Às urnas, todos! – por Orlando Fonseca
Estamos entendidos quanto ao fato de que Democracia não se esgota na urna. Acontece, porém, meus amigos, que neste Brasil de 2022, por razões tortas, a urna entrou no debate eleitoral.
Nosso país tem uma sina que vem desde o início da redemocratização, com o fim da ditadura militar em 1985. Primeiro, toda a mobilização pelas Diretas foi posta por terra, quando a nação inteira se unia em favor da escolha para presidente. Em decisão – histórica – do Congresso Nacional, que acabou calando a boca da urna, frustrou-se a expectativa geral e irrestrita, com a escolha do Colégio Eleitoral como forma de eleger o primeiro presidente, na retomada da democracia no Brasil. No entanto, Tancredo, como sabemos, acabou em uma urna funerária, e herdamos o Sarney para encaminhar nossa convalescença democrática. O resto é a história, a qual alguns de nós vivenciamos, outros a conhecem dos livros, e alguns deveriam estudar melhor.
Desde 1996, a urna ganhou a modernidade eletrônica. De lá para cá já elegemos 4 presidentes (dois reeleitos), governadores, prefeitos e todos os parlamentares das casas legislativas do país. Trata-se de um sistema elogiado por outros países, pois, além da rapidez das apurações, tem robustez – que tem sido aperfeiçoada ao longo dos anos – para evitar fraudes, as novas e, especialmente, as antigas geradas pela fragilidade do voto impresso. Entretanto, sem qualquer base, depois de anos e anos de urna falante e decisiva, vem um candidato botar desconfiança no sistema, gerando um desconforto geral. A única razão que me ocorre para esta diatribe é o fundamento de um descrédito nos valores democráticos, um flerte com o modelo ditatorial já experimentado em território nacional sem a eficácia propagada (já ultrapassado, também, no mundo em que vivemos) e, da mesma forma, um negacionismo recorrente. Portanto, as eleições deste ano assumem uma importância maior, tanto para sepultar o negacionismo, quanto para afirmar a eficiência das urnas eletrônicas (mais uma vez).
Entramos em uma semana crucial, decisiva para o que vai acontecer no próximo domingo (e nos próximos anos). A boca da urna não fala por todo mundo, mas compõe o que é fundamental em um processo democrático: a maioria. Se a voz do povo é a voz de Deus, a voz das urnas é um modo requintado de sua expressão. A urna é capaz de sintetizar o entendimento da vontade popular, algo não tão simples de se enquadrar e, mais: quantificar. Não adianta dizer que “o povo quer”, “o brasileiro aceita ou não aceita”. Sim, vivemos em uma democracia representativa, e no final das contas, carecemos da manifestação de eleitos para dar curso à nossa voz. Porém, é fundamental o escrutínio público, o discurso com o aval das urnas.
No regime democrático, o jogo político consiste na formação de hegemonia – ou de maioria. Ou seja, para ser vitoriosa uma interpretação da vontade popular, no sentido da promoção do bem comum, é preciso receber, no mínimo, 50% mais 1 dos votos em plenário. O mesmo que se espera de uma votação nas eleições majoritárias: o candidato, para ser vitorioso precisa, em primeiro ou segundo turno, 50% mais 1 dos votos válidos. Simples assim.
Ainda que estejamos vendo, nesta reta final, uma defesa do “voto útil” (o que também é parte das estratégias pela formação de hegemonia), já é de celebrar que não se esteja falando em “voto em branco” (inútil) como em outras ocasiões já vimos. A considerar as pesquisas, que são um retrato de um momento, não uma profecia tecnológica (por melhor que seja o método), a abstenção este ano tende a ser baixa. Há um esforço coletivo pela participação, dos jovens que se mobilizaram para tirar o seu título, e dos mais idosos conscientes de que o momento da república é de gravidade. É tempo, portanto, de refletir que a “Cidadania” é um projeto permanente: é preciso votar, mas sem descurar o acompanhamento da atividade parlamentar e dos atos do executivo. Assim se constrói uma comunidade justa e igualitária, para todos.
(*) Orlando Fonseca é professor titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura e Mestre em Literatura Brasileira. Foi Secretário de Cultura na Prefeitura de Santa Maria e Pró-Reitor de Graduação da UFSM. Escritor, tem vários livros publicados e prêmios literários, entre eles o Adolfo Aizen, da União Brasileira de Escritores, pela novela Da noite para o dia.
