De Aécio a Aécio, a democracia brasileira resiste – por Leonardo da Rocha Botega
“Apesar da retórica do ódio, o golpismo começou a ser desmontado” no Brasil
Na semana que passou, o Supremo Tribunal Federal condenou os três primeiros réus que participaram da tentativa de golpe de Estado perpetrada no dia 08 de janeiro. Aécio Lúcio Costa, o primeiro julgado, e Mateus Lima de Carvalho Lázaro, o terceiro, foram condenados a dezessete anos de prisão cada um. Tiago de Assis foi condenado a quatorze anos. Mais de 1,3 mil réus ainda aguardam julgamento.
Tais julgamentos tendem a ser tão emblemáticos como os três primeiros, afinal o que está sendo julgado não são atos individuais e isolados, mas sim, como bem lembraram alguns dos ministros do STF, a tradição golpista que acompanha a História do Brasil. O Período Imperial foi marcado pelo golpe da maioridade em 1840, uma tentativa de restaurar o poder centralizado diante do caos político e das revoltas na regência.
A República Brasileira foi inaugurada por um golpe militar (liderado por um “amigo” do imperador D. Pedro II) que o povo, nas palavras de Aristides Lobo, “bestializado”, assistiu sem entender muito bem o que acontecia. Ao longo do Século XX, tivemos ainda inúmeros golpes e tentativas de golpes. Os golpismos, por diferentes razões e objetivos, estiveram presentes em 1930, 1932, 1935, 1937, 1938, 1945, 1954, 1955, 1961, 1964 e 1968.
A Nova República, inaugurada em 1985 com a eleição indireta de Tancredo Neves, parecia ter dado fim ao “golpismo” no Brasil. As fortes palavras de Ulisses Guimarães na proclamação da Constituição de 1988 demonstravam essa intenção. Essa foi a única das muitas Cartas Magnas brasileiras a ser entregue à sociedade com a frase “Temos ódio e nojo da Ditadura”. Ninguém imaginava que, quase três décadas depois, justamente o neto do democrata Tancredo Neves iniciaria um movimento que colocaria a democracia brasileira em cheque.
Ao não reconhecer a derrota para a candidata à reeleição Dilma Rousseff, o então senador Aécio Neves rompeu com o que havia sido o grande ganho da Nova República. Desde 1989, ao longo de seis processos eleitorais, todos os candidatos derrotados reconheceram e aceitaram publicamente os resultados das urnas. Em direção oposta, Aécio reviveu o chavão do golpismo udenista utilizado contra Getúlio Vargas e JK: “Se for candidato não pode vencer, se vencer não pode assumir, se assumir não pode governar”.
Em aliança com setores empresariais e militares, com velhos gangsters da política brasileira, com a nata da mídia empresarial, com grupos neofascistas e com uma facção aparelhista do judiciário, Aécio Neves iniciou um processo que esticou a corda da democracia. Mal ele sabia que, no ilegítimo golpe de 2016, alguns de seus parceiros proclamavam que Aécio seria “o primeiro a ser comido”. E assim o foi!
De candidato a presidente derrotado por uma pequena margem, foi transformado em um insignificante político que destruiu o próprio partido com seu ego. Destruiu também a polarização PT-PSDB que desde 1994 marcava o sistema político brasileiro. Uma polarização que, apesar dos embates ruidosos, nunca representou uma ameaça à democracia brasileira. No lugar dessa, surgiu uma outra polarização. Agora marcada por aqueles que defendem a democracia contra aqueles que a ameaçam.
Ao longo de quase noves anos, desde a não aceitação dos resultados eleitorais pelo neto de um dos maiores democratas que esse país já teve, a corda da democracia foi ainda mais esticada inúmeras vezes. Os sete de setembros dos últimos anos, diferentemente do deste ano, foram marcados pela aura e pelo medo do golpismo. A mesma aura que marcou o pós-eleição de 2022, com os acampamentos golpistas, os atos terroristas de dezembro e as tramas palacianas de civis e fardados.
Felizmente, a corda da democracia não arrebentou. Apesar da retórica do ódio, da fábrica de desinformação e da covardia medíocre daqueles que seguem tentando esconder seus negócios ilícitos, através do atiçamento de sua matilha contra inimigos inventados, o golpismo começou a ser desmontado. E começou justamente pela condenação de um outro golpista chamado Aécio. Uma demonstração que de Aécio à Aécio, a democracia brasileira segue resistente!
(*) Leonardo da Rocha Botega, que escreve regularmente no site, é formado em História e mestre em Integração Latino-Americana pela UFSM, Doutor em História pela UFRGS e Professor do Colégio Politécnico da UFSM. É também autor do livro “Quando a independência faz a união: Brasil, Argentina e a Questão Cubana (1959-1964).
‘[…] o golpismo começou a ser desmontado’. Isto fica entre a ingenuidade e a falta de noção. Obviamente existe um manobra orquestrada contra o Cavalismo. Obviamente existe uma manobra orquestrada contra o que alguns chamam de ‘lavajatismo’. No mais ‘[…] retórica do ódio, da fábrica de desinformação e da covardia medíocre daqueles que seguem tentando esconder seus negócios ilícitos, através do atiçamento de sua matilha […]’. Simples assim.
