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Sobre o tempo – por Orlando Fonseca

Uma mistura sobre Copa, Eleição (e posse, claro) e, por certo, o Natal

Já sabemos todos – ou deveríamos estar acostumados com isso – que, em ano eleitoral com Copa do Mundo, o tempo sofre uma metamorfose a qual altera nossa percepção de sua passagem. Produz uma atrofia tal que mal lembramos dos meses que antecederam o primeiro turno, que em edições anteriores embolavam com os jogos das seleções. Quando a gente vê, já é hora de enfeitar a casa para o Natal, comprar os presentes, viver as Boas Festas e já é o Ano Novo.

Neste 2022, em razão de uma Copa fora de época, a coisa só não ficou pior porque o Brasil já está fora dos jogos finais, e o hexa foi adiado. Neste ano também tem gente que acha que as eleições ainda não tiveram o seu término, e o seu patriotismo de camiseta verde-amarelo, no entanto, não alcança os resultados em gramados do Qatar.

O que é mais surpreendente ainda porque, convenhamos, também seria uma coisa para se indignar contra o mundo. Eu se fosse essa gente – quedeusmelivre – duvidava até mesmo da chegada do Papai Noel, e me recusaria a celebrar as festas natalinas, enquanto não se deliberasse sobre o resultado da eleição presidencial e sobre as injustiças contra a seleção canarinho no campeonato mundial.

Ora, onde já se viu deixar que só o Tite decida sobre a escalação do time? E o Messi, com toda aquela gana de jogar e vencer, o que faz na seleção argentina que não vem jogar ao lado dos nossos? E as decisões do VAR que não nos favorecem, porque não são auditáveis? Na cobrança dos pênaltis, deveriam deixar que a gente fosse lá e batesse – batesse no goleiro, pra ele não ser besta de agarrar a bola chutada pelos nossos.

Enfim, uma injustiça que não faz justiça ao nosso passado de Pelés e Jairzinhos; que falta de respeito para com as glórias do nosso uniforme verde-amarelo-azul anil. E agora o Natal. Acho melhor não entrar nesta, e considerar que a vida é diferente, quer dizer, a vida é muito pior, palavras do filósofo da MPB, Belchior, que ano passado morreu, mas este ano não morre, nem no próximo que já vai nascer.

A verdade  é que, gostando ou não do resultado, o Brasil já está fora mesmo, e só nos resta admirar a garra e a disciplina de seleções com – como dizem os cronistas esportivos – camisetas pesadas. A nossa com o seu verde-amarelismo desbotado pelo uso indevido, já não pesa quase nada nos gramados internacionais; perdeu o peso e a importância que metia medo nos adversários.

A audácia da Croácia – para rimar e para enfatizar – em se impor e seguir em frente, enquanto nossos craques saem do campo aos prantos. A verdade é que, fora destas quatro linhas, gostando ou não, há um presidente eleito dentro das regras do processo eleitoral. Essa é a nossa democracia, claudicante, mas que vai se afirmando depois de duas décadas de um regime de exceção que ainda se manifesta em suas sequelas pouco republicanas.

As instituições, malgrado suas imperfeições, estão sólidas; haverá a diplomação e a posse do novo governo, que terá o seu ciclo de quatro anos para provar a que veio. Não com opiniões, mas com ações dentro de um projeto que o habilite. Se assim não for, consulta-se mais uma vez o VAR das urnas eletrônicas e ele pode ser substituído. Não se pode atrofiar o tempo para fazer com que as coisas se submetam, simplesmente, às nossas vontades individuais. É assim no futebol, é assim na vida: a vontade é coletiva, e desse modo se exerce a sua verdade.

Deixemos de coisas, como disse o Bardo, cuidemos da vida/ Senão chega a morte/ Ou coisa parecida. Não nos deixemos abater pelas derrotas no futebol; da mesma forma, não serve para nada deixarmos de acreditar nos valores democráticos em razão de nossos interesses particulares, ou ideologias.

A ideia de Nação passa muito acima da má-fé, ou das escolhas erradas da comissão técnica da CBF, ou mesmo da FIFA. Perdermos a oportunidade – que passa rápido – de vivenciarmos o tempo das boas festas, da reunião fraterna e celebrar a vida é apressar a morte, ou coisa parecida. Fazê-la melhor – porque ao natural ela pode ser pior – é uma virtude que se alimenta da alegria de todos, quando cada um se esforça para não azedar a do outro, na forma do que se chama amizade, ou técnica de se driblar o tempo.

(*) Orlando Fonseca é professor titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura e Mestre em Literatura Brasileira. Foi Secretário de Cultura na Prefeitura de Santa Maria e Pró-Reitor de Graduação da UFSM. Escritor, tem vários livros publicados e prêmios literários, entre eles o Adolfo Aizen, da União Brasileira de Escritores, pela novela Da noite para o dia.

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10 Comentários

  1. Os Vermelhos irão passar uma lei dizendo quando é permitido o uso da camisa da seleção? Que uso indevido? Vermelhos acham que a humanidade lhes deve satisfação. Se a vontade coletiva tivesse algum valor o referendo do estatuto do desarmamento teria sido respeitado. Foi dessa forma que foi ‘exercida a verdade’. A vida ao natural pode ser melhor também, mas é outra discussão, Álea também tem seu voto. Vontade coletiva é como a opinião publica que se confunde com a opinião publicada. Vontade publica não tem porta-vozes natos, pode ser fabricada ou fingida. E se a economia for para o barro? Nesta hora o imbecil metafisico critica o ‘torcer contra’. Não se sabe. Alea é o unico voto que conta. De boas intenções o inferno esta cheio. Alas, o diabo é comunista. Vermelho Chifrudo vive torturando a população.

