Escolas + Verdes – por Marta Tocchetto
“Estes espaços coletivos influenciam não apenas na escola”
A educação ambiental precisa ser trabalhada não apenas na escola, mas na sociedade como um todo visando a mudança de comportamento, de atitudes e conceitos.
Escolas mais verdes é a meta a ser alcançada com o edital de chamamento público lançado recentemente, 14 de setembro de 2022, pelo Ministério do Meio Ambiente. O edital tem como objetivo a seleção de projetos para a implantação de biodigestores em escolas públicas do país. Diversas vezes, o tema foi trazido em meus artigos, assim como a importância da educação ambiental na prática, por meio de políticas públicas e do incentivo à implantação de hortas comunitárias, de unidades de compostagem e de biodigestão, dentre outras ações.
Estes espaços coletivos influenciam não apenas o comportamento dos membros da escola, mas a comunidade do entorno. Para o público interno são verdadeiros laboratórios que possibilitam o exercício e a vivência dos princípios da educação ambiental. Conteúdos de diversas disciplinas, em especial os voltadas à área de ciências, podem se interrelacionar com a confecção de hortas, gerenciamento de resíduos, mudanças climáticas, biodiversidade, reciclagem, dentre muitos outros temas e possibilidades.
Sempre que posso, afirmo: resíduo orgânico não é lixo. Resíduos orgânicos podem ser transformados pela ação de microrganismos em compostos para melhorar a fertilidade do solo. No caso da biodigestão, o processo permite além do tratamento do resíduo, o aproveitamento energético dos gases gerados, em especial do metano que possui alto poder calorífico e, que se emitido para a atmosfera, contribui de forma acentuada para as mudanças climáticas – 25 vezes mais do que o gás carbônico.
O aproveitamento do biogás, além das vantagens ambientais, se constitui em fonte de energia alternativa para substituir o gás de cozinha, derivado de petróleo. Em dezembro de 2021, instalei em minha casa um biodigestor, cuja capacidade de processamento é de até 4 kg de resíduos orgânicos por dia. Desde então, o fogão convencional está virando objeto de decoração. O fogareiro que utiliza o biogás e que veio com o biodigestor tem autonomia de 2 horas para cozimento. Tempo suficiente para a preparação de uma refeição, almoço ou jantar ou até mesmo, as duas.
Com outras adaptações, como instalação de placas solares e aquisição de panelas elétricas, a autossuficiência para a preparação das minhas refeições se ampliou. Experiência que pode e deve ser replicada e incentivada, não apenas para reduzir a dependência dos derivados de petróleo, mas para equacionar os graves problemas ambientais decorrentes da crescente geração de resíduos e dos custos para o seu gerenciamento.
A substituição dos combustíveis derivados de petróleo – energia fóssil e suja – vai ao encontro das mudanças necessárias para o enfrentamento do aquecimento global. As alterações climáticas afetam grandemente o regime de chuvas que, por sua vez, compromete a agricultura, a pecuária e a própria economia como um todo.
Mudar e ampliar a matriz energética para fontes mais limpas e, sobretudo, para aquelas que possibilitam a utilização de resíduos que possuem ou geram produtos com poder calorífico, deveriam fazer parte de políticas públicas a serem implantadas com mais rapidez e eficiência. A economia gerada pelo aumento de vida útil do botijão de GLP é um fator estimulante para a instalação de biodigestores, considerando o elevado preço desse combustível. Este não é o único fator positivo.
Escolas que possuem refeitórios, também hospitais, condomínios, mercados e restaurantes ainda podem desonerar os cofres públicos reduzindo significativamente o descarte de resíduos para a coleta pública. Muitos estabelecimentos destinam os restos de comida como lavagem para animais, o que se constitui em ilegalidade e riscos à saúde humana, quando não simplesmente, descartam de forma irregular nos contêineres da redondeza.
É preciso ainda considerar que em locais de periferia onde o recolhimento de resíduos é, muitas vezes, precário, os orgânicos acabam sendo destinados inadequadamente em terrenos vizinhos, sangas ou até mesmos nos próprios pátios. A biodigestão é uma alternativa importante para reduzir os riscos de doenças decorrentes da ausência de saneamento.
