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A praça encantada – por Marcelo Arigony

Sonho do cronista e a conexão com o real: “como era boa a vida na praça”

Na noite passada eu estava numa praça encantada. Sim, a praça era mágica. Naquele lugar eu era criança novamente. Tinha cabelos. Meus pais estavam lá, ainda jovens. Minhas irmãs estavam lá, menores do que eu, brincando contentes numa pracinha de brinquedos simples que havia no centro da praça.

Havia muitas árvores e bancos de praça (!), e muitas pessoas nos bancos – daquela praça mágica – onde todos conversavam alegremente, sobre coisas boas, como que por encanto.  Alguns tomavam mate, outros tinham uma garrafinha d’água em mãos.

Eu brincava com meus amigos. A gente corria e pulava. Subia nos brinquedos, descia no escorregador. Um pequeno caiu e machucou o braço. Chorou um pouco, e recebeu o imediato carinho da mãe, que de longe tudo cuidava com os olhos. Logo em seguida já corria e saltitava novamente com o grupo.

Em volta havia pipoqueiros, vendedores de cachorros-quentes, de picolés, e de sorvetes, que custavam bem pouco. O pai de uma criança causou um alvoroço quando chamou toda a gurizada e pagou uma rodada de picolé. Que festa! Quanta alegria por quase nada.

Eu estava maravilhado. Aí acordei! Era um sonho. 

Fiquei muito triste porque não aproveitei a oportunidade para falar com meu pai. Que falta ele faz! Mas fiquei feliz por lembrar de tantas coisas simples que precisamos resgatar. 

Fiquei pensando naquelas crianças da praça encantada: brancas, negras, ruivas, e tinha um indiozinho, filho de uma senhora que vendia cestas ali perto. Todos brincando juntos, felizes, inocentes, imunes aos problemas que criamos para nós mesmos na vida adulta.

A praça mostra que a gente precisa de muito pouco pra ser feliz. Ali não tem lugar para ódio, preconceito e ressentimento. Não lembrava mais disso. Como era boa a vida na praça.

E fiquei me perguntando onde a gente perdeu isso. Quando e por que a gente perde a mágica da praça?

(*) Marcelo Mendes Arigony é titular da 2ª Delegacia de Polícia Civil em Santa Maria, professor de Direito Penal na Ulbra/SM e Doutor em Administração pela UFSM. Ele escreve no site às quartas-feiras.

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