No que se chega ao ‘golpismo’. Alguns se iludiram com a possibilidade de uma ruptura, alguns se deram mal com a historia. Perder contato com a realidade é facil. Golpe num domingo em BSB no mes de janeiro. Só dando risada. Sobrou para as FFAA. Numa facção porque teoricamente poderia dar o golpe (não havia o menor clima), noutra porque teoricamente poderia dar o golpe e não deu. Alguns imbecis tentam evitar a associação com um grupo ou outro e criticam por outros motivos. Mesmo sem saber como funcionam ou quais as restrições legais. Desde o emprego até localização de unidades. Obvio que isto passa. Na hora do perrengue, quando o pessoal estiver na m. vão ser eles, os policiais militares ou os bombeiros que irão aparecer para quebrar o galho. Não serão jornalistas e nem membros da comunidade juridica. Estes estarão esfregando a barriga na mesa no ar condicionado.
‘ No lugar dessa, surgiu uma outra polarização. Agora marcada por aqueles que defendem a democracia contra aqueles que a ameaçam.’ Como disse Molusco com L., abstemio, honesto e famigerado dirigente petista, conceito de democracia é ‘relativo’. Para os vermelhos é ‘nós mandamos e voces obedecem, sem chiar’. Para o establishmente é ‘nós vivemos a tripa forra e voces trabalham para pagar a conta’.
‘[…] a polarização PT-PSDB que desde 1994 marcava o sistema político brasileiro.’ Polarização para ingles ver. Aécio descende das oligarquias politicas que parasitam BSB. Teve a ficha ‘lavada’ por conta de sentença. Pagou publicidade até no Youtube. Que adianta em nada, a pecha, todos sabem do que, não perde. Não está sozinho. Politicamente ainda tem seu nicho. Mas os tucanos se perderam pelo caminho, perderam relevancia. A cereja do bolo foi Doria.
No que se chega as penas das condenações. Caso Kiss, cujo processo se arrasta, condenou 4 pessoas no primeiro juri. Duas pegaram 18 anos de cadeia. Para 242 mortos e 636 feridos. Não existe crime de pensamento no ordenamento juridico, Talvez no livro ‘1984’. É facil concluir que as penas foram exageradas. Logo exemplos. Ou talvez estivessem tentando evitar os ‘noves fora’, condenam a 17 e acabam cumprindo 4.
Não bastasse as lagostas e vinhos finos, o judiciario agora lançou o ‘I Prêmio Nacional de Jornalismo do Poder Judiciário’. Premiaria o ‘em reconhecimento ao trabalho da imprensa brasileira em defesa do Estado Democrático de Direito e da cidadania’. Rosa Weber afirmou que ‘o jornalismo independente, livre e profissional é o maior e o melhor aliado no combate à desinformação, ao discurso de ódio e à intolerância’. Ou seja, nosso dinheiro vai ser gasto em publicidade positiva. Qual outra corte suprema no mundo distribui premios e tem selo de aprovação de canais de midia? Alas, STF tem até Tik Tok.
Alguns imbecis também afirmam algo como ‘na minha opinião aquilo (a depredação) foi feito para deflagrar um processo’. Primeira asneira, achar que ‘opinião’ é uma palavra que impede o debate. Segunda asneira, é teoria da conspiração. Sim, porque se tivessem encontrado o menor indicio (e nada impede que fabriquem algo no futuro) mais gente estaria no banco dos reus.
Cabe lembrar que o ultimo ministro a ser nomeado para o STF é coautor de um livro intitulado ‘Lawfare: uma introdução’. Da definição ianque de lawfare, ‘uso de sistemas legais e instituições para prejudicar/deslegitimar um oponente ou para impedir alguém de usufruir os seus direitos legais’.
Não acompanhei e não li os processos. Porém alguma coisa sempre ‘vaza’ é inevitavel. Barroso teria dito que não se pune alguém ‘para fazer exemplo’. ‘Vacinou-se’, foi exatamente o que aconteceu. Carmem Lucia teria dito que a prova da democracia é que ‘os advogados poderiam ir a plenario e ofender os ministros’. Algum causidico imbecil local teria concordado com ela. Sim, porque com uma carteira da Ordem, prerrogativas e o peso da OAB por tras, num ambiente controlado, é facil ‘ofender’ ministros(as). Alguem na sustentação oral afirmou ‘Vossas Excelencias são odiadas’,ao que Xandão teria dito que o odio pelo STF é de uma minoria. Confundem-se, ou escondem-se, atras da instituição. Que existia muito antes deles todos e vai continuar existindo depois que sairem. O que não impede que piore.
Julgamento tem apelo em certas bolhas. Para a grande massa é ruido de fundo. Lembrando que até pouco tempo gente juntava santinho do chão para ver em quem votar. Não fazem mais porque os santinhos terminaram.
Hummm…. Disclaimer primeiro. Quem errou que seja punido. Que seja obedecido o devido processo legal (algo discutivel no caso). Não se quebra as regras de um sistema para ‘proteger’ o mesmo. Algo sutil para alguns entenderem, o sistema já estaria fragmentado no ato de ‘proteção’. Simples assim.