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Sobre responsabilidade e um maior respeito à vida do outro – Marilice Daronco

Já dizia uma frase muito antiga, que “para tudo há conserto, menos a morte”. E como alguém que acaba de perder um bom amigo e um colega de trabalho em um acidente absurdo, me sinto no dever e no direito de escrever um pouco sobre isso.

Conheci o Rafael Zancan, que faleceu aos 30 anos neste sábado, véspera de Dia das Mães, na Eny Calçados, onde por sinal, seus amigos e colegas de trabalho estão desolados. Mas os fatos em comum das nossas famílias, ambas de Ivorá, já renderam boas conversas (e risadas). Se nós nos conhecemos há poucos anos, nossos antepassados já tinham aprontado bastante juntos pela Quarta Colônia.

O Rafa era um sujeito cheio de afeto. Foi o melhor pai que a Helena poderia ter nos dias em que ela sobreviveu após o nascimento.

Quando nos trazia feijão recém colhido lá de Ivorá, estava sempre preocupado que a gente não carregasse muito peso, mesmo motivo pelo qual fazia questão de abrir as grades da loja todos os dias. Gostava de conversar com o Rafa porque ele era um cara simples, zoador, principalmente quando o time dele, o Internacional, levava a melhor nos jogos, e sempre preocupado com quem estava por perto dele. Paixão maior que o Inter, para ele, só mesmo a família e a Bianca.

Perdemos um sujeito incrível num acidente absurdo. Ele não conseguiu desviar de uma vaca solta na ERS-348, em Val de Serra, quando ele voltava de motocicleta da casa dos pais no domingo, dia 30 de abril.

Infelizmente, eu li os comentários que algumas pessoas fizeram em uma matéria sobre o acidente quando o Diário o noticiou, e lamento que algumas delas tenham falhado no projeto de serem humanas! Espero que um dia elas tenham a oportunidade de serem melhores. Aproveito isso para lembrar que por mais que estejamos atrás de telas de computadores e celulares estamos falando de seres humanos, de pessoas, com sentimentos, com dores, muitas vezes em momentos dolorosos que suas famílias estão passando. Duas gotas de prudência e um corte generoso nos achismos tendem a fazer bem.

Todas as manhãs saio de Camobi em direção ao Centro para ir ao trabalho. Os cavalos soltos na estrada, inclusive na rodovia, são uma constante. E sempre penso: que perigo! Na metade do ano passado, o carro em que eu estava na carona chegou a rodar na pista quando tentamos não atropelar um cachorro que atravessou a Faixa Nova.

Quando se diz que “para tudo há conserto, menos a morte” eu acho que também é preciso refletir o que será feito para evitar novas mortes. A sensação é que, às vezes, os acidentes se banalizaram e a dor vem forte quando aperta o peito da gente porque se vai alguém querido. Ter um animal, seja ele qual for, exige responsabilidades. E é sobre isso que queria escrever nesse momento de dor, sobre a importância de fazermos a nossa parte para evitar que acidentes como o que matou o Rafa continuem fazendo com que mães tenham de sepultar seus filhos no Dia das Mães e em qualquer outro dia do ano. Para a morte do Rafa, obviamente não há conserto, mas se para todo o resto há, quem sabe possamos ser mais responsáveis em relação à vida dos demais? Vidas são realmente um sopro, então, que possamos tratá-las como a dádiva que são.

*Marilice Daronco é jornalista, coordenadora de Comunicação e Marketing da Eny Calçados e Fundação Eny.

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3 Comentários

  1. Ótima reflexão… Vi os comentários e fiquei muito triste 😭 pela maldade de algumas pessoas que se escondem atrás de uma tela…

    Vá em paz meu amigo 🙏

  2. Falhei no projeto de ‘ser humano’. Ainda bem, porque ‘ser humano’ é o que aparenta ser, melhor ser outra coisa. Animais na pista no meio rural não é algo incomum. Principalmente num final de domingo, afinal o pessoal ‘de fora’ também merece descanso semanal. Alas, existe uma placa de transito para alertar da possibilidade de animais na pista. É amarela e traz o desenho de um bovino. As pessoas imediatamente atingidas pelo fato serão, obviamente, mais emocionais. As mais distantes mais racionais (também óbvio). Nada errado com isto. Tambem não é ‘falta de empatia’ (só mais uma forma de desqualificar os que não concordam com quem está ‘falando’). Nesta linha questiona-se a racionalidade de tentar salvar a vida de um cachorro e arriscar causar acidente onde existe potencial de perda de vidas humanas. Alas, quem diz que o cusco tinha dono? Poderia ser de rua como muitos na urb.

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