O biofertilizante é outro produto derivado do processo da reciclagem biológica do resíduo orgânico. A adição ao solo traz melhoria à fertilidade, essencial para plantios diversos, sejam hortas, pomares ou jardins. A prática associa-se à segurança nutricional, à substituição de fertilizantes químicos, à autonomia alimentar, à saúde, dentre outras inúmeras possibilidades de interação e integração da prática a outros temas.
Ao assistir com decepção, a câmara de vereadores de Santa Maria aprovar o dia da retidão como se vivêssemos na idade média em que o cinto de castidade faz parte do arsenal moralista e controlador, penso o quanto ganharia a cidade com o aproveitamento dos dias 7 de cada mês para serem planejadas e discutidas medidas, necessárias e urgentes, para o enfrentamento do maior problema ambiental da humanidade – as mudanças climáticas.
Ações insignificantes levam a distâncias e a lugares igualmente sem significância, às vezes a lugar nenhum. A câmara de vereadores, em vez de um trabalho em prol da melhoria das condições à comunidade que a elegeu, apequena-se legislando em direção a uma falsa moralidade preconceituosa e retrógrada. Em tempos de eleição, conhecer as propostas dos candidatos para os diversos cargos em relação ao meio ambiente é mais do que necessário, é essencial. Não há vida, tampouco economia, sem meio ambiente saudável.
A educação ambiental precisa ser trabalhada, incentivada e praticada não apenas na escola, mas na sociedade como um todo visando mudanças de comportamento, de atitudes e de conceitos. É com transformação que mudaremos a base de produção e de consumo em prol da sustentabilidade de fato que, hoje, encontra-se mais perto da utopia do que de um objetivo possível de ser alcançado.
(*) Marta Tocchetto é Professora Titular aposentada do Departamento de Química da UFSM. É Doutora em Engenharia, na área de Ciência dos Materiais. Foi responsável pela implantação da Coleta Seletiva Solidária na UFSM e ganhadora do Prêmio Pioneiras da Ecologia 2017, concedido pela Assembleia Legislativa gaúcha. Marta Tocchetto, que também é palestrante em diversos eventos nacionais e internacionais, escreve neste espaço às terças-feiras.
Grande maioria da população não tem salario de 15 mil por mes. Conseguir financiamento para biodigestor ou placas solares. Estas ultimas, sem as baterias, custam algo como 20 mil (para começo de conversa). Grande maioria do que se ve por ai não tem armazenamento de energia. Ou seja, no inverno e durante a noite consomem da concessionaria. Que tem que sustentar a infraestrutura. Não, o Estado não pode financiar para todos porque a conta não fecha. Produção das placas solares é um processo nada limpo. Baterias também não são produzidas ‘ecologicamente’. Ambas, terminadas a vida util, produzem residuos consideraveis, toxicos em alguns casos. No mais, padrão Santa Maria, muita gente dando palpite, muitos comites, coletivos, reuniões, eventos, fotos para divulgação. Na hora de colocar a mão na massa, fazer algo util, ninguem aparece. De boas intenções dizem que o inferno está cheio, urb está cheio de palpites e palpiteiros. Mas é só um palpite. Kuakuakuakua!
Esquerda apropriou-se do problema ‘mudanças climaticas’. ‘Para resolver temos que acabar com o capitalismo’. Ou ‘é necessario repensar a maneira de produzir e consumir’. Ou qualquer outra parafrase ou eufemismo. Ao fazer isto dificultou a solução. Simples assim.
Hummmm…. ‘ conscientizar a população sobre a necessidade e os benefícios de se manter uma conduta proba, reta e honesta tanto na área pessoal como na profissional, conservando assim, a integridade do cidadão brasileiro’. Obviamente não tem nada a ver com cinto de castidade. Esquerda cultiva outros valores, o dos outros não prestam. Inclusive ‘ater-se aos fatos’ (para deixar barato). Trago verdades: grande maioria não vai dar a minima para o tal dia e se fosse ‘dia das mudanças climaticas’ (que se não foi criado vai acabar sendo) iria acontecer a mesma coisa. Falar mal do Casarão é chutar cachorro morto. O que pode levar a proposta de ‘vilipendio de cadaver de animal’ como crime.