O verbo esquecer – por Bianca Zasso
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Frank é um senhorzinho simpático, que mora sozinho numa bela casa e que está apresentando os primeiros sintomas do mal de Alzheimer. O tempo de Frank é um futuro onde robôs são vendidos como se fossem eletrodomésticos. Já Alice é uma professora renomada de linguística, mãe de três filhos e apaixonada pelo marido. Aos 50 anos, o mal de Alzheimer surge em sua vida de maneira precoce e abrupta. O tempo de Alice é o nosso, com pessoas que prezam mais os aplicativos de celulares que os momentos entre amigos e família. Frank e Alice são os protagonistas de dois filmes diferentes em seus gêneros mas iguais em sua temática: a doença mais temida da atualidade.
Frank e o robô, estreia em longas-metragens do diretor Jake Schreier, tem leveza e usa a ficção-científica como pano de fundo. Preocupado com os lapsos de memória e a vida desregrada do pai, o filho mais velho de Frank resolve comprar um robô para tomar dele. Inicialmente irritado com a situação de ser vigiado e até alimentado por uma máquina, Frank descobre que solícito robô pode ser um parceiro e tanto para seus roubos. Sim, prezados leitores, o frágil Frank passou a vida entre uma sonegação e outra, além de ser exemplar na tarefa de roubar joias. Os esquecimentos constantes do protagonista e os alertas de seu cuidador biônico fazem as cenas mais divertidas do filme.
O robô vira um parceiro e com isso ganha humanidade. Pelo menos é assim que Frank enxerga a situação. Em seu mundo confuso, onde as memórias desaparecem, é o cuidado do robô que mantém acessa sua paixão. Ilícita, mas quem disse que Frank é o mocinho? Está mais para anti-herói, um tipo que sempre conquista a simpatia do público. A atuação na medida do veterano Frank Langella e as participações de Susan Sarandon e Liv Tyler já são um convite para assistir Frank e o robô, completado pela ótima fotografia que ressalta a natureza que envolve a casa de Frank. É tocante vê-lo caminhar pela floresta ao lado do robô. Dois amigos, acima de qualquer tecnologia.
Para sempre Alice, produção que deu o Oscar de melhor atriz para Julianne Moore, nos leva para outro nível. As situações engraçadas que as falhas de memória de Frank causam não faz parte da trama dirigida por Richard Glatzer. Alice é uma mulher de palavras. Doutora em linguística, a razão de sua vida está em estudar e ensinar vocábulos, organizar letras, entender as linguagens. É bonita, bem casada e tem dois filhos certinhos e uma caçula rebelde, pelo menos na sua concepção de rebeldia.
Um dia, as palavras lhe faltam. No outro, ela esquece o caminho de casa. No outro, a receita de pudim de pão. No outro, o nome da filha. E o caminho segue, cada dia com um pedaço a menos. A batalha agora é manter Alice viva não na questão do corpo, mas da alma. Suas lembranças estão partindo, por mais que ela tente segurá-las. A atuação de Julianne Moore é intensa e inteligente e mereceu todos os prêmios que arrecadou.
Apesar da protagonista soberba, Para sempre Alice destaca o personagem família em meio ao turbilhão da doença de Alzheimer. O marido companheiro não suporta a situação e os filhos tido como preferidos mostram o que realmente importa: um apoia de longe, pois sua carreira na medicina está em ascensão enquanto a filha está mais preocupada com seu tratamento para engravidar e sua rotina de advogada de sucesso. Sobrou a ovelha negra, que deixa de lado o sonho de ser atriz para cuidar da mãe. Sem reclamar. Sem desculpas. Com carinho. Não é lição de moral. É a conclusão de muitas histórias reais.
Frank e o robô e Para sempre Alice merecem ser assistidos não só por suas qualidades técnicas e seus roteiros bem acabados, mas por suas histórias. Elas nos lembram que enquanto músculos e medidas menores conseguimos com força de vontade e acompanhamento médico. Mas um comprimido ou exercício que recupere nossas lembranças ainda não são realidade. Talvez um dia sejam. Enquanto isso, precisamos lidar com a presença do verbo esquecer com as forças disponíveis.
Frank e o robô (Robot & Frank)
Ano: 2012
Direção: Jake Schreier
Para sempre Alice (Still Alice)
Ano: 2014
Direção: Richard Glatzer.
Disponíveis em DVD, Blu-Ray e na plataforma Netflix
Gostei da crônica,vou assistir hoje,assim a gente assite bosn filmes.é a minha primeira vez ,agora vou ler sempre,