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MEIO AMBIENTE. O que deveria ser “pop” é a conservação da natureza, afirma pesquisadora

Ana Paula Rovedder e alguns dos desafios que afetam a questão ambiental

Ana Paula também coordena o Núcleo de Estudos e Pesquisas em Recuperação de Áreas Degradadas (Foto Divulgação/Neprade/UFSM)

Por Fritz R. Nunes / Da Assessoria de Imprensa da Seção Sindical dos Docentes da UFSM (Sedufsm)

Em 2019, ainda no primeiro ano do governo de Jair Bolsonaro, a professora do departamento de Ciências Florestais da UFSM, Ana Paula Rovedder, já antevia o desastre que se sucederia na área ambiental do Brasil. O passar do tempo apenas explicitou, sem disfarce, o negacionismo científico nas suas diversas formas. Agora, já passado meio ano de governo Lula, quais as expectativas?

Para a docente, que coordena o Núcleo de Estudos e Pesquisas em Recuperação de Áreas Degradadas (Neprade/UFSM), os ventos mudaram, com ações que valorizam, por exemplo, os setores de fiscalização do governo, medidas efetivas contra o extermínio de povos indígenas, como os Ianomâmis. Entretanto, a pesquisadora, que em 2021 recebeu o prêmio “O futuro da Terra”, promovido pelo Jornal do Comércio (POA) e Fundação de Amparo à Pesquisa do RS (Fapergs), tem claro que nem tudo são flores.

Respondendo a uma questão da entrevista, ela assinala que “Precisamos lembrar que temos o Congresso Nacional mais retrógrado de que se tem notícia na História do Brasil, pautando temas e discursos homofóbicos, misóginos e, no campo ambiental, fortalecendo pautas de retrocesso”. E acrescenta: “O Executivo terá que lidar com a necessidade de harmonizar interesses ideológicos, econômicos e políticos e manter as propostas e promessas ambientais que pautaram o discurso da campanha eleitoral e levaram Marina Silva a retomar o cargo de Ministra”, ressalta Ana Paula.

Ao analisar a situação complexa pela qual passamos, não apenas no país, mas em geral, no planeta, com desmatamento, destruição de rios, poluição de mares e oceanos, a pesquisadora, que integra o Conselho da Sociedade Brasileira de Restauração Ecológica (SOBRE) e é uma das fundadoras da  Rede Sul de Restauração Ecológica, vislumbra um caminho: “Acredito que é possível frear a sanha de modelos econômicos produtivistas e concentradores de renda, desde que haja pressão da sociedade e políticos sérios, comprometidos com a população e não com o capital, seja financeiro, industrial, do agronegócio ou de multinacionais”.

Ana Paula Rovedder também rebate o discurso (e prática) de setores que pregam a desregulamentação, que afirmam que as leis ambientais entravam o desenvolvimento. Para ela, mesmo entre agricultores, “já há um grupo expressivo que entende que agricultura e conservação da natureza não são antagônicas e, mais pragmaticamente, sabem que a comercialização de suas safras depende de conciliar a produção com a conservação.”

E, para os adoradores da tecnologia no campo, de que basta ampliá-la para colher sucesso, a pesquisadora alerta: “(…) por mais tecnologia que possamos produzir, ainda necessitamos dos recursos naturais e dos serviços ecossistêmicos para termos água, solo, polinização, mitigação das emergências climáticas, etc. Portanto, o popular jargão ‘o agro é pop’ está errado. Quem é, ou deveria ser pop, é a conservação e restauração da Natureza”.

Acompanhe a seguir a íntegra da entrevista.

Sedufsm– Professora, em 2019, a sra. concedeu uma entrevista para o site da Sedufsm em que apontava as posturas destrutivas do governo Bolsonaro em relação aos temas ambientais. Na sua avaliação, sem o ex-presidente e, também, sem seus ministros que falavam em “passar a boiada” na legislação que busca proteger o meio ambiente, e com meio ano de governo Lula, já é possível observar avanços comparados aos quatro anos anteriores?

Ana Paula Rovedder– Sim, é possível perceber uma mudança de posicionamento político sobre a questão ambiental. O entendimento do governo Lula é de que a questão ambiental é fundamental para o protagonismo brasileiro na política internacional. E está correto. No campo interno essa mudança pode ser observada pela revalorização de órgãos como o Ibama que foram desmontados e desacreditados pelo discurso anti-ambiental do governo Bolsonaro, na resposta contundente ao garimpo nas terras indígenas Yanomamis e ao genocídio perpetrado contra essa etnia nos últimos anos.

