Carmen Dolores, pseudônimo de Emília Moncorvo Bandeira de Melo (1852-1910) – por Elen Biguelini
Uma autora feminista, defensora da educação e do divórcio, mas não sufragista
Emília Moncorvo Bandeira de Melo nasceu no Rio de Janeiro em 11 de março de 1852, filha de Carlos Honório de Figueiredo e Emilia Dulce Moncorvo de Figueiredo (HELLMANN, 109). Embora não tenhamos encontrado dados sobre a família, um de seus irmãos era médico, enquanto o outro figura frequentemente em jornais do Rio de Janeiro, (HELLMANN, 109), o que demonstra uma posição social elevada na sociedade, ainda que possivelmente não considerada aristocrata.
A autora não teve uma educação formal, o que era comum para as meninas deste período (embora a educação formal feminina começasse a aumentar neste período, quando comparado ao início do século). Aprendeu labores femininos, mas também o latim (HELLMANN, 113). O ensino desta língua sacra era comum, visto ser a utilizada nas igrejas. Mas por meio desta, teve acesso a autores de filosofia e outros clássicos, que permitiram uma educação diferente das de outras meninas de sua época. Nota-se que o acesso a essas obras não era irrestrito para as mulheres, o que indica que tinha a permissão paterna para a leitura, algo comum entre diversas autoras da história.
Casou aos 15 anos, em 23 de dezembro de 1867 com o advogado Jeronymo Bandeira de Mello (1838 – 1886), com quem teve seis filhos (HELLMANN, 117), sendo que uma destas, Cecília Moncorvo Bandeira de Mello (1870-1948), também foi escritora. Faleceu aos 59 anos em agosto de 1910.
Ela foi uma escritora naturalista e contista brasileira, que assinou como Carmen Dolores como forma de proteger sua obra. Segundo uma de suas crônicas escrevia apenas esporadicamente, mas após o falecimento de seu marido a necessidade financeira a levou a escrever. Entre os anos de 1905 e 1910, sua morte, figurou como contista frequente no periódico “O País”.
Sua obra é marcante pela defesa das mulheres. Entre outras coisas, participou em debates a favor da educação feminina e em defesa do divórcio, mas não foi uma sufragista brasileira, ou seja, não pediu o voto feminino.
Sua obra figura um humor crítico e irônico, e suas crônicas descrevem bem a situação da cidade do Rio de Janeiro. Sua obra mais famosa se intitula “A Luta” e foi publicada postumamente em 1911, após ter aparecido em folhetim dois anos antes.
Publicou: Gradações (contos, 1897); Um Drama na Roça (romance, prefaciado por Coelho Neto, 1907), Rio (1908), A Esvoaçar da Idéia (crônica, 1910), A Luta (1911), Lendas Brasileiras (contos infantis, 1914), Almas Complexas (Contos, 1939). E diversas crônicas em periódicos cariocas.
Obra publicada recentemente:
Dolores, Carmem. “Rimas Completas”. Ilha de Santa Catarina Brazil : Editora Mulheres, 2014.
Conto: “A semana”. Encontrado em: https://www.vozdaliteratura.com/post/carmen-dolores-a-semana
Referencias
Lopes de Oliveira, Américo. “Escritoras brasileiras, galegas e portuguesas”. s.l. Tipografia Silva Pereira, 1983, 23.
Magaldi, Ana Maria Bandeira de Mello. “A atuação da cronista Carmen Dolores em debates por direitos das mulheres brasileiras nos primeiros tempos republicanos”. In Revista Estudos Ibero Americanos. PUC RS , v47. N31. (2021). Encontrado em https://revistaseletronicas.pucrs.br/index.php/iberoamericana/article/view/40378
Santos, Júlia Melo dos. “Releitura da estereotipação da linguagem explícita de Carmen Dolores como linguagem masculina”. In: I SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE CRÍTICA FEMINISTA E AUTORIA FEMININA – a, 2022. Disponível em: https://www.doity.com.br/anais/coloquioliteraturafeminina/trabalho/222547. Acesso em: 03/06/2023 às 07:47
Tese de doutorado
Hellmann, Risolete Maria. “Carmen Dolores, escritora e cronista: uma intelectual femininsta da Belle Époque”: Tese (doutorado) – Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Comunicação e Expressão, Programa de Pós-Graduação em Literatura, Florianópolis, 2015. Acesso via https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/158424
(*) Elen Biguelini é doutora em História (Universidade de Coimbra, 2017) e Mestre em Estudos Feministas (Universidade de Coimbra, 2012), tendo como foco a pesquisa na história das mulheres e da autoria feminina durante o século XIX. Ela escreve semanalmente aos domingos, no Site.
ATENÇÃO
1) Sua opinião é importante. Opine! Mas, atenção: respeite as opiniões dos outros, quaisquer que sejam.
2) Fique no tema proposto pelo post, e argumente em torno dele.
3) Ofensas são terminantemente proibidas. Inclusive em relação aos autores do texto comentado, o que inclui o editor.
4) Não se utilize de letras maiúsculas (CAIXA ALTA). No mundo virtual, isso é grito. E grito não é argumento. Nunca.
5) Não esqueça: você tem responsabilidade legal pelo que escrever. Mesmo anônimo (o que o editor aceita), seu IP é identificado. E, portanto, uma ordem JUDICIAL pode obrigar o editor a divulgá-lo. Assim, comentários considerados inadequados serão vetados.
OBSERVAÇÃO FINAL:
A CP & S Comunicações Ltda é a proprietária do site. É uma empresa privada. Não é, portanto, concessão pública e, assim, tem direito legal e absoluto para aceitar ou rejeitar comentários.