Afinal, como elas mesmas afirmam em seus princípios,“nuestros hijos nos enseñaron el valor que tiene la vida. Ellos la pusieron al servicio de todos los oprimidos, de los que sufren injusticias.”.

Há muitas outras mães e pais de desaparecidos e assassinados pelo mundo, inclusive no Brasil. As injustiças e os crimes – de civis, de maus policiais, de milicianos, de traficantes e de outros bandidos – ainda proliferam. A banalidade da violência e da morte por assassinato se tornou discurso oficial, aplaudido por gente “de bem”, no Brasil e no mundo. Regredimos como civilização e, exatamente por isso, símbolos são importantes para não desistirmos da vida, da justiça, da liberdade, da igualdade e da paz. Precisamos de pañuellos, de amor e de coragem.  

(*) Luciano do Monte Ribas é designer gráfico, mestre em Artes Visuais pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e doutorando em Diseño pela Universidad de Palermo (UP/Buenos Aires). É um dos coordenadores do Santa Maria Vídeo e Cinema, além de já ter exercido diversas funções na iniciativa privada e na gestão pública. Ele escreve neste site aos domingos. 

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Nota do Editor. A foto das madres da Plaza de Mayo, sem identidade conhecida, foi reproduzida de um portal de internet. AQUI, no original.

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