 No entanto, internamente, precisamos lembrar que temos o congresso nacional mais retrógrado de que se tem notícia na História do Brasil, pautando temas e discursos homofóbicos, misóginos e, no campo ambiental, fortalecendo pautas de retrocesso, a exemplo do chamado Pacote da Destruição, uma série de MPs que alteram a lei ambiental de 2012, popularmente conhecida como Código Florestal, a MP 1150/22 que tenta adiar ainda mais o término de avaliação do Cadastro Ambiental Rural (e, consequentemente, da obrigatoriedade de adequação ambiental) e que recebeu “jabutis” que tentam alterar a Lei da Mata Atlântica, entre outros. Essas MPs estão passando em ritmo acelerado no Congresso. No Senado, o Pacote do Veneno tenta alterar a legislação e favorecer a liberação de substâncias cancerígenas e mutagênicas e também está com tramitação acelerada.

A pergunta que deveríamos fazer é: porque tanta agilidade para tramitações claramente antagônicas à pauta ambiental? A quem interessa? 

O Executivo terá que lidar com a necessidade de harmonizar interesses ideológicos, econômicos e políticos e manter as propostas e promessas ambientais que pautaram o discurso da campanha eleitoral e levaram Marina Silva a retomar o cargo de Ministra.

O cenário é desfavorável, mas, no campo ambiental, raras foram as vezes em que tivemos consenso e apoio amplo da sociedade.

Sedufsm– No seu modo de ver, até que ponto modelos que levam ao desmatamento, poluição e morte de rios e cursos d’água, geram situações críticas como o aumento da temperatura e o aquecimento global? 

Ana Paula Rovedder– Ciclos de resfriamento e aquecimento terrestre são naturais. O que estamos vivendo é uma intensificação de um ciclo de aquecimento, cujo marco inicial é a revolução industrial. Desde então, nós emitimos gases de efeito estufa em níveis nunca antes experimentados pelo planeta. Como consequência, temos as mudanças climáticas globais e, atualmente, de forma muito nítida, a intensificação das emergências climáticas. Esse cenário é real e veio para ficar. Então, nós, temos sim um ponto de partida no modelo de sociedade industrializada, baseada nos combustíveis fósseis. Já no século 21, a chamada sociedade de consumo intensifica a industrialização e o uso de combustíveis fósseis. À medida em que a sociedade global vê a capacidade de consumo como ideal de felicidade, passamos a exigir mais dos recursos naturais, aumentando nossas áreas de produção e extração de minérios e a queima de combustíveis fósseis. A supressão das áreas naturais libera para a atmosfera os compostos orgânicos que a natureza levou milhares de anos para estocar na forma de cadeias de carbono estabilizadas no solo e na biomassa vegetal. Esses gases somam-se aos liberados pela indústria e combustíveis, e assim temos um processo contínuo de retroalimentação do efeito estufa.

Obviamente que, se aumentamos a supressão de áreas naturais, temos um processo de redução das áreas úmidas, como banhados, nascentes, mangues e matas ciliares. Esse efeito, aliado à  maior exposição do solo (que ocorre pela troca de cobertura  de vegetação  nativa por agricultura, por exemplo), reduz a recarga de aquíferos e intensifica os processos de evapotranspiração, o que  acelera o ciclo da água, fazendo com que ele passe menos tempo nos reservatórios naturais como o subsolo e os mananciais hídricos. Ou seja, o desmatamento, a ameaça aos recursos hídricos, os extremos climáticos, são consequências de um modelo econômico que encontrará seu final nos limites da natureza do planeta.

Imaginem como um círculo vicioso de aumento de emissões de GEE (Gases de Efeito Estufa), intensificação do aquecimento global, perda de serviços ecossistêmicos (como o armazenamento de água e a estabilização de Carbono no solo). O produto final é desastroso para a Humanidade…”

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Um Comentário

  1. Piada. ‘[…] já antevia o desastre que se sucederia na área ambiental do Brasil.’ Em seguida ‘[…] os ventos mudaram, com ações que valorizam, por exemplo, os setores de fiscalização do governo, medidas efetivas contra o extermínio de povos indígenas, como os Ianomâmis’. Ou seja, mudaram de assunto, amarram area ambiental com a causa indigena. Desmatamento recorde no cerrado Primeiro trimestre deste ano, o desmatamento na Amazonia foi o segundo pior desde 2008. Total zero, a opinião de uma docente da UFSM localmente publicada é totalmente irrelevante

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