“Loucura é continuar fazendo a mesma coisa e esperar resultados diferentes”, frase atribuida ao tio Alberto. Cidadania é um conceito teorico que a grande maioria da população não se dá ao trabalho de praticar. Mesmo que ‘nação’, coisas de classe media alta. Acompanhar atividade parlamentar e dos atos do executivo poucos fazem. Por projeto ou incompetencia muita bobagem acontece nos parlamentos. Comunidade ‘justa’ e ‘igualitaria’ entra na mesma categoria que ‘bem comum’ ou ‘democracia’, não existe um unico conceito para nenhum deles. Cabe ainda a discussão teorica se uma sociedade ‘igualitaria’ pode ser ‘justa’, já sabendo que o ‘igualitario’ é sempre lorota, sempre há os mais iguais que os outros. De qualquer é uma frase ‘fofa’ do tipo ‘olha como sou legal’. Risivel.
Pesquisas tem problemas. Desconfiança leva as pessoas até a mentirem na resposta. Capta-se os brancos e nulos, mas não há como captar a abstenção. Abstenção baixa é, obvio, chute. Esforço ‘coletivo’ é até engraçado. São Paulo tem uma ‘candidatura coletiva’ (respeitando a legislação) ao Senado. PSTU, socialista obvio. Abstenção baixa é desejo de um certo grupo politico também, acham que lhes seria vantajoso. Conheço muitos idosos que majoritariamente não irão votar. Preocupação com o futuro, que futuro? Estão mais preocupados com o Ceifador. Jovens que se alistaram são todos de esquerda? Nenhum evangelico? E se os pais resolverem ir para a praia e não votar vão ficar sozinhos em casa somente para votar? Ou seja, não se sabe.
‘Voto util’ é eticamente discutivel. Nada surpreendente do pessoal ‘fazemos o diabo numa eleição’. Desrespeita os candidatos com menor intenção de voto. É um ‘não vote em mim pelas minhas propostas, vote em mim para se livrar do pleito porque é melhor para mim’. Não há como mudar a natureza do escorpião, gente que não tem vergonha na cara e vale nada continua como sempre foi. Não há supresas. Eleitos chamarão Calhairos para restabelecer um balcão de negocios no Congresso. Alás, na Argentina Cristina Kirchner está para ser condenada por corrupção e tenta aumentar o numero de ministros da Corte Suprema daquele pais.
No que chegamos na teoria politica de almanaque de farmácia. Os 50% (mais um) dos validos é, se não me engano, maioria simples. Democracia é representativa porque consultar a população todo o tempo para todo assunto é inviável. Urna pode mostrar também, óbvio, o que ‘o povo não quer’. Ou rejeição da alternativa em outros termos. A maioria é formada para um simulacro de consenso para que haja governabilidade. Não é ‘hegemonia’, conceito gramsciano de dominação de uma classe sobre outra. Não se escolhe um ditador temporario. Apesar de um grupo politico na historia recente ter comprado parlamentares para estabelecer hegemonia.
Existe o discurso teorico e a pratica. Nas ciencias duras quando a teoria falha é necessario outra teoria. Nas humanas, para vantagem de alguns, dobra-se a aposta. Eis o maior perigo para a ‘democracia’: as pessoas comparecem as urnas e as coisas para elas não ‘melhoram’. Contas para pagar muitas e beneficio nenhum. Alas, os 50% dos votos validos são algo como 35% na verdade. Ou seja, 65% dos eleitores (algo como isto) não votaram no(a) vencedor(a). Ao que o teorico responde ‘mas a lei…..’. Não interessa a lei. O establishment se protege, se o descontentamento aumentar, se manifestações significativas ocorrem, não existe teoria que segure no cargo quem está no poder. Dá-se um jeito. Mais ou menos o que aconteceu com Dilma, a humilde e capaz. Em algumas ocasiões lembrava os outros que era presidanta. Se é necessario lembrar os outros o cargo que ocupa é porque está a perigo.
Não existe desconforto geral com o assunto ‘urna eletronica’. No proximo pleito haverá 30% de votos nulos, brancos e abstenções como costume. ‘Negacionismo’, ‘terra plana’, etc. é coisa de gente que acredita que a população é trouxa. Alás, outra tática, os epitetos com finalidade politica. Ultima moda nos EUA é feministas vs. ‘incel’. O que é um ‘incel’? Alguem que passa a maior parte do tempo online e não consegue relacionamentos amorosos. Sucede os haters (discurso do odio aqui) e os trolls, também é especifico das feministas militantes.
Alguns grupos politicos usam a mentira, as teorias da conspiração, o assassinato de reputações, dados falsos, pesquisas obscuras e uma série de ‘truquezinhos’ para obter vantagens no imaginario popular. Largam uma mentira, por exemplo. Quem perder tempo desmentindo já está ‘engajado’ num debate que vai para lugar nenhum. Grupos politicos também tentam criar uma ‘realidade alternativa’ com ‘narrativas’. ‘O que voce esta vendo não é o que voce está vendo’. ‘Pertenço ao grupo que conhece a realidade porque é “especial”‘. Discurso e metodo funcionam com gente de baixa capacidade cognitiva.