  2. Projetos no Brasil são mimimi de burocratas do Estado. Necessitam ser feitos por gente capacitada e para sairem do papel gente ainda mais capacitada. Não é o caso obvio. E se o barco começar a fazer agua bate o panico e coelhos começam a pular da cartola. Inflação esta pouco abaixo de 7% ao ano, PIB deve crescer algo entre 2,5% e 3% este ano e o desemprego esta perto de 8,5%. Simples assim. Propaganda agora é que ‘esta tudo errado’, velho truque da ‘herança maldita’. Não que esteja tudo certo, obvio, mas a engambelação acontece.

  3. Todo governo eleito tem direito a uma oposição. Da mesma natureza que patrocina quando não esta no poder. No Brasil é complicado, depende do que esta a venda. Alas, com Mensalão e Petrolão há doutores em sequelas pouco republicanas no governo. Alas, diziam antigamente que se uma coisa acontecesse uma vez talvez não se repetisse; porém se acontecesse de novo era certa que aconteceria a terceira vez.

  4. O que leva a apreciação da midia, tradicional e internética. ‘Menino Ney’ ainda é a salvação da lavoura. Tite Mimizento (jornalistas adoram mimizentos, vide o Mandetta) é um profissional serio, que teve seus erros ‘mas quem não tem’ e é cotado ‘para treinar um grande time na Europa’. O ‘melhor tecnico brasileiro em atividade’. Desclassificação ‘foi azar’, ‘por um detalhe’, se a bola não bate na perna do Marquinhos ‘é 100% garantido que o goleiro pegaria’. ‘Não é hora de caça as bruxas’. ‘Não é hora de apontar culpados’. Quem elege ajuda a sustentar. Chutes é a epecialidade deste povo, bom frisar. ‘França vai chegar desfalcada talvez caia na primeira fase’. ‘Mbappe, arquininimigo do Neymarketing, é bobo, chato e feio. Ou seja, a opinião vale mais pelo que diz sobre quem emite do que a suposta informação que carrega. Alas, quem pensam que são para ‘não pode dizer isto’, ‘não pode falar aquilo’? Vão se ferrar!

  5. Urnas eletronicas um dia serão auditaveis. Discussão não é de agora, vem desde 2001 pelo menos. Memoria curta é truque velho (assim como é velho guardar cartas na manga). Requião andava com um modelo de urna com impressora. Mostrou para o presidente do TSE na época, Nelson Jobim. Mostrou para Brizola que aprovou, lembrou o caso do RJ em 82. Basta consultar as noticias do Senado para saber disto. VAR é auditavel, auditoria não muda o resultado. CBF já divulgou os audios da tomada de decisão do VAR. FIFA decidiu vetar a divulgação para que a competição não tumultuasse. Roma locuta, causa finita. Que vem do Direito Canonico, dos Papas.

  6. Tite e suas ovelhinhas (Gabriel Jesus, Daniel Alves, Rafinha, etc.). Machucam-se varios laterais, olha-se para o banco e quem está lá? Daniel Alves. Não entra quando encrespa a situação, improvisa-se. No momento crucial é necessario experiencia dentro de campo. Onde está? Teoricamente no banco. Casemiro inumeras vezes sozinho na frente da zaga. Uma hora iria cansar. Lado direito do ataque teve lampejos no jogo contra a Coreia. E só. Facilitava a marcação de Vini Jr. A certo ponto dos 7 gols marcados pela Seleção 5 tinham interferencia do ponta-esquerda. Que no ultimo jogo passou a bola para Neymarketing que, ao inves de devolver, resolveu girar para chutar e desperdiçar oportunidade. Alas, Paqueta foi adiantado para ‘servir’ Neymarketing. Lado direito do ataque não funciona? Saca-se o ponta esquerda que necessita três para marcar. Nivela-se por baixo (comunista!). Dai surge a diferença entre um Bola de Ouro e um outro jogador que pode, eventualmente, sacar um coelho da cartola. Mostra a diferença de carater também, o algoz foi consolar o menino, o tecnico virou as costas e fugiu para o vestiario.

  7. Papai Noel é obviamente comunista. Veste-se de vermelho. É chefe de Estado no Polo Norte onde controla os meios de produção e explora a mão de obra dos duendes. Desloca-se numa viatura de luxo. Doa presentes ‘que ninguém precisa pagar’. Kuakuakuakua!

  8. Impressão minha ou os Vermelhos ‘torciam’ contra a Seleção por conta da associação? Os deboches com a derrota das redes sociais vêm da esquerda então?

  9. Eleições não terem termino não é novidade. Tanto que a tatica (além dos tropeços nas proprias pernas do eleito) foi não deixar governar utilizando o judiciário. Que até inquerito de oficio abriu. Que abandonou a isonomia. Por conta das convicções pessoais dos ‘ministros’. De ‘vanguarda iluminista’ a ‘Perdeu mané’. Manter o personagem sempre é dificil. Erudição de araque é só para ‘fazer balaca’.

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