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CULTURA. Santa Maria Vídeo e Cinema abre nesta terça e o homenageado nacional é Glênio Póvoas

Professor e pesquisador receberá troféu Vento Norte, nesta edição do SMVC

Por Tatiana Py Dutra / Da Padrinho Agência de Conteúdo

Professor e pesquisador será homenageado com o Troféu Vento Norte nesta terça-feira, noite de abertura do festival (foto Divulgação)

Jornalista por formação, pesquisador por vocação. Por mais prosaica que soe, essa definição se enquadra bem na biografia de Glênio Nicola Póvoas, homenageado nacional do 14º Santa Maria Vídeo e Cinema (SMVC). Nesta terça-feira (14), às 19h, noite inaugural do festival, o professor, pesquisador, roteirista e cineasta receberá o Troféu Vento Norte pela contribuição na preservação da memória do cinema gaúcho e santa-mariense. A cerimônia de abertura poderá ser acompanhada pelo site www.smvc.com.br e pela página do festival no Facebook.

Ao longo de sua trajetória, Glênio se debruçou em pesquisas sobre a produção cinematográfica gaúcha da primeira metade do século 20. O trabalho rendeu quatro livros, entre eles, “Vento norte: história e análise do filme de Salomão Scliar”. A obra, originalmente escrita como dissertação de mestrado, analisa o primeiro longa-metragem gaúcho com som, “Vento Norte” (1951), dirigido por Salomão Scliar.

E durante sua participação na catalogação do Arquivo da Cinegráfica Leopoldis-Som, no Arquivo de Mídias da RBS TV, Glênio descobriu uma pérola: o filme “Cerimônias e Festa da Igreja em Santa Maria” (1909), filmado por Eduardo Hirtz. É o documentário preservado mais antigo do Rio Grande do Sul e um dos mais antigos do Brasil.

Gaúcho de Rio Grande, 60 anos, Glênio herdou do pai o amor pelo cinema. Seu Aldo era habitué das matinês da Era de Ouro, na década de 30, e colecionava revistas como  “Cena Muda”, “Photoplay” e “Movie Picture”, dedicada aos astros e estrelas da época.

“Ele anotava todos os filmes que via em cadernos”, conta Glênio, que estima que Aldo tenha visto ao menos 7 mil filmes até sua morte, há sete anos.

Na faculdade de Jornalismo, o pesquisador ensaiou a prática cinematográfica com projetos experimentais em Super8. Nos anos 90 e 2000, atuou como roteirista, colaborador ou co-diretor de séries de TV  “A Ferro e Fogo”, “Mundo Grande do Sul” (2001), “Memorial de Maria Moura” (1994), ao lado do amigo Jorge Furtado.

A ligação de Glênio com o Santa Maria Vídeo e Cinema também é longa. Ele participou já na primeira edição do festival, em 2002, compôs o júri no ano seguinte e esteve presente em outras três oportunidades. Por essas e por outras, diz que esperou pelo Troféu Vento Norte há quase 20 anos.

“Eu queria muito receber o troféu Vento Norte desde a primeira edição”, confessa.

Confira abaixo uma breve entrevista com o Homenageado Nacional do 14º Santa Maria Vídeo e Cinema.

O 14° SMVC é um projeto selecionado no edital 004/2020 – Produção Artística e Cultural de Santa Maria, realizado com recursos da Lei nº 14.017/2020 – Lei Aldir Blanc.

1) Como o senhor recebeu a notícia de ser o Homenageado Nacional do 14º SMVC? O senhor tem um histórico com o festival. Como será receber essa homenagem?

