Educação especial e o estigma do diagnóstico – por Demetrio Cherobini
O articulista e os pareceres que rotulam pessoas como ‘deficientes intelectuais’
Via de regra, os diagnósticos de “deficiência intelectual” – abundantes na educação especial – mais atrapalham que ajudam o processo educativo da criança que recebe tal designação. Elaborados de modo superficial e acrítico, esses pareceres, na maioria das vezes, condenam o sujeito a ser visto pela sociedade a partir de pechas contundentes.
A rotulação cumpre várias funções: uma delas, a de desresponsabilizar os adultos – e a sociedade em geral – pela educação (ou má educação) daquele ser em crescimento. Conclui-se que, se o indivíduo demora para aprender, a responsabilidade é exclusivamente dele, afinal, tem “deficiência”… ou seja, o seu próprio organismo é culpado.
Com a estigmatização endossada pelo laudo, as expectativas criadas e exigências feitas à criança diminuem muito. Como ela pode se desenvolver, então, nessas circunstâncias?
Os adultos praticam a culpabilização, muitas vezes, porque não sabem ensinar ou não têm paciência. Ninguém ousa afirmar: “Fulano não aprende porque a minha didática é ruim”; ou “não aprende porque eu estou sobrecarregado e não dou conta das minhas inúmeras tarefas”; ou “não aprende porque estou sem ânimo para ensinar mais uma vez”. Assim, acaba sendo oportuno atribuir o não-aprendizado à própria criança indefesa e sem voz para dizer “eu não sou incapaz!”
É desconcertante, sobretudo, ver como essa ideia tenta se revestir com uma neutralidade/cientificidade pretensamente acima de suspeitas. “O médico falou…” então, passa. Mas quem disse que o médico tem o monopólio do conhecimento sobre a mente humana?
Ora, este assunto, a mente, é altamente complexo, delicado, hermético, intrincado, debatido há milênios – e não foi esgotado por médico nenhum! Permanece, pois, um tema em aberto. Mais sensato seria tomar a mente como totalidade, onde o elemento biológico compõe apenas uma parte, que se soma e interage com as demais, de ordem afetiva, social, cultural e histórica.
De minha perspectiva, penso que a principal característica do sujeito humano não reside na limitação orgânica, mas, ao contrário, na capacidade de, em contextos determinados, superar limites, agindo em solidariedade e colaboração com seus semelhantes. Numa palavra, é o seu poder de se transformar positivamente.
Por isso, cada vez mais acredito que tais pareceres – ao destacarem e exacerbarem as limitações biológicas individuais, rotulando as pessoas como “deficientes intelectuais” – são, geralmente, do ponto de vista educativo, insensíveis, inúteis e até mesmo irresponsáveis, pois causam um dos piores prejuízos possíveis à criança com necessidades especiais: difundir entre seus pares a crença errônea e infundada de que ela é incapaz.
(*) Demetrio Cherobini, professor da rede municipal de Santa Maria, é licenciado em Educação Especial e bacharel e Ciências Sociais pela UFSM, mestre e doutor em Educação pela UFSM e pós-doutor em Sociologia pela Unicamp.
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