Glênio Póvoas –  Fiquei muito emocionado, pois tenho uma relação afetiva com o Santa Maria Vídeo e Cinema, com as pessoas que o fazem e com aquelas que fui encontrando assim como com a cidade. Bebeto Badke, Cassol, Carolina Berger, Marcos Borba, Denise Copetti, Rondon de Castro, Sérgio de Assis Brasil, Álvaro de Carvalho Neto, Rafael Sieg, Paulo Teixeira, Marcos Borba, Therezinha de Jesus Pires Santos, Gilda May Cardoso, Valter Noal Filho, Luciano, Alexandra, Marilice.

Pelas minhas contas, fui seis vezes a Santa Maria e sempre me senti em casa tamanha a hospitalidade com que fui recebido. A primeira vez foi em outubro de 1991. Nesta época, trabalhava com o Grupo Tear e fomos apresentar na Caixa Preta o espetáculo Partituras. Ficamos hospedados no Hotel Jantsen. Depois participei das primeiras quatro edições do SMVC entre 2002 e 2005. Por fim, voltei em novembro de 2008, numa promoção do Cineclube Lanterninha Aurélio, da Cesma.

“Cerimônias e festa da Igreja em S. Maria”, filmado em 1909, por Eduardo Hirtz, uma descoberta de Glênio Povoas (foto Reprodução)

Eu queria muito receber o troféu Vento Norte desde a primeira edição do SMVC, quando ali fui lançar o meu livro “Vento Norte – História e Análise do filme de Salomão Scliar”. Uma sincronia incrível. Tive que esperar 20 anos.

O único senão é não receber a homenagem in loco no Theatro Treze de Maio e não poder voltar numa cidade onde tenho ainda tanto para descobrir. Mas na próxima edição presencial já está combinado que eu vou!

2) O senhor descobriu um dos filmes mais raros do Brasil e o documentário mais antigo em estado de conservação do Rio Grande do Sul que é “Cerimônias e festa da Igreja em S. Maria”, filmado em 1909, por Eduardo Hirtz. Como se deu esse processo de descoberta?

É um dos momentos mais gratificantes da minha história com a pesquisa. Trata-se de um fragmento de cerca de 4 minutos. Sim, é dos mais antigos preservados no Brasil, é quase o primeiro! E tem um valor muito simbólico para a cidade de Santa Maria e para o cinema brasileiro, pois a “segunda parte” registra um trem chegando à estação. É um tema mítico na história do cinema. “Cerimônias e festa da igreja em S. Maria” é a nossa chegada de trem.

Eu não acreditei quando fui visionar este material e, para minha surpresa, havia uma cartela com o título e o nome do cinegrafista, Eduardo Hirtz. Como eu já tinha feito pesquisa no Arquivo Histórico Municipal de Santa Maria (quando era na Casa de Cultura), tinha recolhido diversas informações sobre esta ida do Hirtz para filmar a sagração da igreja. O material faz parte do Arquivo da Cinegráfica Leopoldis-Som com o qual eu trabalhei durante dois anos e meio na consolidação da catalogação: é um arquivo gigantesco, maravilhoso.

Eu pretendo publicar um livro sobre o cinema em Santa Maria. É uma vontade antiga.

3) Esse ano, o festival tem como tema a “Memória”. Como o senhor avalia a questão da pesquisa, acervo e conservação da memória cinematográfica no Brasil e no Rio Grande do Sul?

É uma questão bem complexa. O recente incêndio na Cinemateca Brasileira (o quinto, sexto ou sétimo) reafirma que não é seguro no Brasil guardar os materiais ali. O melhor a fazer é uma guarda local. Não é aconselhado que os materiais fiquem num único local. Quanto mais dispersão melhor. Cada cidade deveria ter um arquivo de filmes (ou vários) e com cópias de segurança espalhadas para todos os lados. Muito precisa ser feito. Aliás, eu venho dizendo isso há 20, 30 anos.

Abertura do 14º Santa Maria Vídeo e Cinema

Quando – Nesta terça-feira (14), às 19h

Onde – No site www.smvc.com.br e pela página do festival no Facebook (https://www.facebook.com/SMVC.festivaldecinema)

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